Mais que alguns pontos percentuais a mais para Lula, outros a menos para Bolsonaro e a estreia chocha de Sergio Moro, qual é o significado essencial da rodada de pesquisas que fechou 2021?
É simples sintetizar: a vitória do ex-presidente tornou-se – ao menos neste momento – quase que uma inescapável fatalidade, ou melhor, algo como um ananke dos gregos, a indicar uma necessidade inevitável.
Isso, claro, não quer dizer que vá ganhar as eleições: há uma campanha longa e certamente suja pela frente, que exige prudência e todo o tipo de cuidado, até porque é uma disputa vital, tamanho é o dano que a continuidade do que vivemos representa.
Mas é, como se disse, um estado de alma do país diante do que, apesar de todos os ataques e desgastes que sofreu, Lula seguiu a representar para a população.
Ontem, a Folha destaca que nunca, em qualquer e suas candidaturas, o ex-presidente reuniu tanta preferência no segmento mais pobre dos brasileiros: 56% .
Mas não é só isso.
Deu para sentir, na mídia, como o conservadorismo reagiu com perplexidade e desânimo aos resultados das principais pesquisas, Ipec e Datafolha. Alguns, nitidamente, jogando ou demonstrando estar próximos de jogar a toalha, curvando-se ao inevitável e quase pedindo a Lula moderação na vitória.
Nem todos o farão e seguirão bovinamente Jair Bolsonaro ou Sergio Moro, se este levar adiante seu delírio vaidoso e autoritário.
Mas é à parcela perplexa que, pressentindo o momento, Lula oferece a aliança com Alckmin como penhor de sua disposição de fazer um governo de diálogo e de reconciliação do país, embora as limitações de nossa crônica política insistam em encarar como uma jogada eleitoral e não como um movimento político, que fechou São Paulo a Moro, onde não lhe resta nada senão o desgastado João Doria.
Como não entendem que, agora, o ex-presidente se prepara apara avançar nas classes médias, segmento que mais lhe resiste, porque é, na prática, a alternativa a Jair Bolsonaro, algo que Moro pensou que fosse significar, mas não significou, por ter entrado em sua panela, o que se mostrou mortal para todos que andaram por lá.
Não importa que muitos não entendam, mas quase todos o sentirão.
O plebiscito Lula x Bolsonaro, perfeitamente compreendido pelos mais pobres, chegará na classe média como o leite que ferve inunda sua crosta de nata.