O gesto de Maia

Em política, o gesto está mais próximo da intenção do que a distância que, para o poeta, separa um do outro.

O fato de Rodrigo Maia deixar a presidência da sessão da Câmara – não apenas na votação de um destaque, como registra Lauro Jardim, na na do próprio texto principal – é mais do que simbólico de suas objeções às cláusulas draconianas do projeto original de Sérgio Moro, o qual desidratou, sistematicamente, nos mais de seis meses de tramitação no grupo de trabalho que criou para analisá-lo.

Foi uma reação ao atropelo executado por Moro ao forçar o rompimento do acordo entre Câmara e Senado para que a questão da prisão em 2a. instância fosse analisada na Câmara, em primeiro lugar, em vez de ser feito isso no Senado com um projeto de lei que tem mais facilidades em aprovar a matéria.

Fez, por isso, questão que aparecesse, expresso, o seu voto.

Maia está se afastando, discreta e sistematicamente, do governo e basta observar o esfriamento de suas relações com Paulo Guedes. Ainda ontem, garantiu que “enquanto estiver” na Presidência da Câmara não colocará em votação uma das propostas do “Posto Ipiranga”, a de remover as cotas de contratação de pessoas com deficiência.

Maia vai aproveitar o esfacelamento da tropa bolsonarista – e o medo da adesão a isso, nos demais partidos, diante do espetáculo de queima de reputações que ele detona – para fortalecer-se como o comandante do “PC”, o partido do Centrão.

Com Moro votaram o PSL (bivaristas e aliancistas, juntos), o Novo, o Cidadania (ex-PPS), o Podemos e quase totalidade do PSDB de João Doria.

Este é o desenho que está se formando na Câmara.

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4 respostas

  1. O presidente do mercado já aprovou o que quis: extinção da CLT, da aposentadoria, precarização da saúde, educação e do social… agora é chutar cachorro louco apoiado pela rede golpista !

  2. Quem dera…acredito mais se tratar da prisão do sogro, q engoliu, mas não digeriu.
    Não deixa d ser bom p nós, o povo, onde, aqui, terra Brasil, aliados nunca se formam p cumprir seus juramentos pelos votos recebidos, mas por surgimento d inimigos em comum em seus trâmites particulares.
    Q a oposição saiba tirar proveito d tamanho “aliado” momentâneo…..MegaPower

  3. Maia tem faro de raposa política, ele é do tipo que não se arrisca, mas que também não perde qualquer oportunidade antes mesmo que ela apareça completamente. E também é bom que os parlamentares saibam o que está a acontecer no paraíso dourado tomado como exemplo pelo corretor Guedes. O senado do Chile, reconhecendo a urgência de certas demandas das manifestações populares, demandas que não podem esperar pelos trâmites da nova constituinte a ser instalada, acaba de dar 50% de aumento na aposentadoria de quem tem mais de 80 anos e 30% para os demais, sendo que em 2022 todos os aposentados receberão 50%. Também aprovaram custear as aposentadorias com a grana dos fundos de pensão. Foi para o espaço a reforma previdenciária que o Guedes, em sua juventude, ajudou o Augusto Pinochet a implementar com tanto gosto.

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