Para os que amam Nova York mas detestam o Brasil

ryanshelley

Se a nossa elite  mentalmente colonizada tivesse um pingo de lucidez e um grama de compaixão (ou apenas um dos dois) olharia  para o Brasil com um sentimento de paz e esperança, em meio a um mundo que regride à miséria das primeiras décadas do século passado.

Mas teimam em ver o exterior como um mundo ideal, onde tudo é limpo, lindo e tecnológico.

O mundo, em todas as partes, é simplesmente feito de pessoas.

Quando elas vivem reduzidas à condição de bichos, nem a cosmopolita Nova York é civilizada.

Leiam o trecho que reproduzo desta matéria de hoje em O Globo.

E a foto que copio acima, de Ryan e Shelley, um casal de moradores de rua.

Um ex-casal, aliás, porque Ryan, agora, está morto.

É bom para lembrar o que esquecemos depois que passamos a achar Charlie Chaplin apenas um comediante antigo, não um intérprete de gente sem cuidado e sem esperança.

E que o drama humano é só existencial e não também pela sobrevivência.

Talvez com isso os que praguejam contra as nossas alegrias e desprezam os nossos progressos possam entender o quanto caminhamos.

E, por isso, o quanto acreditamos que temos de continuar a caminhar.

Mas sempre assobiando, alegres, como Carlitos.

A Nova York dos excluídos

Isabel Deluca

O número de sem-teto em Nova York atingiu, este ano, o maior nível desde a Grande Depressão nos anos 1930. Segundo as últimas estatísticas federais, a população sem moradia aumentou 13% em comparação com o ano passado, apesar da suposta recuperação da economia — e enquanto a média nacional só faz diminuir. A tendência cresce sobretudo entre famílias e virou um dos maiores desafios do prefeito Bill de Blasio, que fez da habitação acessível um dos pontos centrais do seu discurso de campanha, para comandar uma cidade onde os aluguéis não param de subir.

Os nova-iorquinos que passam a noite em abrigos ou nas ruas chegaram a 64.060, de acordo com o relatório anual do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano (HUD, na sigla em inglês), que compila dados de três mil cidades americanas.

Só Los Angeles teve aumento maior: lá, os desabrigados cresceram 27%, embora o total ainda seja menor que o de Nova York. No resto do país, o número caiu 4% desde 2012: hoje são 610.042.

— A maior parte dos EUA mudou a tática de reagir ao problema, e está funcionando — explica o professor de Políticas Sociais da Universidade da Pensilvânia Dennis P. Culhane, autor do relatório do HUD. — O foco tem sido no realojamento imediato, muitas vezes na forma de mediação de conflitos, mas também com ajuda financeira. O modelo de botar num abrigo e esperar até que se consiga encontrar uma moradia, ou que o cidadão consiga juntar dinheiro para sair, não é o novo modelo que emerge no país. Mas é o de Nova York.

Na cidade mais rica do mundo, a crise é resultado sobretudo do aumento no número de famílias que já não podem pagar aluguel. O último censo registrou um declínio no número de apartamentos acessíveis em Nova York, enquanto a renda da classe média baixa só faz cair. Para Culhane, parte do problema ainda pode ser creditado à crise econômica:

— Há desemprego excessivo, afetando a capacidade de pagar o aluguel. Há mais jovens adultos e suas famílias com pais ou avós. Isso cria um ambiente estressante que pode levar ao despejo. É o que acontece em dois terços dos casos. A razão mais comum que os novos sem-teto reportam é conflito familiar na casa superlotada.

Em Nova York, as famílias já representam 75% da população dos abrigos. Há menos sem-teto nas ruas do que há uma década, mas a lotação nos dormitórios é recorde — 52 mil, sendo 22 mil crianças. Relatório divulgado em maio pela ONG Coalizão para os Desabrigados aponta outro recorde: o tempo médio que uma família permanece num abrigo atingiu 14,5 meses.

O Departamento de Serviços para Desabrigados disponibiliza diariamente dados sobre os abrigos. Na última quarta-feira, eram 30.540 adultos e 23.227 crianças. O número de sem-teto que pernoitam em refúgios municipais é, hoje, 73% maior do que em janeiro de 2002, quando o ex-prefeito Michael Bloomberg tomou posse. Ele tentou driblar a questão com uma série de políticas, mas o resultado foi a superlotação dos dormitórios públicos.

