O que valia em 89 não vale em 22?

Em condições normais, não passaria pela cabeça de ninguém uma chapa presidencial formada por Lula e Geraldo Alckmim.

Seria incongruente, sem qualquer lógica que pudesse justificar ao eleitor a junção esdrúxula de dois personagens que foram adversários em quase 40 anos de vida política.

Não é preciso, porém, dizer que não estamos em condições normais, nas quais o eleitor esteja sendo chamado a decidir se o país será conduzido a um ajuste de rota, mais à esquerda ou à direita, mas se despenca de vez no precipício do autoritarismo, puxado por alguém que, dúzias de vezes, nos puxa para a barbárie e a destruição das instituições democráticas.

Jair Bolsonaro é, hoje, muito mais perigoso do que era Fernando Collor de Mello em 1989. Este, ao menos, não tinha o suporte das armas a respaldar suas bravatas.

O PSDB, àquela altura, já tinha cambado para a direita, com a proposta de “choque de capitalismo” defendida por Mário Covas e se distanciado da pretensão de ser um partido, como estava em seu nome, de ser um partido social-democrata.

Isso não impediu, porém, que Covas estivesse no palanque do 2° turno de Lula, que se credenciou para a disputa, num resultado muito apertado sobre Leonel Brizola, com 0,5% dos votos.

Ainda assim, faltaram-nos 4 milhões de votos para evitar que o Brasil medíocre da ditadura e de Sarney não fosse levado a um torvelinho que, na primeira eleição direta em 25 anos, caísse na desgraça de ter de romper a normalidade das relações políticas com o impeachment já do primeiro eleito.

Bolsonaro, como se disse, não é Collor, porque tem atrás de si – por mais que queiramos duvidar disso – Forças Armadas que nem sequer têm pudor em se mostrarem garantidoras de seus ímpetos golpistas. Além, é claro, de elites econômicas e um mixórdia parlamentar que nem sequer piscariam diante de uma intervenção anômala.

Diante disso, vamos ficar em polêmicas pueris sobre o quão amplas precisam ser as alianças para que as urnas formem a barricada suficiente para deter este perigo?

Geraldo Alckmin não é importante pelos votos que, diretamente, venha a trazer para Lula, mas porque impede – ao menos às pessoas em que sobreviva um mínimo de bom senso – que Jair Bolsonaro coloque Lula no cercadinho da esquerda, contra a qual todo preconceito e acusação se levanta.

Sem querer compará-lo a Covas – outro tempo, outro perfil – a esquerda aceitou em 89 e recusa em 22, diante de um perigo maior?

 

 

 

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