Há alguns anos, o vídeo “A revolução não será televisionada” se tornou um sucesso clandestino de internet. Digo clandestino porque as tvs abertas brasileiras nunca o exibiram.
Nem a a TV pública federal, que eu me lembre, o exibiu, ou pelo menos não lhe deu destaque, o que é, para mim, mais uma prova da falência e covardia da comunicação governamental.
Falência e covardia que hoje estão cobrando um preço altíssimo.
O preço é o risco de um golpe de Estado.
Um golpe camuflado, como todos os golpes, de cores institucionais.
Enquanto Dilma participa de encontros importantes no exterior, a imprensa brasileira continua bombardeando o governo, o PT, Lula, Dirceu, e preparando o terreno para um eventual impeachment.
Vários leitores falam em “alarmismo” da minha parte.
Como assim, alarmismo?
Pegue a mídia deste sábado: está inteiramente dedicada ao impeachment.
O editorial da Folha tenta chancelar a farsa política de que doação eleitoral para um candidato é propina, para outro, amor. Essa é uma das pedras de toque do golpe.
Ainda na Folha, há uma coluna do Demetrio Magnoli falando que o impeachment é (sim, acredite, ele fala isso) a melhor saída para Lula.
Magnoli praticamente dá o governo como encerrado.
Na coluna Painel, principal seção de política da Folha, vemos a seguinte notinha ameaçadora:
Ora, se as marchas golpistas foram grandes quando não se viam chances de impeachment, agora que as lacunas já foram preenchidas (TCU, TSE, Lava Jato), não me surpreenderia se forem ainda maiores.
Sem contar que a mídia brasileira novamente se encarregará de organizá-las, com ajuda do governo de São Paulo, que chegou até mesmo a liberar as catracas do metrô.
Não podemos esquecer: o golpe de 64 foi precedido por enormes marchas, patrocinadas exatamente pelos mesmos jornais de hoje, e com apoio também de alguns governadores: Ademar de Barros, em São Paulo; Lacerda, no Rio.
As marchas atuais, a meu ver, são piores que as de 64, porque são muito mais agressivas, e o poder da mídia, hoje, é muito superior ao dos anos 60, quando sequer havia TV.
Na semana passada, a capa da Época, que pertence à Globo, traz o rosto estilizado de Sergio Moro, sob o título demolidor: “Nada vai pará-lo”, e diz que Moro fará uma “revolução”. A desta semana, traz os rostos da “guarda do palácio” de Dilma: Renan, Cunha e Temer.
O Palácio parece tratar o tema com a soberba de sempre. Dilma reage com uma entrevista à… Folha, ou seja, empoderando o mesmo jornal que lidera as articulações para o impeachment.
A imagem que abre o post está fixa na seção política da Folha há vários meses.
Nada contra a presidenta dar entrevista à Folha, e sim contra ela dar entrevista apenas à Folha.
Por que a presidenta não participa de programas na TV Brasil, não dá entrevistas ao Brasil de Fato, à Carta Capital, à Carta Maior, à qualquer órgão de comunicação que não faça parte da conspiração golpista?
Há alguns meses, Dilma deu entrevista a… Globo. Mais especificamente, a Jô Soares, às três horas da manhã.
Em seguida, Jô Soares foi ameaçado de morte, e a própria Globo não fez nenhum editorial, nenhuma campanha, em defesa de seu apresentador.
A impressão é que Jô Soares entrevistou uma guerrilheira clandestina, e não a presidenta eleita com 54 milhões de votos.
A questão da soberania popular foi abafada pelas pesquisas, dominadas, mais uma vez, pela mídia: Datafolha (Folha) e Ibope (Globo).
Que tipo de pergunta se faz numa pesquisa?
Apenas por amor ao debate, digamos que tivéssemos a seguinte situação.
Digamos que, num outro universo, o Fantástico reproduzisse aquele vídeo em que um senador aparece cambaleante numa choperia de Copacabana, distribuindo notas de cem reais aos garçons. Nos dias seguintes, aparecessem matérias investigativas sobre a apreensão do helicóptero com meia tonelada de pasta de cocaína, pertencente a um outro senador, amigo daquele mesmo senador bêbado do Fantástico.
Finalizando a semana, imaginemos que o mesmo senador continuasse sob alvo da imprensa, através de matérias sobre a construção de um aeroporto em terras de sua família.
