Almirante Othon: “o Brasil ser potência nuclear desagrada”

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Pela primeira vez, um grande jornal, a Folha,  se interessa em ouvir detalhadamente o relato do vice-almirante Othon Pinheiro da Silva sobre o caso que o levou a ser condenado a 43 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e organização criminosa por ter recebido, pagamentos de R$ 3 milhões, que ele diz serem por consultoria e a Justiça diz serem trabalhos fictícios.

Seja como for, ponha na balança: Marcelo Odebrecht, confessadamente corrompedor de centenas de políticos com infindáveis bilhões de reais, pegou 30 anos, que foram convertidos em 10, com seu acordo de delação e sai agora em dezembro.

Reproduzo trechos da entrevista que Othon deu a Monica Bergamo:

O Ministério Público Federal considerou que o estudo assinado pelo senhor para a Andrade Gutierrez era simplório e entendeu que ele é fictício.

É um desconhecimento total ou uma vontade de não querer reconhecer [a importância do trabalho]. São anos de pensamento sobre o Brasil.

O que ocorreu no país, e sobre o que falava no meu estudo? O consumo de energia cresceu e o estoque de água das hidrelétricas estacionou na década de 80. Antes disso, o Brasil poderia passar por vários anos “secos” porque tinha estoque de água. Mas isso mudou e veio o apagão.

O Brasil agora precisa de energia térmica de base.

Termelétricas têm que ser [movidas a] carvão ou [energia] nuclear. E nuclear é melhor para nós porque temos reservas [de urânio] correspondentes a 50% do pré-sal.

Nós temos que aproveitar o que a natureza nos dá.

Ah, se eu tivesse mais [usinas] nucleares. O custo do investimento é maior mas o do combustível é menor [do que o de outras alternativas].

No caso da hidrelétrica, o custo [do combustível, a água] é quase zero. E no caso da nuclear, é pequeno.

Se eu tiver a energia nuclear, eu economizo água e não chego nessa situação [de apagão]. A energia nuclear não compete com a hidrelétrica. Ela complementa. Era isso o que o estudo mostrava.

Depois o senhor foi para o governo e a obra de Angra 3 foi retomada.

Em julho [de 2005], eu soube que tinha uma lista [no governo Lula] para escolher o presidente da Eletronuclear. Eu não queria.

Mas aí eu fiz a grande bobagem da minha vida. Fui convidado. Bateu a vaidade e eu aceitei. Em outubro de 2005, assumi o cargo.

E como passou a receber dinheiro da empreiteira?

Tudo o que eu fazia na época [em que prestava consultoria] era na base do sucesso.

E coincidiu que fui para o governo e houve a decisão [de retomar Angra 3].

Quem decidiu foi o Conselho Nacional de Política Energética, do qual eu não fazia parte. Como presidente, eu apenas executei as diretrizes.

Mas passei a fazer jus [à remuneração] do trabalho [estudo para a Andrade] que eu fiz antes.

Quanto passou a receber?

Eu cobrei R$ 3 milhões, em valores de dezembro de 2004 [a Polícia Federal diz que o almirante recebeu R$ 4,5 milhões em valores atualizados].

Comecei a receber depois que houve a decisão da retomada das obras.

Como era um troço completamente diferente, eles falaram “vamos pagar através de outras empresas”. Aí virou outro crime.

Se fosse hoje, eu exigiria deles [Andrade] um contrato de confissão de dívida para que me pagassem só depois que eu saísse. Eu não receberia no cargo.

Eu tinha direito, foi um trabalho que eu fiz antes. Não era imoral nem ilegal. Apenas com a experiência de hoje eu teria feito diferente.

O Ministério Público Federal e a Justiça consideraram que era propina.

Não era propina, não foi mesmo. Eu achava que tinha direito de receber. Agora, tive o cuidado de não tomar nenhuma decisão [que beneficiasse a empreiteira], não tem nenhum ato de ofício assinado por mim.

