Os rambos e os ratos

Duas reportagens, hoje, dão o que pensar.

Em O Globo, “Ibope revela dificuldade de bolsonaristas e petistas chegarem ao segundo turno” mostra que, da onda anticorrupção salvaram-se exatamente os partidos mais envolvidos na corrupção – PP, PSD,Republicanos, etc…

A outra, na Folha e em vários jornais, trata da “pacificação entre Bolsonaro, Maia, Paulo Guedes e outros tantos que, poucas semanas e dias atrás, “trocavam de mal” e xingavam-se as mães.

São, é fácil ver, os dois lados da “despolitização da política”: o pacto conservador sobrevivendo com os “bons modos” que lhe tiravam os “minions” – o choro da tal Sara Winter, abandonada, é das coisas mais patéticas que já se viu – e de uma esquerda que, de tão focada nos umbigos do identitarismos e no “minha tribo, minha vida” que foi perdendo a conexão com a realidade e não consegue galvanizar os desejos da população mais pobre e menos ainda os da classe média órfã de seu próprio moralismo.

Não é, certamente, um fenômeno exclusivamente brasileiro. A “onda” de direita começou na Europa, espraiou-se para o EUA e aportou aqui, na praia aberta por Sergio Moro com a Lava Jato. Moralismo no atacado e “bolhas”, no varejo, mudaram o jogo de poder mundo afora.

É preciso ser muito ingênuo para acreditar que tudo isso se deu naturalmente, sem forças que atuavam e atuam de maneira global e que, usando como canal as redes sociais, passaram a influenciar como nunca as, até então, “maiorias silenciosas”.

Afinal, se esta máquina está montada para ganhar dinheiro – e o documentário “O Dilema das Redes (Social Media, Neflix) é uma pobre e pálida imagem do que ela é, em manipulação para o consumo – porque não se teria o mesmo uso voltado para o poder?

É por isso que Trump está jogando, quase que impunemente, com pressões e ameaças que os Estados Unidos jamais assistiram, como são exemplo a carga contra os votos postais – tradição no país e mais importantes ainda durante uma pandemia mortal – e ameaças de não fazer a entrega do poder ao um adversário vitorioso nas urnas. Duvido que alguém se recorde de um confronto tão aberto desde a guerra civil dos EUA, há mais de um século e meio.

O que lhe dá suporte é a histeria de redes sociais manipuladas, com estruturas ocultas que amplificam, em meio à mediocridade “patriótica”, as ameaças de caos em caso de sua derrota.

A derrota de Donald Trump não será apenas uma mudança nas relações diplomáticas e comerciais em escala global, mas terá um efeito profundo na vida política interna de países como o nosso, alagados pela onda direitista, mais feroz e daninha do que a onda liberal dos anos 90.

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