Aí, na semana seguinte, um respeitado instituto de pesquisa fizesse perguntas aos brasileiros sobre o mesmo senador.
Como estaria a sua popularidade?
Todas as acusações que se faziam, durante a campanha de 2014, contra o PT e Dilma, continuaram sendo feitas após as eleições.
As acusações contra o PSDB, não. Sumiram do noticiário, como que por mágica.
Quando falamos em golpismo e campanha contra o governo, não quer dizer, em absoluto, que não vemos os erros políticos do governo e do PT.
Também não significa que fechamos os olhos à corrupção.
Claro que houve corrupção no governo e nas estatais. Sempre houve. A diferença é que antes, em função do forte aparelhamento do Estado pela direita que governava o país, não havia investigação.
Hoje há investigação, mas o problema é que a mesma direita continua aparelhando o Estado, e só quer investigar um lado, ou pior, manipula as investigações para produzir um circo midiático.
Não se vence a corrupção com um golpe de Estado! Nem tampouco através de investigações políticas, prisões ilegais, e conspirações midiático-judiciais!
Até para isso serviria uma comunicação mais democrática: para que a população ajudasse o governo a monitorar de perto a gestão dos grandes projetos de infra-estrutura, onde, naturalmente, se concentram os grandes desvios de dinheiro público, pela razão lógica e simples de que é aí onde está o grosso do dinheiro.
Dilma está lá na Rússia, dando entrevistas à TV estatal russa.
Mas não dá entrevistas à TV estatal brasileira.
Segundo o republicanismo do PT, a presidenta, quando no exterior, pode dar entrevista para quem quiser. Aqui no Brasil, só para Globo e Folha.
Os assessores de imprensa de quase todos os ministros são jornalistas licenciados da Folha, Veja, Globo, Estadão, etc. Ou então casados com jornalistas dessas empresas.
Um colega nosso cumprimentou a entrevista de Dilma à Folha dizendo que, se ela fizesse de outra maneira, estaria pregando para “convertidos”.
Que convertidos?
Estaria se referindo a seus 54 milhões de eleitores?
Ué, se houvesse 54 milhões de “convertidos”, a popularidade de Dilma seria minimamente parecida a seu eleitorado, não?
Ah, tá. Esqueci que o eleitorado de Dilma não conta. É como se nunca tivesse existido.
Os 54 milhões de brasileiros que votaram em Dilma desapareceram. Emigraram para outro país.
Refugiaram-se em outra dimensão.
Dilma tem de governar apenas para os eleitores do PSDB e dar entrevistas apenas para o público tucano?
Televisão aberta, nem pensar, né? Na TV aberta, só Eduardo Cunha, que falará ao país no dia 17 de julho, ocupando mais essa lacuna deixada pela presidenta.
Se Dilma falar na TV correria o risco de atingir o eleitorado petista, esses malditos 54 milhões de eleitores, o que não pode acontecer, né?
11 respostas
LAVA JATO
PF quer investigar repasses do governo de MG a empresas de Youssef
Entidade quer um novo pedido de prorrogação do inquérito que investiga o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) por suposta ligação com o esquema de corrupção da Petrobras
A Polícia Federal enviou ao STF (Supremo Tribunal Federal) um pedido para investigar ordens bancárias eventualmente emitidas pelo governo de Minas Gerais em 2010, em valores superiores a R$ 500 mil, que tenham tido como beneficiárias empresas controladas pelo doleiro Alberto Youssef.
A linha de investigação é utilizada pela PF como uma das justificativas para um novo pedido de prorrogação do inquérito que investiga o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) por suposta ligação com o esquema de corrupção da Petrobras. A PF, no entanto, não apresenta detalhes dessas supostas transações financeiras.
Anastasia assumiu o governo de Minas em abril de 2010, quando o senador Aécio Neves (PSDB) deixou o cargo para disputar a vaga no Senado. O prazo para investigação de Anastasia terminou no dia 29 de junho.
A solicitação da PF é analisada pelo ministro Teori Zavascki, relator dos inquéritos que apuram o envolvimento de políticos no esquema de corrupção da Petrobras.
O delegado Milton Fornazari Junior argumentou que “ainda restam pendentes a completa análise de todo o material apreendido no âmbito da Operação Lava Jato”, como acordos de delação premiada, o que exige mais prazo para a apuração.
A defesa do senador já ingressou no STF com pedido para que seja arquivado o inquérito sem que as investigações sejam aprofundadas.
