Petróleo: trocar investimento por venda futura

Há tanto petróleo no pré-sal que, durante muitos anos, teremos de exportar petróleo cru, porque, mesmo com a entrada em operação das refinarias Abreu e Lima, do Comperj e as futuras Premium I e II, no Nordeste – que vão aumentar, no total, em 50% a capacidade de nosso parque de refino – ainda teremos, na virada da década, um excedente de perto de dois milhões de barris diários.

O essencial nisso é que os recursos advindos deste petróleo passem a financiar não apenas os projetos de desenvolvimento social, tecnológico e econômico como, apropriados pela Petrobras, ajudem a bancar os pesados investimentos exigidos pelo novo horizonte de exploração petrolífera que se abre no pré-sal (e também fora dele, como na nova fronteira exploratória de Sergipe, onde ontem foram concluídos os testes do poço de Farfan 1, o segundo do bloco BM-Seal-11, com petróleo leve, adequado a nossas refinarias antigas).

As operações de adiantamento de recursos que a Petrobras está fechando com os chineses para Libra – e coloque a Noruega e a Índia entre outras possibilidades de composição da brasileira – são, basicamente, negócios de venda antecipada de petróleo. Diria, com certa liberdade: venda de barris de petróleo guardados na rocha, em lugar de em tanques. Com uma ressalva importante: quem decide se a velocidade e os volumes extraídos são os adequados ao preço internacional do petóleo é o governo brasileiro, através da Petrosal, que terá poder de veto no comitê gestor do campo.

Essa é a razão do tão alardeado fracasso – que nada! –  que a mídia vê na procura por Libra: além do impasse criado pela espionagem americana, empresas de natureza meramente comercial de geração rápida de caixa,  têm muito menos interesse em condições assim do que as empresas petroleiras estatais, preocupadas, essencialmente, com a garantia de suprimento a seus países. Por isso é que as chinesas estão tão disponíveis e olhe lá se os indianos também não estão, em busca de certo equilíbrio regional por ali.

Hoje, o Valor publica matéria da repórter Cláudia Schüffner que dá ideia dos valores envolvidos apenas na exploração do pré-sal. Veja que a previsão é de inversões perto de meio bilhão de dólares, mais do que a soma do PAC-1 (de Lula) e 2 (de Dilma).

Depois de lê-la, procure avaliar se podemos mobilizar internamente todos estes recursos. E, no lado oposto, se podemos mobilizá-los sem comprometer o que é essencial: produzi-lo sob controle nacional, e gerando para nós mesmos, e não para o estrangeiro, as encomendas industriais e os empregos em enorme escala e qualidade que essa atividade vai demandar.

Pré-sal exige investimento de US$ 500 bi em 12 anos

Cláudia Schüffner

As descobertas de petróleo no pré-sal brasileiro trouxeram um mar de oportunidades para o Brasil em termos de reservas de um bem precioso e escasso que trarão benefícios econômicos ainda não totalmente dimensionados. Mas os desafios de execução e a pressão sobre a indústria nacional e a Petrobras não serão triviais. A consultoria IHS calcula que serão necessários US$ 500 bilhões de investimento no setor de óleo e gás brasileiro entre 2013 e 2025 para colocar de pé as metas da estatal, operadora única do pré-sal por lei. As projeções da companhia, conhecidas até agora, são de produzir 4,2 milhões de barris de petróleo por dia em 2020 ou 5,2 milhões de barris de óleo equivalente se for contabilizado o gás natural.

O leilão de Libra, marcado para a próxima segunda-feira, reforça o papel do Brasil como grande produtor mundial de petróleo. Hoje, o Brasil ocupa a 13ª posição nesse ranking. Como as grandes descobertas do mundo têm sido feitas no país, o Brasil tende a avançar nesse grupo. Hoje, o quarto maior produtor é a China, com 4,2 milhões de barris/dia. Mas no concorrente asiático, poucas descobertas têm sido anunciadas.

Para dobrar sua produção de petróleo em sete anos, a Petrobras terá que crescer em pouco tempo o que demorou 60 anos. Maior consultoria de energia do mundo, a IHS calcula que se cumprir inteiramente os percentuais de conteúdo local a produção da estatal pode ser menor, de 3,5 milhões de barris já que existem gargalos importantes no setor de construção naval e de mão de obra qualificada no país.

Rodrigo Vaz, diretor da área de Óleo e Gás da IHS no Brasil, observa que grande parte do esforço terá que vir dos fornecedores da Petrobras, que terão que utilizar quantidades gigantescas de aço, linhas de transferência, equipamentos submarinos, sondas de perfuração e dutos, só para citar alguns materiais críticos.