Tivemos [ele e a Andrade]inclusive um atrito inicial, porque eu exigi que o TCU aprovasse os detalhes do aditivo [para o pagamento do serviço nas obras de Angra 3].

Eles ficaram irritadíssimos. Fui uma decepção para eles. Houve outras divergências, chegaram a parar as obras. Oras, se eu tivesse ligação com eles, isso teria ocorrido?

Delatores da empresa afirmaram que o senhor, na verdade, cobrava percentual sobre os contratos de Angra 3.

A Andrade já tinha um ressentimento em relação a mim. E delação premiada é um processo muito danado. O cara acha que agrada [os investigadores] e senta a pua. Ele não tem compromisso.

O senhor diz que sua prisão interessa ao sistema internacional. Que evidência tem disso?

Como começou tudo isso? Num depoimento que o presidente de uma empreiteira fazia sobre um contrato com a Petrobras.

Ele mencionou que ouviu dizer algo sobre o presidente da Eletronuclear estar de acordo com um cartel.

Isso serviu de pretexto para os camaradas vasculharem a minha vida desde garoto. Havia um direcionamento.

Mas haveria um comando externo nas investigações?

Não comando, mas influência forte, ideológica. Não posso provar mas tenho um sentimento muito forte. Houve interesse internacional.

E por que haveria interesse internacional em sua prisão?

Porque tudo o que eu fiz [na área nuclear] desagradou. Qual o maior noticiário que tem hoje? A Coreia do Norte e suas atividades nucleares. A parte nuclear gera rejeição na comunidade internacional.

E o Brasil ser potência nuclear desagrada. Disso eu não tenho a menor dúvida.

Há setores que acreditam que o Brasil deveria desenvolver a bomba atômica. O país fez bem em abrir mão dela?

Eu acho que fez. O artefato nuclear é arma de destruição de massa e inibidora de concentração de força. Mas, no nosso caso, se tivéssemos a bomba, desbalancearíamos a América Latina, suscitando apreensões.

E a última coisa que a gente precisa na América Latina é de um embate.

O país, no entanto, não abriu mão da tecnologia. Se necessário, em quanto tempo faríamos uma bomba?

Em uns quatro meses. Com a tecnologia de enriquecimento que nós usamos, podemos fazer a bomba com o plutônio, como a de Nagasaki, ou com o urânio, que foi a de Hiroshima. Temos os dois porque quem tem urânio enriquecido pode ter o plutônio também.

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19 respostas

  1. Grande brasileiro! Ah! e imaginar que uma grande parte dos brasileiros admira um outro militar, medíocre, batedor de continência para bandeiras de outros países! Judiciário , mpf, ridículos! Um dia, tenho fé, este país deixará de ser uma não periférica, de ser meramente um bajulador de países ricos…

    1. O q me causa espécie são as forças armadas diante de tudo isso. A entrega de uma parte do território brasileiro para os USÁ instalarem uma base, Alcântara estrategicamente localizada na Amazônia. Eles se calam. Acabaram com o programa do submarino nuclear q iria possibilitar a proteção eficiente da nossa Amazônia azul a imensa e rica costa brasileira. O general Heleno de direita falava da necessidade de ter uma força de um tigre e não de um poodle para defender os interesses do país as riquezas. Hoje todos se calam como
      se calaram na prisão do vice Almirante Othon. Amanhã com certeza será a vez das forças armadas q perderá efetivo e será trana forma da em mera pOlivia sem poder de fogo para defender o país das ameaças externas. Para q forças armadas se uma base dos USA com militares com alto poder de fogo será suficiente para manter a ordem interna e externa? Os militares brasileiros serão jagunços meros capitães do mato cumprindo ordens. Com o tempo para q marinha e aeronáutica? O exército será suficiente para fazer a função de polícia. Questão de sobrevivência os militares brasileiros reagirem. A vez deles chegará mais cedo q pensam. Pagrão caro pela traição.

      1. Serão as forças armadas tratadas como meras serviçais. Aqueles q financiaram o golpe os 1% os bilionários como os donos da Ambe estarão na Suíça, USA, França Londres etc. A classé média q serviu de bucha de canhão perdendo direitos básicos e pagando o pato. Se quiser ir para Portugal tem q aproveitar agora. Mas tem q ter 2 milhões no caixa para comprar um apartamento de 500 mil euros.

      2. Exatamente.

        Mourão, aquele general do Comando Sul, Heleno e outra meia-dúzia que volta e meia adoram deitar falação sobre moralização política do país, bem como possíveis intervenções militares, não abriram a boca para dar um pio a respeito da afobada prisão do vice-Almirante.

        Vai ver que, como o mesmo tem opiniões nacionalistas que batem de frente com a postura neoliberal destas outras figuras do Alto Comando, foi visto como uma “perda” necessária.

        Enquanto isso, programas de revitalização e capacitação tecnológica essenciais para o futuro das próprias Forças Armadas, vão sendo paralisado por escaessez orçamentária e retirada de prioridades.

        1. Dos militares brasileiros se exige no mínimo patriotismo. Sejam eles de direita, centro, esquerda ou o diabo q os partam. Não interessa a ideologia exigimos q sejam patriotas. Uma coisa é certa, como o General Heleno bem disse, não se defende o território brasileiro com terras a se perder de vista, um país continental, sendo um poodle. E estávamos sendo quando não tínhamos o submarino nuclear como projeto a ser implantado. Ou então caças
          aeronaves modernos. Os caças q
          tinhamos na aeronáutica eram sucateados. Caiam matando muitas vezes os pilotos cuja formação demanda tempo. Fato é q no governo do PT os caças e o submarino nuclear viraram realidade. Então numa coisa o governo petista fez, atender aos anseios do general Heleno q acredito seja de todos os militares, transformar o poodle em rotwailler. O q não foi feito no governo tucano quando nem comida os quartéis tinham para dar aos seus soldados onde um tratado estava sendo firmado para entregar a base de alcantara aos USA. Quando uma tragédia na base de Alcântara ceifou vidas preciosas de militares e cientistas explodindo e destruindo o sonho de lançamento de foguetes. A verdade e q ao chegar o PT ao poder o submarino e os cacas viraram realidade. A verdade é q foi o PT ser apeado do poder e o territorio do Brasil a base de Alcântara esta sendo entregue aos USA. Quem no poder defendeu o Brasil? A quem interessa a destruição e enfraquecimento das forças armadas? O resto senhores é puro moralismo. Ou vcs acham q nos USA não há corrupção. Mas la não se destrói a NASA ou as forças armadas dos USA, seus projetos. Q se puna os corruptos mas não se destrua o Brasil. A luta contra a corrupção está servindo para encobrir interesses maiores.pagaremos caro como nação e povo. Depois não reclamem.

    2. Após longos e negros três anos as evidências indicam que a vaza-a-jato se comporta como um puxadinho da CIA.

  2. Bom dia,

    Almirante Otto sem duvida nenhuma que teve muito interesse, por que o mundo não quer multipolar e sim na mão de um. E esse um nós sabemos quem é. O mais engraçado que leva nós a pensar que o FDP do U.S tem a convicção que desde norte até a Patagônia são terras deles e que nós somo invasores. Como disse um colega seu (brigadeiro) os inimigos de hoje não são os mesmos da década de 60. Vamos abrir o olho.

  3. Nós, que somos leitores assíduos deste e de outros tantos meios de comunicação engajados para um Brasil soberano sabemos quem é nacionalisa e quem é capacho dos EEUU. Resta verificar como fazer os viciados em novelas da globo enxergarem a luz!

  4. “A justiça atrasada não é justiça; senão injustiça qualificada e manifesta.”
    (Rui Barbosa BARBOSA, R., Oração aos Moços, 1921.

