Não penso que Jair Bolsonaro seja um idiota mal-informado, sem noção da realidade.
Sim, ele é um tipo imbecil, grosseiro, estúpido, desumano e insensível, mas certamente é dono de um tino eleitoral que o levou ao lugar que, desafortunadamente para os brasileiros, ocupa agora.
E é, também com certeza, muito bem alimentado por pesquisas e análises que a máquina de informações militar-palaciana lhe provê.
Por isso, convém prestar atenção nos rumos que toma seu discurso, ainda que tatibitati, recheado de palavrões e metáforas, se é que chegam isso, de cunho sexual.
E há dois pontos que têm sido frequentes em seu discurso – além, claro, da exploração da religião e da ideia de que ele, e só ele, é o ungido por Deus para governar o Brasil.
O primeiro deles é o “tirar o corpo fora” das responsabilidades sobre a crise econômica. Não promete solução, dá-se absolvição pelos preços em alta e o poder aquisitivo em forte baixa. Diz que a culpa é do “pessoal do fica em casa”, da guerra da Ucrânia, “dos governos do PT” (que terminaram há seis anos!) e que a inflação “vai continuar por uma tempo”.
Isto é, procura desvencilhar-se de um quadro que não resolverá e que, calcula, pode até piorar. Tenta absolver-se das culpas sobre isso, que sabe que será o centro do discurso da campanha do PT.
Como qualquer garoto covarde, acha que o “não fui eu” o deixa fora das cobranças por uma situação desastrosa.
O segundo ponto que voltou a ser recorrente nas falas presidenciais é aquilo em que ele insiste em possíveis ameaças de fraude eleitoral e na parcialidade do TSE, mais especificamente dos ministros Alexandre de Morais, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, respectivamente futuro, atual e ex-presidentes da Corte Eleitoral.
E, neste caso, é o movimento de preparação de uma inevitável tentativa de “melar” a eleição, questionando a sua legitimidade e, em consequência, os seus resultados ou, mesmo antes, as suas tendências.
São, ambas, “pregação para convertidos”, discursos voltados apenas para seus seguidores: o primeiro como contra-argumento frente à realidade; o segundo para criar clima de desconfiança e medo.
Foram usados no segundo semestre do ano passado e não se refletiram em melhoria dos seus índices de popularidade. Retomá-los agora é sinal de que sente-se mais ameaçado eleitoralmente.
O que exige da oposição mais cabeça fria e prudência para não lhe das mais combustível para o ódio e o terror que movimentam sua máquina.