Em meio a desmentidos genéricos e uma completa falta de informações oficiais sobre o problema de saúde que, segundo o Estadão, teria levado o ainda presidente Jair Bolsonaro a ser socorrido no Hospital das Forças Armadas de Brasília, um prognóstico vem avançando: o de que o atual ocupante do Planalto avalia uma forma de deixar, na prática ou formalmente, o cargo antes do dia 1° de janeiro.
Pode ser no “figurino” Donald Trump, apenas deixando o Planalto e o Alvorada algumas horas antes do momento em que teria de transmitir a faixa a Lula, mas há quem pense que ele deseja fazê-lo de forma mais dramática, dando ao gesto marca mais evidente de inconformismo com o resultado eleitoral.
Além disso, evitaria a cena da “retirada” – e suas conotações de fuga – que não quer deixar como imagem derradeira.
O fato é que, na prática, Jair Bolsonaro já abandonou o governo da República, o qual só exerce em gestos patéticos como esta nomeação, ao apagar das luzes, do sanfoneiro Gilson Machado para presidir – por um mês – a Embratur e a esdrúxula proibição de que os militares do comando das Forças Armadas participem das atividades de transição de governo.
Talvez não sejam as únicas dificuldades para a mudança, já que se avolumam as retenções de informações oficiais e chega-se a situações que são impensáveis, como a que o senador e possível Ministro da Justiça Flávio Dino relata à Veja sobre “uma estranha tentativa de ocupação do prédio de transição pelos agentes do general Augusto Heleno”, chefe da arapongagem do Planalto.
Portanto, não se descarte que, apesar dos desmentidos frouxos, questões de saúde possam servir como cobertura para um afastamento precoce de Jair Bolsonaro, dando-lhe tintas de mártir diante de seus fanáticos seguidores.
Quem chega ao poder pela dramatização destas questões pode muito bem, é claro, sair com a mesma teatralidade.