Reunir para governar e isolar bolsonarismo

Nenhum momento é mas doce para um governante que aquele em que seu governo está se instalando.

Os espanhóis usam a palavra “flamante” para definir este momento e seu sentido está longe de ser o de incendiário, mas o de florescente, atraente, desejado.

E o que se observa, à medida em que se dissolve a espuma golpista que se sucedeu às eleições – e até com a ajuda disso – é que estão dadas as condições para que o início do novo governo se dê com um isolamento da extrema-direita e a construção de uma maioria que, embora vá custar muito em desapego político, possa pavimentar, ao menos por alguns meses, tranquilidade para reorientar o país.

Acomodar apetites é, certamente, menos difícil que enfrentar o isolamento.

Lula está à frente do desejos de aproximação – que inclui certo grau de chantagem – enquanto Bolsonaro tem de enfrentar – e tem dificuldades notórias nisso – o distanciamento de quem, até domingo, era seu aliado.

Até aqui, a esquerda tem compreendido bem as necessidades de construção de um acordo, porque enxerga a sua incapacidade de oferecer a Lula uma base suficiente para governar.

Mas há outro ponto essencial nisso: o de deixar a extrema-direita bolsonarista enquistada, essencial no curto prazo.

É com os aliados (o MDB e os aparentes neoaliados, PSD e União Brasil) que Lula terá mais problemas, porque temem não ter o monopólio da base necessária para governar.

Mas terão de enfrentar também a realidade de que, no projeto político de Bolsonaro fora do poder, eles não cabem.

Neste momento, o mais importante é viabilizar a “PEC da Transição” e, sendo possível, reverter o rombo deixado pelo governo Bolsonaro num “pacote”, que não coloque o governo na situação de ter de consumir os seus primeiros três ou quatro meses a um “varejo” de negociações para aprovar as mudanças no Orçamento feitas por medida provisória, aliás de legalidade duvidosa.

Se uma medida provisória pudesse sustentar o rompimento da lei orçamentária, Bolsonaro não teria feito uma mudança na Constituição. Agora, no sentido inverso, é muito difícil sustentar a ideia de que não se pode fazer o mesmo para que se cumpram os compromissos referendados pela população.

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