Para o mundo ou para seu mundinho?

A Folha diz, na edição de hoje, que Jair Bolsonaro está dividido em relação ao que vai demonstrar em seu discurso, hoje, na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. Hesitaria, diz o jornal, entre três objetivos: “tentar melhorar a imagem do país (em especial nos quesitos pandemia e ambiente) e se aproximar do governo dos EUA —atendendo a apelos das alas mais moderadas do governo —, sem deixar de motivar sua base ideológica”.

Não atingirá nenhum dos três, sabe-se, porque se tornou, aqui e lá fora, um governante sem credibilidade.

Não é difícil fazer acenos para o futuro ambiental. Antecipar emissões zero de carbono de 2060 para 2050 é “sopa”, porque já nem estará na face da terra para ser cobrado. O que, ademais, é inútil a um ex-governante. Isso rende palmas, elogios às boas intenções – as que lotam os infernos – e nenhum resultado prático.

Assim como ninguém, a esta altura, se comoverá com a doação de 500 mil ou um milhão de doses a nossos vizinhos mais carentes, porque a marca de antivacina grudada na testa de Jair Bolsonaro está mais que expressa em sua recusa em vacinar-se. Nada fala mais alto que isso e é só ver a “zoada” de Boris Johnson ao presidente brasileiro.

A aproximação com Biden é, também, uma quimera. Da parte do presidente norte-americano pouco ou nada significa vantagem exibir-se como amigo de um presidente latino em fim de mandato, com baixa chance de reeleição e, além do mais, suspeitíssimo de articular uma ruptura democrática no Brasil.

A Bolsonaro, trumpista de carteirinha, isso também não ajuda com seus seguidores, aos quais insuflou – e até há dias o fazia, aos próprios enviados de Biden – com uma suposta fraude nas eleições norte-americanas, a qual diz pode ocorrer aqui.

O presidente brasileiro, todos sabem, sequer tem os recursos retóricos necessários para impressionar alguém: a fala dura, entrecortada por pausas para buscar a linha seguinte do texto, a paralisia corporal que impede a gesticulação enfática, o ratear tatibitati nas palavras e expressões mais complexas, tudo a somar, desta vez, como em outras, um desempenho pífio.

Jair Bolsonaro, portanto, por mais que faça concessões ao pragmatismo do Itamarati – agora, ainda bem, sem Ernesto Araújo – cumpre apenas o papel – já evidente no episódio da pizza na calçada – de exibir-se como um outsider, um “homem do povo”, orgulhoso de sua mediocridade e acenando sempre com conspirações globalistas às quais resiste e culpa por seus fracassos rotundos.

 

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