A contabilidade de uma incompetência

O relatório do Tribunal de Contas da União, reproduzido hoje pela Folha, mostrando que se gastou apenas R$ 11,4 dos 38,9 bilhões aprovados, emergencialmente, para o combate da pandemia do Covid-19 é grave em qualquer circunstância, num país que em 15 dias vai atingir a macabra marca de 100 mil mortos pelo coronavírus.

Embora já seja escandaloso que estados e municípios só tenha recebido perto de 40% do valor previsto, sempre é possível invocar a argumentação burocrática que poderia estar atrasando repasses para encobrir a vergonhosa manobra de colocar estes recursos na conta do acordo de cumplicidade do “centrão” ao governo.

Mas o fato de que tenham sido gastos menos de 12% da verba destinada a ações de exclusiva responsabilidade do Governo Federal – R$ 1,3 bilhão de R$ 11,4 bilhões – é revelador da completa incapacidade da administração Bolsonaro de agir decididamente no enfrentamento ao novo coronavírus, à exceção, claro, do charlatanismo da cloroquina.

Era deste dinheiro que se deveria ter adquirido equipamentos para a montagem de leitos de Terapia Intensiva – os famosos respiradores e outros aparelhos -, medicamentos necessários para sedação, oxigênio e até equipamentos de proteção individual, tanto para servir a locais onde não se pudesse fazer a compra local quanto para ter um estoque para evitar sua carência em situações de emergência. Além disso, bancar pesquisas epidemiológicas – como a Epicovid, desenvolvida pela Universidade Federal de Pelotas a interrompida abruptamente por falta de verbas – e laboratoriais.

Também, como na maioria dos países, estes recursos eram os que sustentariam a compra de testes que permitissem mapear e cuidar da doença, em lugar de termos a vergonhosa marca de apenas 23 testes por mil habitantes, índice de cinco a dez vezes maior que o das nações que têm forte incidência do novo coronavírus.

É daí, também, que se deveriam ter sido sustentadas campanhas de esclarecimento em massa sobre a necessidade do isolamento social e das medidas preventivas que eram e continuam sendo a única forma de prevenção contra a infecção pelo vírus.

É o retrato de uma incompetência que se iniciou na gestão Mandetta, virou paralisia com Nélson Teich e arrogância e indiferença com o general Eduardo Pazuello.

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