Os ministros do STF, sempre tão falastrões, andavam mudos nesta polêmica sobre a censura.
A manifestação de seu decano, Celso de Mello, hoje, porém, vai tirá-los da omissão em que se acomodam diante desta onda obscurantista que tomou conta do país.
Disse ele, em nota, com virulência incomum:
A apreensão de exemplares de um livro com temática LGBT na Bienal do Rio de Janeiro mostra-se inaceitável!!!! Na realidade , o que está a acontecer no Rio de Janeiro constitui fato gravíssimo, pois traduz o registro preocupante de que, sob o signo do retrocesso -cuja inspiração resulta das trevas que dominam o poder do Estado-, um novo e sombrio tempo se anuncia: o tempo da intolerância, da repressão ao pensamento, da interdição ostensiva ao pluralismo de ideias e do repúdio ao princípio democrático!!!! Mentes retrógradas e cultoras do obscurantismo e apologistas de uma sociedade distópica erigem-se, por ilegítima autoproclamação, à inaceitável condição de sumos sacerdotes da ética e dos padrões morais e culturais que pretendem impor, com o apoio de seus acólitos, aos cidadãos da República !!! Uma República fundada no princípio da liberdade e estruturada sob o signo da ideia democrática não pode admitir, sob pena de ser infiel à sua própria razão de ser, que os curadores do poder subvertam valores essenciais como aquele que consagra a liberdade de manifestação do pensamento !!!!
Espero que o ministro esteja dizendo que, para além do comportamento sexual, vê que estamos submetidos a “sumos sacerdotes da ética e dos padrões morais e culturais que pretendem impor, com o apoio de seus acólitos, aos cidadãos da República”.
Foi o Supremo, com seu acovardamento frente a eles, que permitiu que a ordem democrática fosse subvertida pelo fanatismo.
A ousadia do prefeito carioca jamais aconteceria se não tivesse sido elevado ao Governo da república aquele que transformou o ódio em bandeira.
Os liberais brasileiros, que se associaram a este projeto autoritário têm, eles próprios, de exorcizar o feitiço que invocaram.
E todos eles sabem onde começaram a acender o caldeirão.