Um chacina sob medida

As espantosas declarações do coronel-secretário da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Luiz Henrique Marinho Pires, dizendo que uma suposta “migração” de traficantes para a Vila Cruzeiro, no Rio, de outros estados – e distantes como Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Pará e Rio Grande do Norte – deve-se à decisão do Supremo Tribunal Federal de exigir que haja comunicação ao Ministério Público de operações policiais em favelas cariocas e fluminneses. Aliás, decisão desrespeitada a toda hora.

A ação foi precipitada por um ataque a uma equipe policial que, a paisano, fazia a vigilância do grupo, que pretendia sair em comboio em direção à Rocinha. Agentes a paisano percorrendo, incognitos, uma favela às 4 h da manhã? Nem nos filmes de Capitão Nacimento! É obvio que, se havia vigilância, era à distância, jamais com falsos civis andando pelos becos altíssimas horas.

Depois, o coronel diz que o exército que operou na favela uma tropa de 106 homens – 80 da PM e 26 da Polícia Rodoviária Federal (???) que estaria estacionada nas redondezas, pronta para “dar o bote” no “bonde” dos traficantes, com carros, com blindados e helicópteros. Desculpe, coronel, mas não se leva tropas para “ficarem esperando” perto de uma favela onde, alegadamente, reíne-se o alto comando da bandidagem, pela simples razão de que é imenso o risco de “vazar” a operação e fugirem todos.

O preço desta história estranha , até agora, são 21 mortes e o número ainda está subindo.

Mas é muito conveniente esta história de que os ministros do Supremo está facilitando a vida de criminosos ao impedir – e não impede, está se vendo – operações de guerra em comunidades pobres.

É que eles também são bandidos, talquei?

O Ministério Público precisa interpelar o coronel e exigir os informes e documentos que o levaram a fazer estas afirmações. Ou melhor: acusações.

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