Bolsonaro leva índia para exibir na Corte, digo, na ONU

Nos séculos 16 e no 17, era comum que se levassem índios para a Europa, a fim de exibir seu “exotismo”.

Faziam bom papel nas cortes, divertiam as gentes, punham-lhe as roupas da metrópole, convertiam-nos e…os faziam desaparecer.

Laurent Olivier, curador-chefe do Museu Nacional de Arqueologia francês – e que também estudou a “germanização da Europa” no período nazista, escreve sobre os tupinambás levados à corte francesa:

Em todos esses casos, não se tem a menor ideia do que esses ameríndios estabelecidos na França se tornaram em seguida. A chegada deles, ao descer do navio, não passava despercebida. Eles suscitavam a curiosidade da multidão, ainda mais quando ainda tinham um aspecto meio selvagem, restando uma margem suficiente para assimilá-los vestindo-lhes como europeus, batizando-lhes ou casando-lhes. Mas, uma vez que isso fosse finalmente feito, o destino deles não interessava a mais ninguém. Eles não passam de estrangeiros dentre tantos outros, e nada mais era dito sobre eles. Seus filhos mestiços já não possuíam mais nada dos modos dos quais eles mesmo haviam sido despojados. Para que eles se integrassem, definitivamente, entre os europeus, era necessário esquecer de onde eram e de onde vinham.
Ao mesmo tempo, milhares de indígenas aqui eram dizimados por armas, cativeiro e doenças.
Conto a história porque Jair Bolsonaro está levando, pelo exotismo, uma moça indígena a Nova York, para exibi-la na ONU e “mostrar” que os indígenas estão com ele e que as queimadas são apenas um hábito cultural das comunidades.
Nem lhe falo o nome, que vai virar notícia deprimente no mundo, mas é uma pessoa que transformou sua aldeia também numa exibição de exotismo, vendida em “pacotes” para turistas que querem conhecer e partilhar de “hábitos indígenas”, com todo o conforto e segurança.
É direito que não se lhes pode tirar, mas não é a realidade das populações indígenas que ainda restam ao Brasil, que sofrem com a mortalidade infantil, a desnutrição, a perda de suas terras para grileiros, madeireiros, garimpeiros e, nos eiros, todo tipo de aventureiros.
E que morrem do alcoolismo, do suicídio provocado pela perda de identidade abrupta.
É que, 500 anos depois, ainda é preciso que que eles esqueçam “de onde eram e de onde vinham”.
E que a terra era deles.
Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

15 respostas

    1. Hoje tivemos um exemplo da escola com partido. Esperando ansioso a abalizada analise de Olavo de Carvalho sobre a militancia de Greta Thunberg

      1. Essa Greta Thunberg não é aquela que está sendo indicada para o Nobel da Paz deste ano? Tanta exposição que ela está tendo agora é capaz dela ganhar…..

  1. De início, achei que iríamos regredir aos anos 80, época do governo Figueiredo e sua demofobia, temperada pela truculência de Newton Cruz e pelos resquícios do Serviço Nacional de Informações. Com o passar do tempo, passei a achar que a regressão nos levaria aos 70 de Médici, época áurea dos porões e do “milagre” brasileiro que estabeleceu o crescimento do bolo para ser partilhado por apenas uns poucos. Mas nunca, nem nos piores pesadelos, imaginei que a regressão nos levaria à época da exibição de nativos brasileiros como bichos, nas grandes feiras europeias, para deleite e surpresa dos “civilizados”. Pior, sem a chance de ter tais cenas registradas pela arte de um Rugendas ou Debret, mas pelos celulares de chocados diplomatas, que perceberão que, passados tantos séculos, o Brasil não conseguiu civilizar-se. Pelo menos, uma parte dele. Ao menos, entenderão claramente porque queimamos a natureza descaradamente. Questão de coerência cronológica, talquei?

  2. Ela tem um canal no Youtube q é deprimente. Aquele da pepeca apertada devia ser legendado ou banido sei la. Mas como o sr diz a noticia vai correr o mundo. É so ficar sentado cruzar os braços esperar e rir de tudo

  3. helio negão está com o filme queimado. É preciso colocar outra coisa em seu lugar. Na atual conjuntura, uma índia cai bem.

  4. Este será um dos acontecimentos mais fantásticos deste fantástico desgoverno. Primeiro, para se eleger faz a cabeça dos inocentes com uma chuva incessante de fakenews. Depois, não contente em atacar os direitos dos índios, leva um indígena incapaz de ter consciência da enorme tragédia de seu povo, para exibi-la como sinal de que gosta de índios e os índios gostam dele. Búfalo Bill matou cinco mil búfalos em um ano, em uma carnificina sem qualquer propósito a não ser o de tirar dos índios seu alimento, mas levava um búfalo domesticado para exibição nos rodeios de que participava. Certamente para dizer que era amigo dos búfalos.

  5. E não é que tem gente propondo Cacique Raoni para Nobel da Paz?!… Tanto fez como tanto faz, tem sempre alguém surfando na “onda”.

  6. O capitalismo tem dessas coisas, às vezes elevam uma adolescente à coach internacional do meio ambiente. Será um belo encontro na ONU, Bolsonaro e “sua” índia reivindicando internet na aldeia, Gretha e galera ecologista, cacique Raoni e Macron, Trump e Eduardo Bolsonaro fazendo “arminha” contra o Irã…..

  7. Enquanto isso, fogo na Amazônia, fogo no cerrado, fogo pra todo lado. Governador mandando abrir fogo contra pobres favelados e evangélicos condenando nossas almas ao fogo eterno.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *