A muvuca do “e daí?”

Não, não é o mesmo que os senhores e senhoras carolas faziam ante as cenas de jovens enlameados na chuva de Woodstock, aquela expressão de horror moral porque, imaginem, ali fazia-se sexo ou fumava-se maconha.

O espetáculo de boçalidade nas concentrações nas praias do Rio de Janeiro e de outras cidades não tem como lema o “paz e amor”, mas o “e daí” bolsonariano, onde a ideia de liberdade é a que que o indivíduo é mais importante que o coletivo, algo que é, no limite, a própria negação da civilização humana.

A rapaziada aglomerada em Ipanema, garantindo com a “muvuca” de ontem a possibilidade – apenas possibilidade – de frustração da muvuca de hoje, no Réveillon, é um retrato desta onda de sentimentos mesquinhos, que não acha sentido senão em seu hedonismo, em seu prazer e vaidade os elementos mais importantes, aliás mesmo os propósitos de sua existência.

Quantos mortos sairão dos festins que o demônio que está acima de tudo neste país insuflou, ontem mesmo, ao provocar a “imbecilidade de rebanho” nas praias do litoral paulista? Pais, mães, tios, taxistas, simples desconhecidos que terão o azar de travar uma troca de palavras, um corredor de mercado, o ar de um elevador?

Mas são, quase todos, homens jovens, muitos “sarados”, exibindo orgulhosamente os bíceps e os peitorais, hipertrofias onde habita uma alma atrofiada, incapaz de amar, que só se agiganta no ódio.

Onde o Estado para coibir isso? Fosse uma manifestação por salários, por direitos sociais, por educação de qualidade, lá estariam os batalhões de choque, os escudos, os lançadores de gás e os jatos d’água para dispersá-los.

Mas são os filhos da elite, os “não põe a mão no meu filho” e nada lhes acontecerá.

Se o boçal-mór o faz, se os que têm dinheiro para alugar mansões em Angra, em Trancoso, se os paulistanos descolados do tal Poderosos Lounge Bar, podem, em porque os ‘bolçais-minions’ não podem?

Afinal, esta bobagem de salvar vidas é coisa de comunistas.

 

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