Alguns jornais especulam com a hipótese de que a indicação do desembargador Kássio Nunes para a vaga que se abre no Supremo Tribunal Federal com a aposentadoria do decano Celso de Mello seria uma ação de Jair Bolsonaro “contra a Lava Jato”.
Acho isso impreciso: depois de todos estes anos acompanhando o comportamento do ex-capitão, quem analisa seus atos deve colocar, ao lado (ou até acima) do compadrio e do eleitoralismo o seu desejo de vingança contra qualquer um a quem considere um desafeto e um traidor.
Por isso – e porque Kassio Nunes deve ir para a 2ª turma do STF, onde são julgados os pedidos de suspeição de Sérgio Moro, não apenas em relação a Lula – penso que o alvo que o presidente visa com a escolha é o ex-juiz de Curitiba, que pode, em 2022, recolher uma parcela – em bora sombra do que já foi – dos votos de direita, que o presidente considera seus.
Não procedem, se for seguido o Regimento do STF, manobras para colocar outro ministro no lugar de Celso de Mello naquela Turma: o destino do ex-presidente Dias Tófolli é a 1ª Turma – art 4°, § 8°: “O Presidente do Tribunal [Tofolli], ao deixar o cargo, passa a integrar a Turma de que sai o novo Presidente [Fux]” – e o de Kássio, se confirmar-se sua indicação, a 2ª – art. 4, § 10: ” O Ministro que se empossa no Supremo Tribunal Federal [Kássio] integra a Turma onde existe a vaga”.
Não é de cerveja nem de Evangelho que gosta Bolsonaro. É da vingança, aquela que se toma fria.
Isso, claro, se este não for mais um “balão de ensaio” de Bolsonaro. Mas não creio, foi longe demais para sair com outro nome depois de dado o do desembargador como certo.