Para se ter uma dimensão do tamanho das encomendas à indústria, a IHS calcula que serão necessários 630 mil toneladas de aço estrutural, 7.800 quilômetros de linhas flutuantes (que conectam os poços às plataformas) instaladas em águas cada vez mais profundas, 1,5 mil novas árvores de natal molhadas (cada uma custando cerca de US$ 30 milhões), 52 mil toneladas de tubulações e 75 mil toneladas de equipamentos submarinos.

A capacidade de construção naval brasileira será testada já que a quantidade de plataformas flutuantes de armazenamento e transferência (FPSOs) necessárias – 40 na estimativa da IHS e 35 segundo a Coppe-UFRJ – excede tudo que foi instalado até agora. Para se ter uma ideia do desafio à vista, a primeira FPSO usada pela Petrobras foi a P-34, em 1993, no campo de Jubarte.

Hoje a frota é de 25 embarcações desse tipo, que se somam a 16 plataformas semisubmersíveis e outras 88 fixas. O problema para cumprir metas de aumento da produção é a falta de capacidade ociosa nos diques secos dos estaleiros nacionais, mesmo os virtuais.

“Dos projetos de construção de plataforma em carteira atualmente, menos de um terço está sendo integralmente construído no Brasil. A maior parte dos projetos é para atender campos de rodadas de licitação [da ANP] mais antigas, quando o conteúdo local era bem mais brando”, afirma Vaz, observando que a exigência de conteúdo local já aumentou em cerca de 30% o preço das unidades construídas no Brasil, onde a produtividade é menor.

O consultor vê espaço para a Petrobras aliviar, de certa forma, o gargalo dos estaleiros nacionais sem comprometer o conteúdo local mínimo exigido por meio de encomendas dos cascos na Ásia.

Para Libra, a consultoria estima números gigantes, um pouco deles incluídos na projeção de investimento até 2025. Ao longo dos 35 anos de concessão somente os custos operacionais (dedutíveis) poderão variar entre US$ 180 bilhões e US$ 250 bilhões. Ontem, em Brasília, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, estimou que nos primeiros dez anos, Libra vai exigir investimentos de US$ 80 bilhões.

Tomando como premissa o início de produção de Libra em 2019, a IHS espera que o pico de atividade no campo seja atingido somente em 2027, quando é esperado que todas as unidades de produção (entre 10 e 15 plataformas) estejam operando.

A produção nesse momento é estimada em 1,6 milhão de barris de petróleo por dia pela IHS e em 1,4 milhão de barris/ dia pela Agência Nacional de Petróleo (ANP). Atualmente a Petrobras produz 2 milhões de barris/dia, volume afetado pela queda da produção dos campos gigantes da bacia de Campos.

Sobre Libra, Vaz destaca que as estimativas hoje são imprecisas já que os valores finais dependem de várias premissas, principalmente a de confirmação do volume recuperável de reservas do campo, que até hoje tem apenas um poço perfurado com sucesso.

A ANP estima que Libra tenha entre 8 e 12 bilhões de barris recuperáveis de petróleo, o que corresponde a um reserva “in situ” no campo – nem toda ela capaz de ser extraída com a tecnologia atual – variando entre 26 bilhões a 42 bilhões de barris segundo estimativa da consultoria Gaffney, Cline, contratada pela agência reguladora. Já a IHS estima que o campo gigante tenha reservas “in situ” de 18 bilhões de barris.

Mesmo projetando um volume menor, o campo é disparado o de maior tamanho descoberto no mundo desde 2008. Na lista da IHS mostrando as dez maiores descobertas de petróleo no mundo no período, seis são brasileiras – Franco, Libra, Iara, Sapinhoá, Carcará e Júpiter – todas descobertas da Petrobras no pré-sal da Bacia de Santos.

Outras duas descobertas estão no Iraque (Barda Rash e Shaikan), uma nos Estados Unidos (o campo de Tiber) e outra na Noruega (Johan). Desses locais, o único a oferecer uma área para leilão atualmente é o Brasil, já que o Iraque está fechado.

O consórcio que ganhar na segunda-feira o contrato de partilha para produzir petróleo em Libra terá que perfurar mais poços e testar o reservatório e delimitar a área do campo, que tem mais de 1,5 mil quilômetros quadrados de extensão em lâmina d”água de aproximadamente 1.500 metros até o subsolo marinho. Ainda não se conhecem os planos para escoamento dos enormes volumes de gás que serão produzidos. As estimativas são de que a produção de gás chegue a 20 milhões de metros cúbicos dia, o equivalente a dois terços das atuais importações da Bolívia. Contudo, como não existe gasoduto na área, a Petrobras já sinalizou que grande parte da produção de gás no pré-sal será reinjetada nos poços, frustrando setores da indústria.

