O jacaré do Jair comeu a direita

A ótima charge do Benett, publicada na Folha e reproduzida aí em cima é de uma dolorosa ironia com o que está acontecendo com a direita brasileira.

O Jair Jacaré, com seu couro grosso, sua boca enorme e suas presas terríveis, cevado no viveiro da histeria lavajatista, onde todo o fanatismo, os xingamentos, a agressividade e, sobretudo, a manipulação midiática contra não apenas o petismo, mas a política e os partidos despertou forças com as quais a elite política do país, como um aprendiz de feiticeiro, perdeu o controle e já não tem como lidar.

A história de como o bicho foi se tornando incontrolável todos sabem: devorou Sergio Moro, palitou os dentes com o DEM (Rodrigo Maia e Luiz Mandetta que o digam), engolfou uma parte do MDB, jogou isca gorda para o PP e, na votação da PEC do Voto Maroto, mostrou que leva, no barato, metade do tucanato.

Da dita “classe política”, que se serviu de Bolsonaro, agora ele se serve.

Não tomou conta apenas dos eleitorado conservadores, mas estendeu aos próprios partidos os cordéis com que pretende comandá-los.

A parcela da direita brasileira – e, nela, a mídia – parece não ter forças para enfrentá-lo, ainda mais porque segue resistindo a um acordo com a única força que aparenta poder confrontá-lo, o ex-presidente Lula.

Insiste na tal “Terceira Via, com que supõe oferecer um escape a uma radicalização que, a rigor, só parte de Bolsonaro. Desde o início do ano, não decola e não decolará.

Enquanto isso, Jair Bolsonaro vai se assenhoreando da vasta fauna reptiliana da política, excitando seus fanáticos e encaminhando a luta política para uma quebra definitiva da institucionalidade.

O experientíssimo jornalista Mario Vitor Santos, em ótimo artigo publicado ontem no Jornalistas pela Democracia, diz que Bolsonaro ameaça virar dono dos partidos da direita tradicional e sufocar a “terceira via”. Só lhe faço o reparo de que não ameaça, já o fez, creio eu.

Hoje, aglomerados bolsonaristas aguerridos estão incrustados em todos os partidos de centro e direita, sempre em grau significativo. São grupos que operam ainda um pouco à sombra, mas na realidade são mais convictamente fiéis a Bolsonaro do que à direção de suas agremiações.
A tensão entre esses parlamentares e as direções partidárias se acirra porque a quebra da disciplina, que aparece no Parlamento, vai se repetir no processo eleitoral do ano que vem, com parte das bancadas apoiando o energúmeno mesmo que seus partidos não o queiram.

Há apenas uma forma de evitar que isso ocorra é combatendo Bolsonaro no terreno do voto presidencial, fazendo com que este seja predominante na escolha de deputados e de senadores. Do contrário, serão todos devorados: o da 3ª via pela votação pífia de seus candidatos a presidente e os adesistas, pela natural concentração dos votos nos exibidíssimos candidatos “bolsonaro-raiz”, que têm na turba o seu curral – ou “cercadinho” eleitoral.

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