Bolsonaro quer um TBT com os EUA? Não vai rolar…

A quinta-feira foi, como diz a juventude, de #TBT, dia de pretender voltar ao passado, com a incrível história do pedido de Jair Bolsonaro por um “help” de Joe Biden para continuar no poder no Brasil.

Bolsonaro não fala inglês; muito menos Joe Biden entende patavinas de português e, como um não tem qualquer confiança no outro, não obstante as recentes declarações cândidas que proferiram durante a Cúpula das Américas, havia muitos assessores de parte a parte no encontro “privado” entre ambos. O repórter Eric Martin, da Agência Bloomberg, valeu-se da regra de que, quanto mais gente, menos segredo, para obter o escandaloso relato de que, na reunião, o presidente brasileiro “pediu ajuda” ao norte-americano para evitar a eleição de Luís Inácio Lula da Silva em outubro, alegando ao “mister” que este seria “um perigo para os interesses dos EUA”.

Biden, diz a reportagem, teria desconversado e saído pela tangente.

À parte o desastre diplomático – ambos são ótimos em produzir desastres – o episódio guarda um ineditismo e humilhação daqueles que “nunca antes na história deste país” se fez de forma tão direta e sem intermediários.

Não é raro que políticos e governantes brasileiros sejam sabujos dos interesses norte-americanos, nem que governos dos EUA tentem interferir na política e nas eleições brasileiras. Mas nunca assim, face to face, sem outra intermediação que não a do necessário tradutor.

A experiência mais recente está para completar 60 anos, o golpe de 1964, ainda assim com o embaixador Lincoln Gordon servindo de intermediário entre os golpistas nacionais John Kennedy e, depois, Lyndon Jonhson, o sempre sabido e depois comprovado pelas gravações secretas divulgadas pela própria Casa Branca.

Daquela vez, os EUA mandaram aos “amigos” dinheiro, um porta-aviões e quatro navios de combustível. Desta vez, o que quer Bolsonaro?

Alguém precisa avisar que, apesar de todo o esforço ocidental para reviver a era da Guerra Fria, não existe a menor semelhança política com aqueles tempos e, embora bata continência à bandeira norte-americana, o atual presidente é um pária internacional, ao qual um eventual alinhamento de Biden seria uma tragédia para a sua já combalida imagem.

Mesmo com os problemas de visão que a idade a todos nos traz, não é possível que Biden não veja um chapéu de búfalo de Jair Bolsonaro.

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