Passadas folias e ressacas do Carnaval, hora de tentar criar algumas balizas para tentar tatear o que nos vem pela frente.
E, claro, não é possível deixar e ver que o principal elemento é a incerteza sobre os efeitos da epidemia de coronavírus, que se espalhou para a Europa, o Oriente Médio e o Sudeste Asiático, o que amplifica muito os problemas que já eram enormes com a “interdição” da China.
Sobre isso, embora não haja muitos dados concretos, a reportagem e hoje na Folha começa a dar ideia do tamanho e, sobretudo, da duração dos efeitos deste, O texto dá conta de que, de 28 navios esperados da China (e saídos de lá logo no início do surto), nove sequer zarparam e os demais vieram com menos carga do que teriam capacidade de transportar. Isso dá uma redução da ordem de 40%, num cálculo modesto.
Se entra menos, sai menos e, num post anterior, a imagem da queda da atividade da indústria chinesa indica menos compra de nossas matérias-primas.
Comparada à situação de um ano, por razões internas (o mau desempenho no 4° trimestre de 2019) e externas, as previsões de crescimento da economia estão se desfazendo mais rápido, como rápido estão se desfazendo expetativas de reformas ansiadas pela turma da bufunfa e se dissolvendo as esperanças de que capital socorram o investimento Regina Duarte que por aqui se foi sem nunca ter ido.
A situação política de Jair Bolsonaro se deteriorou. Tinha 53 deputados “próprios”, mais algumas dezenas de “aderentes” e quase duas centenas de um “Centrão” que hoje o encara com nítidos maus bofes. Depois de amanhã terá seu teste no Congresso, com a votação dos vetos no Orçamento e se teimar em quebrar o pacto feito com os deputados, sofrerá uma derrota acachapante, mesmo com o terrorismo e seus robôs a ameaçar o Legislativo pelas redes sociais.
Promete um ato subversivo para daqui a dois domingos, mas sabe que se insistir será pífio, pois perdeu a unanimidade da direita.
Seus principais sustentáculos no ministério, Sérgio Moro e Paulo Guedes perderam a aura de santidades, embora a mídia ainda os preserve.
Mas já nem tanto, como prova o artigo de Elio Gaspari, hoje, dizendo que o “tigre de Curitiba” agora mia no Ceará.
Guedes, por sua vez, afunda numa desmoralização ainda maior, aplaudido em público e ridicularizado nas redes e nos cochichos de economistas e sabe que Bolsonaro já o colocou na posição de lastro descartável e a economia fizer água.
No plano internacional, Bolsonaro era uma incógnita e, a esta altura, é uma certeza. Desprezado universalmente, nem mesmo do “mestre” Trump tem mais do que declarações de amizade que não se consumam em fatos.
Temos um governo política e economicamente em desagregação, para falar o mínimo.
E, por isso, as condições objetivas para se formar um movimento de oposição, cujo nó não são as tretas sobre o “apoiou-não apoiou” o golpe, como erroneamente fazem alguns.
A preservação da democracia e da disputa política legítima são as condicionantes para o Brasil não mergulhar no descalabro autoritário ruinoso que tentam fazer avançar.
Mas que a economia em crise é o catalisador deste processo, porque a direita não tem remédio para ela.