A guerra da vacina, sem vacina

A reunião do General da Saúde, Eduardo Pazuello, com os governadores não poderia ser diferente do fiasco que foi.

É que fica cada vez mais claro que ele segue as ordens de Jair Bolsonaro. E a ordem é para que se adie ao máximo qualquer vacinação em massa dos Brasileiro e que, até, evite que ela aconteça, porque o capitão, por incrível que pareça, acha que a pandemia é mesmo a tal “gripezinha” que está sendo explorada politicamente contra ele e corresponde a uma conspiração comunista.

Tudo ali era ridículo, a começar por Pazuello dizer que comprará outras vacinas “se houver demanda” é, claramente, apostar que o delírio antivacina vá prosperar ao ponto de afastar da vacinação uma parcela imensa dos 213 milhões de brasileiros, porque só menos da metade deles estaria coberta pela quantidade de vacinas hoje – em tese – disponíveis: 100 milhões da Astrazêneca-Oxford, 40 milhões da Covax-OMS e os 46 milhões de doses da Coronavac chinesa, 186 milhões no total, com capacidade para, em duas doses, alcançar 93 milhões de brasileiros.

Depois, dizer que a Anvisa levará “60 dias” para analisar os estudos de vacinas que lhe forem submetidos, em meio a uma emergência sanitária extrema, sem que a Agência vá realizar novas experiências laboratoriais ou clínicas e com dezenas de outras instituições estrangeiras fazendo os mesmos protocolos de vacinação soa como deboche.

A Anvisa, por acaso, vai parar para festinhas de amigo oculto e almoços de confraternização, com as mortes escalando de volta á marca de mil pessoas por dia?

João Doria, por sua vez, espalha-se em demagogia por todos os quadrantes. Parece que as vacinas – poucas até para o próprio estado de São Paulo, que precisaria de 88 milhões de doses e tem só metade, por enquanto – do governador de São Paulo multiplicam-se como os pães de Cristo e ele promete vender milhões delas para outros estado e ainda promover o “CoronaTur”, recebendo quem quiser vir de toda a parte vacinar-se em terras paulistas. É uma óbvia imprudência, destas de criar atropelos e brigas nas portas dos postos de vacinação.

A verdade é que o país perdeu qualquer referência técnico científica para avaliar eficácia de vacinas, qualquer vacina.

A de Oxford – até aqui nossa aposta única – parou num inacreditável erro (o qual ninguém acredita ter sido casual) de ter se aplicado, por engano, “meia dose” da vacina a 2.741 pessoas (metade das quais recebeu a vacina e a outra metade placebo) no contingente de 11.636 voluntários do Reino Unido e do Brasil. E aparecido com a “novidade” de que o errado “deu certo”, gerando 90% de imunidade, quando os vacinados “corretamente” teriam tido apenas 62% de proteção.

Os que examinaram os resultados encontraram percentagens muito pequenas de idosos e falta de diversidade racial : só 12,5% tinham mais de 55 anos, 82% eram brancos (nada a ver com racismo, mas isso pode distorcer resultados) e mais de 60%, mulheres. Não se explicam erros grosseiros assim, mas os cientistas estão tentando suprir estas faltas com um novo teste com voluntários nos Estados Unidos.

A da Pfeizer, com seus problemas logísticos e preço de caviar, está sendo considerada, mesmo pelos países com muito dinheiro, um tapa-buraco e a da Coronavac, o imunizante chinês em estado mais avançado de testes ainda não deu a público seus resultados, exceto por uma informação não-oficial na Indonésia que lhe apontaria 97% de eficácia.

O que se assistiu na reunião entre governadores e Pazuello foi, portanto, uma originalíssima “guerra da vacina, sem vacina”.

A guerra de verdade, a do vírus, esta vai avançando e, ainda hoje, publicarei dados estarrecedores sobre os níveis de infecção que estão sendo registrados, em crescimento galopante, no Brasil.

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