— Prefiro dormir na rua do que num abrigo — relata Elliot, um sem-teto de 52 anos que costuma passar as tardes na esquina da Rua 72 com a Broadway. — A comida é pavorosa. Os banheiros são imundos. Há ratos e baratas por todo canto.

 

 

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22 respostas

  1. Há que se parar de chamar conservadores de elite. Pessoas de classe média aderem às teses conservadoras em busca de reconhecimento social, de pertencer a elite, que para eles são os ricos. Ser elite necessariamente não quer dizer conservador. Portando acho que devemos dar nome aos bois.

    1. mesmo a palavra conservador é eufemismo que alivia essa postura. Ou reacionário (afinal, está se apenas reagindo, reagindo a que?) Qual seria a palavra correta? explorador? parasita? torturador? ladrão? psicopata? sociopata? Cínico? Sanguessuga? Sádico? Egoísta?

      1. Difícil mesmo escolher aadjetivação mais correta para uma elite cujo “modelo de sucesso” é o norte americano.
        Com oito milhões de habitantes, metade abaixo da linha da pobreza, e 64 mil desabrigados, Nova Yorque tem, proporcionalmente, 5,5 vezes mais sem teto que Sampa. É isto que gostariam de ver por aqui…
        Exploradores? Parasitas? Torturadores? Ladrões? Psicopatas? Sociopatas? Cínicos? Sanguessugas? Sádicos? Egoístas?
        Você pegou leve…

    2. Talvez a palavra procurada seja lumpem-burguesia (lixo da burguesia). Por um processo de absorção dos valores da classe a que (neste caso) desejam aderir, eles “se acham”, embora não percebam que jamais serão aceitos no banquete, senão como serviçais, prestadores de serviços etc. Quando a análise foge daqueles critérios típicos de pesquisa de mercado – nível de renda – fica mais fácil situar esse pessoal que tem dinheiro suficiente para frequentar os arredores dos locais “privés” onde a grande burguesia vive muito bem. Quanto aos adjetivos sugeridos, cabem perfeitamente na categoria.

      1. Adorei o “lumpem-burguesia”. Até porque burguesia de verdade nem vai aos estádios de futebol.

  2. Espero que os que estão empregados e ganham, pelo menos, dois salários mínimos (aliás, para o Aécio emprego de dois salários mínimos não vale nada) percebam o quanto o Aécio e seu partido farão mal ao povo e ao Brasil. Devemos nos lembrar o quanto nossas elites são cruéis para conosco e para com o Brasil e que só pensam em se locupletar de nossas riquezas. Não devemos esquecer, nunca, que nossas elites são as mais cruéis e corruptas do mundo. Elas menosprezam o Brasil e seu povo. O Aécio a Presidência da República, significa um tremendo retrocesso!!!!

  3. Ao invés de: “O Aécio a Presidência da República”, leia-se “O Aécio na Presidência da República”. Quem representa o atraso é o Aécio Neves e não o cargo “Presidência da República!”

  4. Pois é, para quem acha que os Estados Unidos são o paraíso…
    Por falar em estados Unidos lembrei-me de Miami e continuo em contagem regressiva: FALTAM 8 DIAS PARA BARBOSA DEIXAR P STF!

    1. Será que algum outro Ministro terá coragem de ir morar lá onde ele morou? ou o Ap. vai ficará assombrado. Olha com toda sinceridade, eu acho que ninguém ira querer ir para lá . Primeiro que ele ficará assombrados por Espiritos maus e depois por outra coisa que eu prefiro declinar.

  5. A miséria vem sendo fabricada nos Estados Unidos, muito se deve ao excesso de intervenção do Estado na economia, com destaque aos ex-Presidentes Carter, Clinton e, o que é pouco mencionado, Ronald Reagan, mas estes não chegam aos pés de George (Johnny) Walker Bush e o atual presidente Barak Obama.

    Dentre todas as inúmeras concepções erradas e falsas doutrinas que assombram o pensamento econômico, há uma que se destaca e que pode ser considerada, sem rivais próximos, a mais destruidora e nociva de todas elas: a ideia de que vivemos em um mundo de abundância, um mundo em que não há escassez. Isso foi feito desde antes da crise de 1929, teve seu destaque com o sindicalismo em Detroit, que acabou destruindo o poder econômico das montadoras. E chegou com força total com a ilusão da intervenção promovida no mercado imobiliário, com as gigantes Fannie Mae and Freddie Mac, que levaram a crise de 2008.

