É claro que, numa Câmara dos Deputados controlada com mão de ferro pelo Centrão, não há condições políticas de avançar, ao menos por enquanto, um processo de impeachment contra Jair Bolsonaro e a maior prova é que o presidente da Casa, Arthur Lira, senta-se hoje sobre mais de uma centena de pedidos, sem que um só ande.
Mas a pesquisa Datafolha, publicada no início da tarde de hoje, registrando, pela primeira vez, um número de brasileiros que apoia o afastamento do presidente do seu cargo (49%) superior ao dos que consideram que o Congresso não deveria abrir um processo de impeachment (46%), mostra que a situação do ex-capitão nunca esteve tão frágil.
O perfil dos “fora,Bolsonaro”, basicamente, acompanha a divisão dos votos em Lula e na reeleição do atual presidente: mais forte entre as mulheres, os habitantes do Nordeste, entre os mais pobres e entre os jovens, enquanto o “Bolsonaro fica” predomina no Sul, entre os empresários e grupos evangélicos.
Os números, claro, deverão piorar com o andamento da CPI da Covid e a disposição parlamentar em “testar” a aceitação ao impedimento é sempre uma tentação para que, depois de garantir verbas para seus redutos, também queira se livrar da carga eleitoralmente pesada de estar com alguém tão rejeitado como o ‘ex-mito’.
A Folha, aliás, transcreveu o insólito lembrete do próprio Arthur Lira, semanas atrás, ao dizer que “remédios políticos no Parlamento” que deveriam acender “um sinal amarelo para quem quiser enxergar”.
Pois é, esta história de que “só Deus me tira daqui” que Bolsonaro anda repetindo não é muito prudente. Até porque Deus não está nem um pouco interessado em emenda parlamentar para arranjar verbas eleitorais.