Roteiro de cinema-catástrofe

Sim, você já viu este filme ou algo bem parecido.

O cinema-catástrofe, logo depois de invasões alienígenas e maremotos, sempre elegeu as epidemias como um de seus temas prediletos.

O coronavírus, todos os dias, está oferecendo as várias situações de um roteiro destes.

A origem misteriosa, num exótico mercado de carnes de caça chinês, a escolher entre morcegos, cobras e pangolins a origem da “vingança da natureza”.

As cidades chinesas fechadas, com as fronteiras militarizadas, os hospitais de campanha brotando em velocidade vertiginosa, os estrangeiros se acotovelando pelos voos de resgate.

Aos tapas, também, as disputas por máscaras, e luvas e os homens (serão mesmo?) dentro de trajes quase espaciais espargindo desinfetantes pelas ruas vazias.

Mas isso está lá, no mundo profundo e distante dos “diferentes”. Será?

Os viajantes, sadios e despreocupados, levando o vírus para todo o mundo que, país após país, vai caindo doente.

Os cartões postais do mundo vão se tornando paisagens desertas, com um ou outro mascarado aventurando-se em grandes pátios vazios.

Ah, sim, há os dramas “não-nacionais”, os navios de cruzeiro abarrotados de doentes, abordados de helicóptero por soldados levando kits de testagem para os leprosários flutuantes.

O presidente dos Estados Unidos decidindo que é melhor que morram onde estão, mandados a um porto deserto. Os governantes, por toda a parte, relutando em tomar medidas duras pelos efeitos na economia e na política.

No outro plano, o pânico nos mercados financeiros, as jogadas escusas, os boatos plantados, as falências reais e o dinheiro deixando as colônias, em busca da segurança das metrópoles.

Nada disso é delírio, você percebeu.

E nada disso está a um passo de terminar, como prometem os boateiros da “vacina para amanhã”, para enganar os inocentes de que tudo será resolvido como naqueles filmes.

Para amanhã, depois e as próximas semanas e meses, só mesmo as consequências inevitáveis mortais na economia.

O coronavírus vai passar mais depressa que sseus efeitos: um mundo mais pobre, mais injusto, mais desigual, como o subprimevírus fez, há uma dúzia de anos.

Porque serão as economias periféricas, os pobres, os desvalidos que pagarão pelos prejuízos.

Porque vivemos em tempos em que a imunidade não quer dizer humanidade.

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4 respostas

  1. Em uma situação normal, deveríamos estar tomando medidas para inibir os danos colaterais de qualquer epidemia, quer seja, atitudes e ações antisociais baseadas no desconhecimento e no pânico. Pois elas vêm conforme a epidemia se alastra, e se não são coibidas podem ser tão ou mais danosas à população que a própria doença. Casos de agressão xenófoba ou racial já foram noticiados, informações falsas já circulam a torto e a direito e, se houver desabastecimento de gêneros em algum local, podemos contar com pessoas disputando-os como se não houvesse amanhã. O problema é que o Brasil não está em uma situação normal. O grande responsável pela contenção de atos de desespero infundados, o Estado, não apenas hesita em informar adequadamente como desconhece o que priorizar. Pior ainda, sua ação estimula o efeito inverso pois, enfraquecido que está, não detém mais a confiança da população, que o coloca na vala comum das instituições falidas que já conhece. Receita certa para o caos, caso haja uma rápida disseminação de contágio e comecem a morrer numerosos casos. Mas novamente vale lembrar que não estamos em uma situação normal, e muitos dos que comandam a sociedade hoje vêem no caos uma “oportunidade de negócios”.

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