    Tal ideia se resume a crer que o principal problema de uma economia não é a criação de riqueza — isto é, a produção de bens e serviços. O problema seria simplesmente estimular o consumo de maneira igualitária.

    O triste é que este tipo de pensamento não apenas produziu este resultado nos Estados Unidos, mas também que tem servido de motivo para que sejamos coniventes com a excessiva intervenção do Estado na economia nacional.

    http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1620

  6. Só se engana com o famoso primeiro mundo quem quer. Michael Harrigton no seu famoso livro – A OUTRA AMÉRICA – já dizia isso há muito tempo.

  7. Ainda assim,de tudo que se escreve,e se diz e se filma,dos PAÍSES de primeiro mundo,que não sejam elogios,os PUXA-SACOS vão continuar dizendo que é mentira.Eles nem gostam muito de lá,mas adoram puxar sacos. È uma doença,sem cura!

  8. Os EUA necessitam urgentemente fazer o retorno de suas indústrias para o território americano, para dar emprego e renda. Foi Nixon que incentivou a ida das indústrias para a Ásia (principalmente China)por conta da guerra fria. Ele fez um acordo com a liderança chinesa em que os americanos enviariam linhas de produção e matérias primas e os chineses entrariam com a mão de obra(abundante). Outros países desenvolvidos acompanharam os americanos, transferindo suas linhas de produção, com utilização de mão de obra intensa, para lá. Agora, quase não existe mais produtos “made in USA” nas prateleiras do mundo, é tudo “made in China” e outros asiáticos. Estão colhendo o que os governos anteriores plantaram. As indústrias do mundo todo estão sofrendo as consequências. Reverter esse quadro é uma das soluções e deter o mercado financeiro predador é outra. São decisões difíceis de serem tomadas pois há acordos internacionais por traz disso. Mas, se desejarem realmente solucionar um dos grandes problemas internos, precisam, pelo menos, pensar em como sair dessa armadilha.

  9. É, o poderoso EUA também tem seus problemas. Se alguém tinha a ilusão de que lá tudo era perfeito…

  10. Quantos trilhões de dólares foram gastos pelos EUA desde a explosão da crise financeira americana, que se tornou uma crise mundial. O resultado da inversão de valores que acontece nos EUA, onde o Estado deixou de trabalhar para a sociedade, tem sido o acumulo de riquezas por parte de pequena parcela da sociedade, enquanto uma imensa parcela é jogada na miséria. Gastou-se trilhões de dólares e não se conseguiu produzir nenhum resultado que recupere as condições da economia estadunidense. O saldo da aplicação de certas teorias econômicas é a morte do sonho americano.
    Qual o retorno para a sociedade de toda essa dinheirama que foi gasta para debelar a crise, dinheiro que saiu do Tesouro. O país como um todo empobrece e isso traz como efeito uma enormidade de problemas de várias naturezas, que se aprofundam com o estado de coisas em que se encontram os EUA.
    Se o Estado tomasse medidas para sanear os problemas em prol de toda a sociedade, com ações que buscassem propagar efeitos em todos os setores, recuperando a capacidade da economia estadunidense com efeitos que trariam de volta seu dinamismo e protagonismo, poderíamos ter resultado diferente. Passados seis anos do início da crise em 2008, continuam as dificuldades na economia dos EUA e um agravamento na saúde do que importa, ou seja, das condições do povo dos Estados Unidos. A importância dos Estados Unidos no cenário mundial, torna necessário que ele encontre as respostas que possam tira-lo do fosso em que se encontra.

    1. Olhando por outro lado, talvez o USA chegar ao fundo do fosso seja bom para o resto do mundo, assim eles vão parar de interferir nos outros países, e não vão ter dinheiro pra fazer mais gerras.

  11. Eu não tenho solução prá nada, se muito,poderei sentir na pele
    o que as pessoas vivem,apesar de que tenho um tipo de espirito, mesmo que seja, um quase? onde eu existo,poderia eu estar nos EUA,ou no Brasil ou em qualquer lugar eu existo…
    E o único lugar seguro prá eu existir (não sei se entendem)
    e’ em mim,as aves têm seus ninhos,e outros suas tocas e eu
    minha casa verdadeira e’ em mim,um bom lugar,para se viver….

  12. O Brasil só não deslancha devido a podridão de seus politicos e a mente colonizada de sua população.

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