É provável que se tenha esta semana a temerária votação em plenário da emenda constitucional que ressuscita a apuração manual dos votos. uma iniciativa esdrúxula de Arthur Lira sob o argumento de que, derrotada na Câmara a ideia, Bolsonaro sossegará em seus arroubos golpistas.
Nem eu, nem você, nem a velhinha da Taubaté e muito menos Arthur Lira acredita nisso e a questão, portanto, passa a ser o que ele e o Centrão pretendem com isso.
Dar à proposta os 308 votos de que precisa para ser aprovada parece ser, em qualquer inviável e, assim, é saber quem ganha com a rejeição incontestável – se é que o 23 a 11 da votação em comissão especial não não foi incontestável o suficiente – do delírio bolsonarista.
Bolsonaro perde, ok, mas não tem porque moderar-se u parar de invocar fraudes e complôs, dirigindo à maioria da Câmara os impropérios e xingamentos que hoje despeja sobre o TE e o STF.
Mas não a Arthur Lira, que fez o que ele queria e, ao menos formalmente, levou a plenário o desejo presidencial.
Dai, a avaliação de quem ganha vai depender de quantos votos a proposta tenha.
200 ou menos, escreveu com perspicácia o jornalista Luís Costa Pinto, em artigo na Plataforma Brasília, pode dar um sinal positivo de que há condições de avançar, se admitido pelo presidente da Câmara, um processo de impeachment contra Jair Bolsonaro. Seria o “botão amarelo” a que se refere, nas suas falas, o matreiríssimo Lira, que tem ganho em bilhões de reais no Orçamento os motivos para seu dedo ser leve.
Não creio que o faça, mas ganha motivos para que a bolsa que serve de contrapeso a paralisar seu dedo engorde e relaxe os cordéis. Por serem tão poucos os parlamentares completamente entregues a Bolsonaro, mesmo com os acordos que levaram o PP ao núcleo do Planalto, eleva-se seu preço, coletivo e unitário.
Há o outro lado, porém: quais e quantos serão os parlamentares que querem colocar seus pescoços na guilhotina com tanta antecedência a um governo em evidente declínio, apoiado quase que exclusivamente nas falanges milicianas que se levantam em defesa do delírio presidencial? É claro que percebem que este processo fica sob o controle hegemônico dos bolsonaristas-raiz e que lhes tira boa parte do que conseguem com dotações orçamentárias fruto de seu governismo.
Votação a toque de caixa, como parece que teremos, encolhe e inviabiliza o tempo dos “acertos” que pudesse levar a um voto domesticado.
O jogo de Lira, aparentemente sabujo, é perigoso e não só pelo imponderável da votação que convocou, sem base e regimental e alegando que se presta a uma decisão institucional que, em tese, estaria tomada na votação na comissão.
Jair Bolsonaro não tem porque dar mais – e deu muito – a quem comprou sem que a “mercadoria” tenha sido entregue. Se não é para garantir a sua continuidade, para quê doar o governo, ou parte dele, ao Centrão?
Lembrem-se que o botão amarelo de Lira tem validade limitada, que se reduz quanto mais se aproximam as eleições. Impeachment, em ano eleitoral, é nas urnas, não na Câmara.