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26 respostas

  1. Porém, a maior de todas as verdades foi pronunciada pela atual presidente da República. Durante a campanha, em 2010, Dilma Rousseff disse e está gravado que: “Privatizar o pré-sal é um crime e que ele é o nosso passaporte para o futuro”.
    Crédito não falta para PETROBRAS que tem cerca de 60bi emreservas e que valem +/- 6tri.

    1. porra bicho, tu nao cansa de matraquear esse discusinho vazio como um papagaio? voce nao leu a materia? voce saberia ao menos definir “privatizar”?

      é minha gente, o desespero dos entreguistas beira a loucura já.
      pra frente Brasil!!

      1. Privatizar: Entregar o patrimônio público a iniciativa privada.
        Se render: Entregar o patrimônio público ao capital estrangeiro
        Trair: Entregar a maior riqueza de nossa história a Shelle
        Suícidio Político: Acusar o Serra na eleição de querer fazer isso, e depois de eleita fazer.
        Quem tem Petrobrás e o Pré-Sal não precisa da Shell

  2. Vocês já perceberam que absurdo a globo sempre que mostra os “salários” dos professores do rio mostra somente o salário do professor com “pós doutorado”.
    Cara, se o sujeito tem pos doc, ele NÃO VAI DAR AULA NA REDE PÚBLICA DO RIO! vai dar aula em uma universidade!!!
    Eles mostram este valor para dizer que um professor ganha uma fortuna… quero ver mostrar quanto ganha um professor com graduação , que é 90% dos professores!
    Parece que todo professor ganha 7 mil por mês e queria ganhar 14 mil!
    FORA da realidade

  3. Brito

    Tenho uma dúvida importante.

    Muito você escreveu sobre o pré sal, em especial sobre o campo de Libra.
    Mas, a pergunta é:
    O óleo encontrado neste campo é leve ou pesado?
    E esta pergunta é bem pertinente, porque em toda esta discussão em torno do assunto, nada se falou a respeito da qualidade do petróleo encontrado.
    Explico;
    A Petrobras é obrigada a importar óleo leve, que é de qualidade muito superior, para misturar ao pesado extraído por estas plagas, uma vez que nossa estrutura de refino não está totalmente aparelhada para refinar, a um custo mais baixo, o que possuímos.
    A consequência disso é a nossa dependência do mercado internacional e suas oscilações, com todas as suas consequências, via de regra danosas para a economia tupiniquim.
    Se é pesado, isto explica em parte os astronômicos investimentos em modernização de nossas refinarias, o que tem exaurido os cofres da Petrobras.
    Se, por outro lado é leve, torna o apetite já descomunal das petroleiras estrangeiras ainda maior, e a pressão cada vez maior para leiloar, a meu ver apressadamente, a jóia da coroa do nosso explorado País.
    Responda-nos, por favor, nobre Brito.

    1. Médio para leve, 27 graus API (a partir de 22 é médio, a partir de 30 é considerado leve)

      1. Grato pelo esclarecimento.

        Tenho sentimentos contraditórios a respeito do assunto.Mas, como você mesmo disse, este modelo é melhor do que o anterior, ainda que não seja o ideal.

        Continue a nos esclarecer com seus excelentes posts.

  4. Em 2010, a Dilma disse que queria nosso voto porque o Pré-Sal corria sério risco de ser privatizado caso o Serra ganhasse. Passado, mais de 2 anos e meio para a nossa surpresa quem está privatizando o Pré-Sal é a senhora presidenta Dilma. Dizer que Leilão não é privatização é achar que nós somos burros. Por acaso, alguém já viu no Brasil alguma concessão voltar ao poder público ao seu final. Sem contar o valor irrisório desse Leilão face à riqueza quem tem nesse Campo. Pelo andar da carruagem o Estado só vai restar no papel porque tudo está indo parar nas mãos da iniciativa privada. Acabou o discurso do PT contra as privatizações do PSDB porque afinal os dois partidos se igualaram na agenda neoliberal.

    1. Patilha não é concessão .Quando se partilha se associa em partes a ser acertada em contrato .Quando se concede Se entrega por tempo determinado . Dai se denominar privatização Da para entender a diferença. Foi a maior luta para mudar de concessão para partilha para agora a gente confundir tudo .

  5. Sou um ignorante sobre esse assunto, como a maioria dos brasileiros, mas não precisa ser um técnico para perceber a importância que a questão tem para o Brasil. Por conta da ignorância fico vendido quanto saber se a opção tomada pelo governo na exploração é a correta para o país. Se for considerar o que esse governo já fez nesses últimos 10 anos não tenho dúvida que se está fazendo o que é melhor ao país. A análise desenvolvida no texto veio reforçar esse entendimento, foi o melhor que já li, serviu para contrapor a alguns argumentos contrários ao que se está fazendo.