    O mesmo vale pra “imprensa atrasada”…

    E teve pressão internacional mesmo, pois o Almirante Othon desenvolveu método próprio de enriquecimento do urânio e quem detêm a tecnologia e a matéria prima pode fazer a bomba, produzir energia e reatores nucleares para submarinos. Ao invés de ganhar um prêmio e medalhas por seus conhecimentos de grande utilidade empresarial e de garantia da soberania nacional, ganhou foi prisão de moro.

    Pra que um país cuidar do petróleo, da energia nuclear, pra que água e minérios, pra que terras pra se plantar?? entrega aos “gringos” que eles sabem cuidar! (GSS)

    https://jornalggn.com.br/noticia/a-prisao-do-pai-do-programa-nuclear-brasileiro

  5. O almirante Othon disse “quase” tudo, mas o suficiente para mostrar aos descerebrados e analfabetos políticos , manipulados e cegados pelo ódio nazifascistóide, que o ‘buraco’ é bem mais embaixo.

    Tão importante quanto o dito é o que o almirante omite (ou até diz em contrário) sobre a questão das armas atômicas. Mais eu não digo nem me perguntaram. Mas os iniciados entenderam perfeitamente a mensagem.

  6. De fato, se e quando a fizermos a bomba, a Argentina tambem fará, isso nao dá para evitar.
    E pode ser que o façamos dentro de decada e meia, depende da situaçao geopolitica de então.
    Mas tem solução, negocia-se com os hermanos primeiro e compartilha parte da tecnologia: afinal nao pretendemos fazer nenhuma guerra com nossos vizinhos, nem eles conosco, seria muito estupido. E tambem nao é de nosso estilo ‘a dominancia total’

  7. Uma coisa seria o Brasil ter alienado seus ativos e destruido suas empresas la pelo fim da decada de 50. nA epoca a gente era zero muito a esquerda, nao havia internet, nao havia meia duzia de paises emergentes no mundo, o tal Bretton woods ira irrecorrivel.
    Outra é fazer agora como estao fazendo.
    Nao temos mais problema cambial, temos internet, o polo economico chines está ficando cada vez mais irresistivel, hoje tem setores nacionais, esta crescendo a desconfiança internacional quanto as intençoes/ e o poder do imperio de uoxington.
    Vamos acordar e recuperar, temos foco, conhecimento e esperança.

  8. Alm. Othon nosso emblema de nacionalismo e competência profissional, por isto sacrificado pelos lavajateiros ávidos por fama, dinheiro e interesses espúrios. Este é nosso Brasil. Gente sem valor ferrando o que temos de melhor

  9. 1) A Engevix Engenharia fechou contratos com a Eletronuclear, entre 2011 e 2013, rebendo pelo menos R$ 136.894.258,23.

    2) Para repassar propina a Othon Luiz, a Engevix fechou contratos fictícios com a empresa Link Projetos, de Victor Sérgio Colavitti, que repassaria a quantia para a empresa Aratec Engenharia, de Othon.

    3) Nos meses de maio de 2010, maio de 2012 e janeiro de 2013, a Link recebeu da Engevix as seguintes quantias de contratos: um acordo de R$ 500 mil e outros dois de R$ 250 mil. A denúncia do MPF afirma que não houve a prestação dos serviços.

    4) Para completar o repasse da propina, por sua vez, a Link “contratou” serviços da Aratec de revisão de projetos de engenharia, nas áreas de mecânica e tubulação. O valor acertado foi de R$ 400 mil.

    5) Em delação premiada, o proprietário da empresa Link, Victor Sergio, afirmou que a continuação dos repasses foi possível com a renovação informal do contrato entre as duas empresas (a de Victor e a de Othon).

  10. O que mais me impressiona é a facilidade que tem um sujeito medíocre, limitado e boçal como o Moro para acabar com a vida de um intelectual, cientista e patriota como o Almirante Othon.
    Estamos em uma sociedade doentia onde os crápulas sentem-se à vontade e prosperam por serem capacho de nossos colonizadores.

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