As ‘laranjas’ não podem ser armas contra as mulheres

Na onda reacionária que avassala o Brasil, surfam os projetos para reduzir a já parca participação das mulheres na política, propondo acabar com a cota de 30% de candidatas, já muito pouco frente a um contingente que é de mais da metade da população.

Próximo a este Dia Internacional da Mulher, a coisa ganhou força, com a revelação do esquema de extorsões e desvio de dinheiro do Fundo Eleitoral usando de candidatas “laranja” pelo partido de Jair Bolsonaro, em Minas e em Pernambuco, que se tenha descoberto até agora.

Uma coisa, é óbvio, nada tem a ver com a outra. Os mesmos desvios poderiam ser (e às vezes são) feitos com candidaturas masculinas.

O problema é que, nos últimos anos,  a misoginia anda em voga em nosso país. Nos protestos anti-Dilma, não apenas não faltou este componente como, várias vezes, ele se expressou de forma grosseiramente explícita.

E não parou, ou já se esqueceram dos “filhos desajustados criados só pela mãe ou avó”?

Um dos maiores obstáculos ao crescimento da participação política da mulher, com certeza, está na desqualificação dos partidos como ferramentas da política. Os partidos são o aprendizado das relações políticas, das idéias programáticas, da visão de mundo. Da tal agora maldita “ideologia”.

Outro, derivado deste, é a natureza “avulsa” que tomam as candidaturas. Nos países onde o sistema de listas partidárias nas eleições é regra, a participação das mulheres nos parlamentos é sensivelmente superior: a disputa interna em partidos organizados é muito mais dependente da atuação política do que de recursos financeiros e capacidade de reuni-los no meio dos que o têm para dar: empresas ou empresários.

Para quem se interessa pelo tema, indico o estudo Participação Política de Mulheres na América Latina: o impacto de cotas e de lista fechada, de 2016, elaborado por Alexandre Spohr, Cristiana Maglia, Gabriel Machado e Joana Oliveira, todos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que reúne dados e comparações.

Infelizmente, nada animadoras quanto ao Brasil.

 

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8 respostas

  1. Uma dúvida, Brito: Ruanda, país africano miserável, aparece no topo da lista e bem abaixo são apresentados os países nórdicos (Finlândia Suécia e noruega). Acho que o gráfico mostrado está em desacordo com o texto e com o estudo nele citado. Quanto ao Brasil, não surpreende que seja o mais mal colocado no continente.

  2. Infelizmente, a força que deram a bolsonaro, com o intuito de faze-lo vencer o PT e a esquerda, também serviu para enfraquecer as mulheres.
    Muitas delas priorizaram suas preferências políticas e se subjugaram a valores machistas, para permitir a vitória do coiso.
    A campanha do #ELENÃO# deixou isso muito evidente.
    Mais um efeito colateral negativo do antipetismo.

  3. Esse escândalo mostra que a cota para candidatas deve ser revista, mas pelo motivo oposto: ela não está tendo o efeito esperado e necessário, os partidos estão colocando candidatas “inúteis” só para preencher a cota enquanto dão um jeito de favorecer os políticos tradicionais, majoritariamente homens.

    Isso mostra que é necessário buscar mecanismos que de alguma forma punam partidos que não investirem, de fato, em eleger mulheres. Talvez com a criação de uma cota não para candidatas, mas para deputadas e senadoras. Dessa forma o partido que não investir em eleger mulheres automaticamente perde espaço no congresso.

    1. As cotas devem ser CUMPRIDAS, os lideres partidários devem ser PUNIDOS e a Justiça Eleitoral deve sofrer CORREIÇÃO interna porque tudo isso só foi possível pela a sua OMISSÃO burocrática (ativa ou passiva?) por quem era responsável por impor e vigiar as regras e leis eleitorais, inclusive esta de cotas de candidatas mulheres…

  4. A política brasileira precisa de muitas mais mulheres mas que não sejam podres como Janaína Paschoal, Ana Amélia, Joice Hasselmann e outras excrescências.

  5. As vezes pensamos que as mulheres agirão diferente no poder ou qdo em posicap de decisão. Engano vide as mulheres no STF ou STJ ou governos.
    Há uma ideologia (direita e esquerda) que todas estão inseridas.
    Por isso tais pesquisas e argumentos técnicos irrelevantes.

  6. A cota de candidatas mulheres foi estabelecida porque os políticos machistas não dão espaço para a participação feminina nos partidos…
    Quando os mesmos políticos machistas BURLAM a lei tanto para fazer caixa 2 e manterem as mulheres fora da política (usando mulheres-fruta laranjas ao invés de melões) a solução brilhante é acabar com a cota feminina ao invés de punir os “líderes” partidários???
    Que raio de lógica é esta??? Pobre Brasil….

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