  6. Foi exatamente assim que o EIKE quebrou!
    estão vendendo todo o petróleo nacional em mercado futuro, e ROUBANDO ESTE DINHEIRO EM ALGUM VALERIODUTO!
    É isto que está acontecendo!
    É a nova dívida externa, só que ao contrário!
    Quando começar a sair óleo destes poços, TUDO QUE SAIR VAI SER DOS GRINGOS E AINDA VAMOS ESTAR DEVENDO!
    E onde está o dinheiro?
    NA CAMPANHA DE REELEIÇÃO DA DILMA

  7. Preparar um cozido exige muitos ingredientes, e desejar comê-lo sozinho demandará tempo. Não é prudente demorar em iniciar servir o cozido. Há cobiça e desejo de no mínimo nos deixar impossibilitados de servir a todos que desejamos atender, que precisam alimentar-se, inclusive espiritualmente. Antes de posta a mesa, podemos inclusive vender alguns porções e obter recursos. Se a casa é nossa, os pratos, travessas e talheres estão conosco, por que não partilhar com os convivas que também,também pagarão pelos ingredientes e contribuirão com conhecimentos para aprimorar o prato? Não esquecer que sempre há ameaça de nos tomarem das mãos os apetrechos onde preparemos e serviremos o cozido, e quem nos ameça está do lado de quem quer postergar o cozido. Vamos ao cozido!

  8. Existe um pequeno erro no texto:

    “Hoje, o Valor publica matéria da repórter Cláudia Schüffner que dá ideia dos valores envolvidos apenas na exploração do pré-sal. Veja que a previsão é de inversões perto de meio bilhão de dólares, mais do que a soma do PAC-1 (de Lula) e 2 (de Dilma).”

    Em verdade o valor previsto de inversões é perto de MEIO TRILHÃO DE DÓLARES…

  9. Tecnicamente tenho lá minhas dúvidas, politicamente entendo que as iniciativas do governo entram na linha de ganho porque se fosse os FHCs, PPS, DEM e traíras, todos esses temas já estariam soterrados, a população brasileira em pleno desemprego e os gringos em pleno gozo com essa turma tão ligadinha a Time Life, ou melhor, a Globo e seus cães de guarda!!! Avançar é preciso, continuar necessário e progredir indispensável!!!! Detalhe, graças aos blogueiros a população começa a se apropriar de conteúdos políticos e econômicos que dizem respeito ao nosso país!!!! Também, hoje, alguém assiste a globo e outras?? Eu, a muito tempo não!!!

  10. Gente Getúlio Vargas em 1950 disse O PETROLEO E NOSSO. Foi noticia de primeira pagina do jornal O GLOBO noticiário que deu o local na AMAZONIA com fotos dos três poços onde tal produto foi encontrado. O tal petróleo da AMAZONIA foi totalmente consumido por nossa Petrobras que nem existia??? Esse tal petróleo foi encontrado a três metros de profundidade. Será que Getúlio era louco e o jornal O GLOBO também???

  11. Gosto muito do Paulo Moreira Leite.Adorei saber sobre Opaq!Percebi que de alguma forma, José Mauricio Bustan foi homenageado…Achei que o premio Nobel foi um tapa com luva de pelica nos EUA, já que OPAQ tem resistência ao EUA. Diga aí , Existe algum pais mais nocivo ao mundo do que os “excepcionais” dos EUA? !

  12. Quando interessava aos países ocidentais manter boas relações eles fizeram isso. Basta ver como foi a relação nos anos gloriosos do capitalismo pós segunda guerra-fria. Caído o muro, a realidade. A China pode ser boa agora, ela precisa, mas e, depois?

  13. Se o povo gritou na rua que o Petroleo era nosso já na época do Getulio Vargas, agora estamos gritando a Petrobrás é nossa e quem decide nosso futuro somos nós, os Brasileiros…. a classe dominante quer a privatização, porque eles tem dinheiro para investir nas ações das grandes companhias que compram do governo a preço de banana, o povo fica sem ganhar e eles racham as burras de tanto dinheiro pela valorização das ações. Eles só pensam neles mesmos.

  14. Bem Sr. Paulo Moreira Leite, sobre a existencia de armas químicas no Iraque a certa altura o Sr. afirma que “Se isso não era verdade, como se demonstrou,” vamos esclarecer que não se comprovou a existência do volume que se imaginava mas foram encontradas: 1,77 ton de urânio enriquecido; 1500 galões de agentes químicos usados em armas; 17 ogivas quimicas com ciclosarina (5000 vezes mais mortal que o gas sarin); bombas de gas mostarda e sarin e 1000 materiais radioativso em pó, prontos para uso.

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