Bolsonaro não liga para pesquisas. Mas liga (e muito) para suas falanges

Jair Bolsonaro diz que não perde tempo “discutindo pesquisa Datafolha”.

Também eu não, até porque ela apenas confirmou o que, por outras pesquisas e pela nossa própria percepção já estava evidente: o prestígio de Jair Bolsonaro refluiu da “maré alta” com que arrastou a maioria dos votos e reflui, cada vez mais, para um núcleo de direita que, embora maior e mais falante, sempre existiu e teve um terço das decisões eleitorais no Brasil.

É mais significativo analisar o que se revela neste grupo, e o texto de Anna Virginia Balloussier e Fábio Zanini, na Folha, traduz bem ao reproduzir o que dizem os “eleitores de Bolsonaro que continuam com ele”.

É o capital político de Bolsonaro – o único, já que não tem partido, bancadas e nem história política de liderança. É nele que se focará, é ele que o dirigirá.

A “política” – que não é velha nem nova, é o que é – empurraria o presidente para uma postura de maior moderação e abertura, agregando as forças conservadoras e a fisiologia presente no parlamento brasileiro desde que este passou a existir.

Entretanto, a ideia de exercício do poder no Brasil mudou desde que a histeria autoritária encontrou na Lava Jato o seu conceito-mestre.

A política, tal como é desde então, é a capacidade de ser maniqueísta, autoritário, punitivo, intolerante, messiânico.

É isto que este núcleo espera de seu “Mito” e é isso que ele vai tentar lhes entregar.

Tudo mais é secundário ou mesmo irrelevante, inclusive a reforma da Previdência, o pacote de Sérgio Moro e o que mais for.

Não há um projeto de governo fascista para o Brasil, porque o projeto fascista clássico incluía nacionalismo e crescimento econômico como ingredientes essenciais. No nosso, estagnação e entreguismo são as tônicas.

Há um projeto, isto sim, de fascistização da política, de transformação das relações da vida em ódio, em intolerância, em prisão e em morte.

Para isso, não é preciso maioria, mas a manutenção de uma força intimidante que acue a maioria.

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9 respostas

  1. Muito bem escrito, Brito. E isso me assusta. No final, o desastre do Governo Bolsonaro será apenas do Congresso. Parece que vivemos um pesadelo.

  2. Muitas homenagens ao Lula neste domingo, enquanto no mesmo dia, os bolsonaristas Gabriel Medina e Palmeiras se deram mal. Lula livre.

  3. O governo do Bozo é um fascismo sem autoestima do Brasil ????????, portanto, fadado ao fracasso. Bozó renunciará a presidência como Jânio e Collor. Quem viver verá !

    1. Aí é que pode residir o maior perigo. Não sabemos o que virá de militares que não dão mais qualquer indício de que são nacionalistas.

      1. Concordo.
        A esta altura, a menos que aconteça a impugnação nlda bozochapa, prefiro que o Bozoasno continue no poder, desgaste-se e desgaste a direita raivosa (o cuidado é não permitir que a direita taivosa se desgarre da imagem do Bozoasno e tente convencer os incautos e alienafos de que não teve nada a ver com a eleição dele).
        Mourão é controlado, mais coordenado, e, por mera conveniência, mais tratável do que o Bozo, o que o torna mais perigoso. Sua ascensão ao poder, no cado do mero impedimento do Bozo, será a “ditadura militar do voto direto” pois é o militarismo que ele representa e que já está, na prática, instalado no Planalto, apenas aguardando para assumir de direito o comando que já detém de fato.
        Mourão no poder seria o casamento do voto direto, ainda que fraudado, com a baioneta, e ainda tendo a Justiça como jagunço. O poder sob medida sonhado pela casa grande e pelo mercado financeiro.

  4. Ele não perde tempo com pesquisas, tem muito a fazer: Destruir o quanto possa as possibilidades de desenvolvimento atual e futuro do Brasil, social e econômico. Mas quanto às pesquisas , bem que ele gostaria que lhe fossem favoráveis, porque este é o supremo sonho do carrasco: Ser abençoado pela vítima que degola.

  5. Hoje, como em 1964, o papel das instituições é segurar a “vaca brazeel” para os estrangeiros mamarem.
    A diferença é que, se o gringo quiser bife, o atual (des)governo não hesitará em nos abater para vender os pedaços.

  6. Muito interessante a matéria da Folha com os bolsonaristas. Ela deixa ver nas entrelinhas que eles todos têm fontes de informação alternativa que os vão levando no bico da maneira mais descarada, com as mentiras mais deslavadas nas quais eles ainda acreditam piamente. Foi assim, através de mentiras engendradas com base em informação de “especialistas” sem qualquer fonte segura, que eles “souberam” que o desvairado do Araújo “tem trazido muitos investimentos para o Brasil”. Considerando tudo isso, não há mais base verdadeira e sólida para a continuidade da confiança dos bolsonaristas, pelo menos entre os que não são de todo tomados pelo fanatismo. E o apelo de todos eles para que seu “mito” incremente mais ainda o diálogo interno em detrimento do externo, o diálogo com eles mesmos, já é sintoma de que rateia a máquina da confiança deles, que está a precisar de mais óleo de mentiras para tentar continuar em funcionamento. Essa falta real de boas notícias, boas notícias que não sejam só virtuais e mentirosas, é indício seguro de que em breve, quando não der mais para absorver ingenuamente as tais mentiras, esta gente bolosnarista, mesmo a semi-fanática, vai desembarcar do falso ídolo, e não vai desembarcar com pouca raiva.

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