CPI deixa cloroquina e passa à propina

A CPI da Covid está, ainda, cometendo o erro de levar água ao moinho da charlatanice da coloroquina, dando palco a mediocridade de figuras como os tais senadores Eduardo Girão – “a ciência está dividida” e Luís Carlos Heinze, o “PhD de Rancho Queimado”, onde a droga teria sido a salvação geral.

Mas hoje, com a votação da quebra de sigilo bancário e telemático de diversos personagens do governo – centrais e periféricos -, a Comissão Parlamentar de Inquérito começa a rastrear dois tipos de negócios escusos: os políticos, com as orientações indevidas enviadas pelo “gabinete paralelo” da Saúde, e as possíveis vantagens materiais obtidas com o negacionismo cloroquinista da vacina.

A experiente jornalista Helena Chagas, em artigo publicado ontem, reclamava da falta deste foco:

— Onde estão, por exemplo, as providências para investigar quem botou dinheiro no bolso no processo de compra e distribuição de milhões de doses da cloroquina? Há uma lista de nomes de empresários relacionados à fabricação do remédio. Embora não se possa, em princípio, acusar ninguém de ter cometido qualquer irregularidade, seria importante apurar o que aconteceu nesse processo e em outros. Para isso, a CPI teria que sair um pouco dos holofotes, quebrar sigilos e trabalhar com investigação de documentos.

Há muito o que investigar nesta linha: as negociações privadas para a compra de vacinas por empresas (o que ontem foi confirmado pelo coronel Élcio Franco, ‘segundo’ de Eduardo Pazuello no MS), a intromissão de Fábio Wanjgarten na tão adiada compra de vacinas da Pfizer; os negócios apadrinhados por Jair Bolsonaro para a compra de matéria prima na Índia para laboratórios nacionais comprarem – e venderem a rodo – comprimidos de cloroquina.

O constrangedor diálogo de Jair Bolsonaro e o primeiro-ministro indiano, Narenda Modi, revelado hoje pelo jornal O Globo abre espaço para que se verifique eventuais “gratidões” dos laboratórios envolvidos, é um dos assuntos a ser esclarecido. Outro, a quebra do sigilo fiscal das agências de publicidade que atendem o governo, para verificar se sites governistas foram subsidiados para promover o charlatanismo presidencial.

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