Zé Gotinha amordaçado

Se fosse apenas pelo espetáculo de cinismo e hipocrisia o que aconteceu hoje, no suposto lançamento do suposto plano para aplicar a suposta vacina contra Covid 19, até que não seria mau.

Cinismo e hipocrisia, afinal, não são ingredientes raros no prato da política servido aos brasileiros, com os quais nos acostumamos desde o “Brasil que vai pra frente” dos militares ao “Tem que dar certo” dos bigodes cruzados de José Sarney.

O fato, porém, é que o descaso de Jair Bolsonaro, de seu mamulengo da Saúde e deste governo para com a pandemia e a morte, de quase 200 mil brasileiros não terminou hoje, com a teatral apresentação que ressuscitou até o Zé Gotinha que, de máscara junto ao presidente e ao ministro de nariz exposto , parecia mesmo estar usando uma mordaça que o impedisse de falar umas boas verdades àquela gente.

A quinze dias do final do ano, só o que temos de vacinas – e em quantidade ínfima – são os alguns milhares de doses da Coronavac, compradas e recebidas pelo Instituto Butantan, de São Paulo.

Compradas não só à revelia, mas com a oposição expressa do presidente e do ministro.

Poderiam ser mais – se o governo brasileiro tivesse entrado nas negociações com os chineses, em lugar de mandar o filho presidencial fazer acusações e deboches aos nossos maiores parceiros comerciais e maior fabricante de insumos farmacêuticos do mundo – mas são as que temos.

As vacinas da Astrazêneca e as da Covax Facility – na verdade um “estoque” que a Organização Mundial de Saúde quer criar com diversos fornecedores – ainda são apenas planos. A primeira, conhecida como “de Oxford”, só vai apresentar os resultados da segunda versão de seus ensaios em fevereiro de 2021, o que leva a perspectiva de seu uso para março.

Ter a vacina da Pfizer, a mesma que já está sendo administrada em diversos países do mundo, sem que tenhamos um contrato de aquisição, será só por uma soma incrível de boa vontade e de sorte, que ainda assim resultará numa quantidade pífia, diante de nossas necessidade de cerca de 450 milhões de doses, duas para cada pessoa e mais as perdas inevitáveis no transporte, conservação e distribuição.

É essa a verdade que deveria ser dita ali ao povo brasileiro: que a vacina vem, mas ainda demora e que esta demora não nos pode tirar mais 30, 40, 50 mil vidas até que sejamos capazes de imunizar maciçamente e não apenas proporcionar espetáculos pirotécnicos e cobertura para grupos reduzidos que estejam expostos a riscos maiores.

Mas isso não foi dito.

Zé Gotinha está mesmo amordaçado pela estupidez.

 

 

 

 

 

 

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