Os “intocáveis” da Justiça

A Folha, neste domingo, traz um interessante balanço da não-resolutividade dos casos de distorções ou abusos praticados por juízes e e procuradores na Justiça brasileira.

No Conselho Nacional de Justiça, diante de 13.638 processos disciplinares contra juízes, “apenas 104 casos, o equivalente a 0,78%, houve punição a magistrado”. No caso dos procuradores, 20.606 foram os procedimentos instaruados no Conselho Nacional do Ministério Público e apenas 279 resultaram em puniões, pouco mais de 1%.

Relata a Folha:

Em relação à Lava Jato, a provocação para apuração da conduta de procuradores e juízes já partiu até do STF (Supremo Tribunal Federal), mas nenhum caso foi para frente.
O ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol já responderam, cada um, a mais de 30 procedimentos, mas todos foram arquivados ou têm tramitação lenta.
O site The Intercept Brasil divulgou diálogos que mostram que Sergio Moro (dir) e Deltan Dallagnol (esq) discutiam processos em andamento e comentavam pedidos feitos à Justiça pelo Ministério Público Federal enquanto integravam a força-tarefa da Lava Jato.
Uma representação em que o PT acusa Moro de ter por telefone entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a então presidente Dilma Rousseff sem decisão judicial figurou na pauta do CNJ mais de 15 vezes, mas nunca foi chamado para julgamento.
Em junho do ano passado, o corregedor-nacional de Justiça, Humberto Martins, o caso monocraticamente e classificou o caso como “mero inconformismo” da parte, que teria apresentado apenas “alegações genéricas”.
Dallagnol, por sua vez, já viu a data de julgamento da representação a que responde por suposta infração na apresentação da denúncia contra Lula em um powerpoint ser por mais de 40 vezes.
O coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, porém, já sofreu a mais leve do CNMP.
A sanção foi imposta porque ele disse que ministros do STF formavam uma “panelinha” que passava uma “mensagem muito forte de leniência a favor da corrupção”. Dallagnol, porém, ainda recorre e o caso não teve um desfecho definitivo.

O que o jornal expõe é o que estamos nos cansando de ver: que há uma completa impunidade para o abuso de juízes e promotores no exercício de suas funções legais. E nem sequer por exame expresso de suas atitudes, mas por chicanas jurídicas que levem à prescrição das queixas e, assim, também à impunidade.

Este corporativismo autoritário, que chegou ao máximo com a Lava Jato, algum dia, terá de ser superado, porque degrada o respeito pelo Judiciário, cada vez mais visto como um antro de privilégios e mandonismo. É isso, mais que tudo, o que alimenta a ofensiva fascista neste país, da qual a própria Justiça acaba sendo alvo.

Afinal, como pode um poder pretender corrigir abusos se não corrige os que acontecem dentro de si mesmo? E não há melhor exemplo a dar do que fazer isso com os que simbolizam estes abusos: o reizinho Moro e o príncipe Dallagnol.

PS: Escrevi este post no fim da noite de domingo. E vejam o que o UOL noticiou, de madrugada: “Uma sindicância da Corregedoria do MPF (Ministério Público Federal) concluiu que o procurador da República Diogo Castor pagou por um outdoor em homenagem à operação Lava Jato enquanto fazia parte da força-tarefa da operação. O processo sobre o caso, contudo, foi arquivado, já que o prazo para punir Castor pela propaganda acabou”

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10 respostas

  1. Com o caso deste desembargador de Santos aprendemos que a pena de Censura impede progressão na carreira. Contudo não nos explicam como este Sr. sofreu a tal censura quando juiz e mesmo assim chegou a desembargador.

    1. Mas, não vamos longe não:Vejam no supremo o tof monte de estrume, comete os maiores absurdos e ficam por isto mesmo.

  2. Câmara dos deputados, senado federal, judiciário, militares, mídia, empresários etc. etc. etc. Ninguém se salva e é essa gente que diz que o problema do Brasil é seu “povinho”.

  3. Parabéns pelas palavras polidas para descrever esse quadro inominável. Eu que tanto usei a expressão “bandalheira”, vejo agora como subestimei essa gente em termos de baixeza.

  4. A ordem democrática, ordem jurídica estabelecida por nossa Constituição, está sendo destruída pela estupidez dos próprios integrantes do sistema de justiça. Os que se omitem são tão responsáveis quanto os delinquentes destruidores.

  5. Olhem que coisa mais apavorante que foi o caso daquele Desembargador Paulista que afrontou um Fiscal da Saúde e de acordo com o Colegiado, ele já foi denunciado quarenta e uma vez e nenhuma admoestação virou nada. Mas, é o CORPORATIVISMO é o que vale. Vejam com o é a Lei “pra eles”. Cometem os maiores absurdos como este do Desembargador de São Paulo a única punição que ele poderá ser condenado será :Ser aposentado com salários integrais e reajustáveis de acordo com seus pares da ativa, com todas mordomias. Assim fica fácil né! Isto não é punição e sim benesses. A Justiça está de cima pra baixo CHEIA DE PARASITAS!!

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