Bolsonaro não está morto e segue ‘rei da direita’

Há hoje, em O Globo, uma boa entrevista do cientista social Marcos Nobre, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e da Unicamp que aborda uma questão sobre a qual já se havia chamado a atenção aqui: a de que Bolsonaro faz questão de apresentar-se como vítima do sistema , embora seja ele quem domina – e com escancarado suporte militar – o governo.

— É muito estranho as pessoas continuarem a achar que Bolsonaro está enfraquecido, porque faz parte da encenação dele parecer que está fraco, que está lutando contra o sistema. O extraordinário é que muitas pessoas acreditam. Quando alguém me pergunta se Bolsonaro está fraco ou forte, respondo “nenhuma das duas coisas”. Está forte o suficiente para ir ao segundo turno e evitar um impeachment, e está fraco o suficiente para mostrar a esse eleitorado que ele é alguém que luta permanentemente contra o sistema.

Bolsonaro, insiste-se aqui, um objetivo tático: conservar-se “dono” absoluto da direita, sem que nela surja qualquer liderança independente da dele. E, daí, para seu alvo estratégico: contar com a continuidade do antilulismo, no que conta com a ajuda dos que derrotou – mídia, judiciário, “pavões” da política.

Não se pode negar que o atual presidente tem obtido expressivo sucesso na primeira parte de seu plano de continuidade no poder.

João Doria parece tão avariado politicamente que todos os sinais são de que terá um naufrágio eleitoral. O mesmo acontece com diversos governadores que, eleitos na maré bolsonarista, foram devorados por uma onda de ódio gerada a partir do Planalto e seus círculos de ódio. Luciano Huck fica cada vez mais distante de um candidatura, tanto pelos contratos com a Globo quanto pelo fato de que as pesquisas desfazem sua imagem como “esperança do sistema” e Ciro, insistindo na “metralhadora giratória”, para lado nenhum parece crescer.

Embora não seja possível ver o mesmo sucesso no passo estratégico – o de vencer Lula no confronto direto -, é inegável que Bolsonaro, nisso, não está morto, até porque não terá o menor pudor em promover um “saco de bondades” com o Tesouro, anistiando dívidas previdenciárias, ampliando o Bolsa Família e reduzindo ou “zerando” alíquotas de Imposto de Renda.

E, claro, com a retirada do bode da pandemia da sala da política, o que – mesmo com toda a incúria que a vacinação vem mostrando – deve acontecer no final de 2021 ou início de 22.

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