Menos da metade das famílias brasileiras não têm problemas para por comida na mesa.
Um terço de todas elas têm de cortar aqui e ali, para se alimentar.
E nada menos que um em cada cinco passam fome, alguns dias ou sempre.
Este era o país que tinha saído do mapa da fome, mas que voltou, com apetite, a se tornar o cenário de uma tragédia.
É o relatório da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional quem dá os números e registra que “foi anulado, para parcela significativa da população brasileira, o sucesso obtido entre 2004 e 2013 na garantia do direito humano à alimentação adequada e saudável. Os dados mostram que tivemos um retrocesso de 15 anos em apenas cinco; retrocesso ainda mais acentuado nos últimos dois anos.
E olhe que as pesquisas não abrangeram estes meses desgraçados de 2021, em que a falta do auxílio emergencial tornou muito mais aguda a falta de comida.
Fome não é assunto que possa ser deixado para depois da pandemia.
Já deveria estar em curso um programa nacional de distribuição de alimentos e há uma rede de assistência social capaz de fazer isso com rapidez e eficiência.
Não pode ser na base do “doe um quilo de alimento não perecível”.
Estamos falando de 120 milhões de pessoas precisando ter certeza de que terão o que comer em suas casas, com seus filhos.
Caridade não basta, nem de longe, para enfrentar este problema.
É preciso Estado, como está sendo preciso Estado para enfrentar as centenas de milhares de pessoas doente pelo vírus.
De que adianta mandar as pessoas irem à rua trabalhar se não há trabalho? Tendo o que comer, aguenta-se as dificuldades, expondo ao mínimo a vida humana ao perigo.
Não é escolher entre morrer de Covid ou de fome, é preciso não morrer de nenhum dos dois.