Um entregador de dinheiro controlado pelo doleiro Alberto Youssef, o “Careca”, disse no ano passado à força tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba (PR), que no ano de 2010 entregou uma mala com dinheiro a mando de Youssef em Belo Horizonte (MG). Ao ver uma fotografia do senador tucano, que lhe foi apresentada pela PF, o agente disse que a pessoa da foto era ‘muito parecida’ com ‘a que recebeu a mala enviada por Youssef’.
Por outro lado, Youssef, em depoimento, afirmou que “nunca disse para entregar valores para Anastasia especificamente”. Também negou conhecer o senador.
Segundo pessoas que acompanham as investigações, Careca teria permanecido em silêncio durante novo depoimento do caso.
Fonte:http://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/pf-quer-investigar-repasses-do-governo-de-mg-a-empresas-de-youssef-1.1068149
Sempre lembrando que Anasatasia nada mais é do que a cria política e pau mandado de Aécio.
Mais um ótimo texto, caro Jornalista Miguel do Rosário. Chega a dar canseira a atitude pusilânime do governo federal, ante aos ataques diários da mídia e do esquemão golpista montado no Brasil pela direita. Concordo com sua análise. Acho que se houver a consolidação do golpe, que já está em curso, todos nós, especialmente os de baixo, pagaremos um altíssimo preço pela covardia e omissão do PT no governo federal. Como manter um ministro da justiça despreparado como o Zé Cardoso, num momento de crise como este? Como lidar com tanto amadorismo assim com os problemas relacionados ao congresso nacional, ao STF, à operação Lava Jato e à essa mídia totalmente vendida e canalha, serviçal dos piores interesses?
Em relação à TV comercial, lembro que a Dilma está PROIBIDA de falar lá. E caso ela ouse descumprir a proibição, a punição será um panelaço tão estrondoso que a desmoralizará de vez. O Cunha pode, porque atualmente está trabalhando em prol do país.
A Dilma deve falar no horário nobre das redes de tevê.
Não importa o panelaços dos coxinhas ricos, das varandas gourmets.
Pois falará para 54 milhões de seus eleitores e demais que foram enganados pelas mentiras da Globo.
O importante é fazer o contraponto à esse massacre midiático da mídia de direita.
Há dois Brutus nas costas da Dilma: Cunha e Renan.
Outra coisa: O golpe não será televisionado, já está sendo.
E mais escancaradamente desde junho de 2013, quando os fascistas receberam passe livre em SP.
O governo não é só mudo. É surdo e cego.
O PT levou os inimigos pra dentro do palácio. Ou este governo é muito ingênuo ou está de sacanagem com o povo. Basta ver as escolhas erradas de Lula/Dilma para altos postos da república. Esse tal “republicanismo” do PT vai levar a todos os lideres do partido pra cadeia, e não importa se justa ou injustamente.
“Falência e covardia da comunicação governamental, que hoje estão cobrando um preço altíssimo. O preço é o risco de um golpe de Estado.”
Prezado Miguel do Rosário,
Não subestime a força do inimigo, nem superestime a força do que você chama de comunicação governamental.
Você pensa mesmo que tudo se resolveria se a Dilma desse entrevista para a TV Brasil ou para a Carta Capital? Isso é uma piada.
As últimas entrevistas, citadas por você, para o Jô Soares e para a Folha, foram excelentes e deram um enorme resultado para a Dilma.
Querer que a Dilma volte a fazer pronunciamentos anunciados na TV aberta é o mesmo que querer ressuscitar os paneleiros e animar os coxinhas.
Acho que você e o Fernando Brito estão errados ao apontar, sistematicamente, os teclados para os nossos próprios pés. Olhe para a direita. Veja o tamanho do inimigo. Aponte o seu teclado para o verdadeiro inimigo do povo brasileiro.
Outro detalhe: não sejamos ingênuos a ponto de pensar que a Dilma desconhece a situação. É notório que o governo está administrando a campanha do golpe, tanto no Congresso quanto na imprensa. O que se diz é que alimentar o assunto neste momento não ajuda o governo. O próprio Lula teria dito que ainda não é o momento do confronto. E não é mesmo.
