Putin reconhece separatistas e crise da Ucrânia sobe outro degrau

Em uma longa fala – quase uma hora – em que passou em revisão as relações seculares entre a Russia e a Ucrânia, Vladimir Putin anunciou que reconhecerá “nos próximos dias” as repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk, na região de Donbass, onde há grande parcela de população russa, há um século e meio, desde que o carvão passou ser extraído da região do Donbass e provocou a chegada de grande quantidades russos.

Putin disse que a entrada da Ucrânia em restrições na Otan significa colocar sob perigo de ataque militar toda parte europeia da Rússia, até os Montes Urais: “misseis Tomawank a 35 minutos e mísseis hipersônicos a cinco minutos de Moscou”.

O presidente russo não adotou um discurso belicista e não fez conclamações na base do “tudo ou nada”, como tem feito o Ocidente. Mas falou de olho em seu público interno, destacando o fato de que os russos sempre deram apoio à Ucrânia, inclusive pagando suas dívidas após o fim da União Soviética. Trabalhou o tempo todo para colocar os ucranianos como dissipadores do legado russo., desde o Império e disse que foi Lênin quem produziu um estado ucraniano como república.

Não foi um discurso de guerra aberta, mas não foi um discurso de paz a qualquer preço e deixou claro que não vai oferecer mais do que já ofereceu, semana passada, quando chegou a falar em retirar as tropas à medida em que terminassem os exercícios militares.

Sobrou aos EUA e a Otan retaliar, mas até agora o fizeram de maneira fraca, com a edição de um decreto proibindo novos investimentos, comércio e financiamento nas regiões separatistas. Isso e nada dá no mesmo, claro.

Putin pode escalonar sua ofensiva, porque o simples reconhecimento das duas repúblicas não o obriga a nada, mas lhe dá razões para uma improvável ofensiva sobre aqueles territórios. Ele estica a corda e deixa claro que não fará novo recuo até que o Ocidente acene com alguma proposta de limitar a presença da Otan na Ucrânia, como parece ser o seu desejo.

O fato é que a crise escalou outro degrau e uma solução diplomática está cada vez mais longe, até porque o mundo vive um período de líderes apagados, incapazes de propor soluções e que, por isso, apelam para bravas que tecem uma armadilha da qual eles mesmos se tornam prisioneiros.

Aqui, para nós, sobra mais alta no preço do petróleo, que bateu hoje 96 dólares (o tipo Brent) e vai deixando, apesar da queda do dólar, cada vez mais provável um aumento dos combustíveis.

 

 

 

 

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Uma resposta

  1. Jogada de mestre de Putin. Ele sabe, como sabem todos os que estão atentos à política internacional como um todo, que Biden está escalando a crise de olho nas eleições para a Câmara nos EUA, pra não perder a maioria.
    Putin escalou um pouco a crise, mas não tomou nenhuma medida militar importante. Não vai invadir, a não ser que a Ucrânia comece um massacre dos russos étnicos no Donbass e em Lugansk.
    Com esse movimento, ele fortalece sua posição para uma eventual negociação e abre o caminho para fornecer ajuda militar limitada às repúblicas independentes. Além disso, pelos estatutos da OTAN, nenhum país envolvido em guerra, seja civil ou internacional, pode se juntar à Organização. Vladimir Vladimirovich agora tem oficialmente os seus buchas de canhão, assim como os EUA têm a Ucrânia como seus. Se a situação escalar, militarmente, não será pela invasão russa, mas pelo recrudescimento da guerra civil, e os russos poderão enviar milhões de armas aos separatistas.
    Se os EUA aumentarem as sansões, provavelmente os europeus mais importantes (FR e Ale) não darão muita bola, e os chineses correrão para ocupar o lugar do Ocidente nos negócios com a Rússia, aumentando a dependência econômica desta à RPC. Sinuca de bico para os americanos, por culpa de seu apego à Guerra Fria. Se em vez de ficarem espicaçando a Rússia estivessem ajudando sua integração à Europa, em algum tempo teriam um aliado poderoso com uma fronteira imensa com seus reais rivais, os chineses. Mas insistem em que os russos são os inimigos, vão pagar o preço…

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