Penso dessa maneira. Imaginar que o Governo está paralisado e não dá o troco,e ingenuidade. Ele conhece tudo o que está ocorrendo. Creio que está aguardando o momento certo, adequado de reverter essa situação. Mas, que o excesso de informações que recebemos, diariamente, de todas as direções, é preocupante.´Temos que concluir, integralmente, os ajustes econômicos. Aguardar as investigações que o Ministro Teori está realizando. Só asism, conheceremos quem será REALMENTE investigado. Enquanto isso, nossos bilhões de neurônios vão diminuindo ou tendo mais trabalho para se multiplicar, novamente.
Concordo que os blogueiros,tv Brasil e cia mereceriam entrevistas da Presidenta com muito mais frequência,agora Carta Capital com o republicanismo e coerência jornalistica dela fazendo uma capa super agressiva contra José Dirceu dias atrás,tem é que ir para os quintos dos infernos mesmo.
Agora a presidenta escapando do golpe do TCU,TSE e cia,deveria cortar já de cara verbas de publicidade da Globo,Bandeirantes,RedeTV,Jovem Pan e cia,no máximo esse ano ainda e esses oligárquicos ultrapassados que se virem contra o Google,netflix,facebook,youtube e cia.
Escapando do golpe,a presidenta tem que fazer politica com gosto mesmo distribuindo cargos,verbas e tudo mais que tem direito para poder manter os chantagistas motivados e nunca mais entrar na onda da faxina ética de 2011 e que ninguém deu muito obrigado,assim como quando a mesma tentou reduzir juros de banco e como presente ganhou a onda golpista de 2013.
O PT continua querendo “cooptar com o diferente”, “fazer o meio de campo”, “governar para todos, não só pra eleitores”. Que bonito! Que lindo!!!! Tão altruísta, não?!
Isto é cacoete de militante malandro! De gente sacana e oportunista que sempre precisou de moeda de troca (em português, coação) pra demonstrar força. Sempre pela via do indizível, da conversa de bastidor, do papo de pinga-com-limão. Este é o lado escuro da força do PT. A famosa filhadap*tice dos companheiros carreiristas, ávidos por uma subprefeitura, por uma vaguinha qualquer no executivo, ou mesmo uma migalhinha como motorista daquele companheiro “gente-boa” que foi eleito.
Vejo isto desde a eleição da Erundina. Aqui em Itaquera, pra pedir o cumprimento de uma promessa qualquer de campanha, os movimentos aguardavam em fila na porta da regional, marcavam horário com um mês de antecedência, eram xingados, humilhados, tratados feitos “OS-CHATOS” que atrapalhavam a brilhante administração das lideranças. A militância era um povo que “não sabia pensar grande”, uma gente burra que não entendia nada de administração e de fazer política. Enquanto isto, o nobre vereador Dito Salim entrava e saía da sala do administrador, com direito a cafezinho e tapinha nas costas. Esta prática está na genética da “companheirada” que acalenta a utopia de fazer parte da zelite, de ser crasse-média. São vinho da mesma pipa do PSDB. São cria da burguesia paulista, porém, embasada no pensamento esquerdista acadêmico, adquirido no historicamente exclusivista meio universitário, que não faz outra coisa senão munir ideologicamente parte dos que querem ser incluídos no sistema mas não podem pela via da direita, por pura falta de espaço. Precisam do povo, da força oposicionista pra disputarem este espaço nas instituições. Precisam desmoralizar os que colocaram o pé na porta, a fim de conseguirem seu lugarzinho na esculhambação. Depois disto, meus amigos, povo é povo.
Só não digo que a situação da Dilma é bem-feito porque neste jogo sujo quem depositou as fichas no discurso e nas propostas tão bem elaboradas do PT não tem nada a ver com quem se apossou dele pra fazer isto. Se o Diretório Nacional do PT de São Paulo cair, talvez será o único efeito colateral positivo de uma possível derrocada do partido e do Governo. Mesmo assim, acredito que a rataria ainda vai disputar migalhas, até mesmo após o impeachment. Quiçá, numa ditadura. Vão roer a corda e culpar o partido (!!!) ou qualquer abstração capaz de absorver as responsabilidades pessoais desta gente que sempre fez política assim. A culpa vai ser do PT, mas de um PT sem face, sem nomes, algo coletivo do qual também fizeram parte a peãozada, os movimentos, o povo. Sempre o povo! Esta gente que não sabe votar, que se deixa manipular, que não aprende nunca. Todo mundo vai ter culpa. Quando se acerta, o feito tem nome e cara, quando se erra, o erro é sempre coletivo. Cara de pau pouca é bobagem.