Ontem, falei aqui que a política de Jair Bolsonaro era por “fogo no parquinho” que considera ser este país.
Hoje, suas declarações num culto evangélico, publicadas pela Folha, mostram que ele girou mais ainda a torneira do seu lança-chamas, prometendo levar a Petrobras a perdas de pelo menos R$ 60 bilhões na segunda-feira, acionando o rolo compressor do Centrão para instalar uma CPI para investigar o óbvio: que a Petrobras pratica uma política desastrada de preços, que ele cansou de louvar e manteve intocada mesmo com as três trocas que promoveu na presidência da empresa.
“A Petrobras perdeu R$ 30 bilhões. Acredito que, na segunda-feira (18), com a CPI, vai perder outros 30.(…) A Petrobras perdeu R$ 30 bilhões. Acredito que, na segunda-feira (18), com a CPI, vai perder outros 30″. Vamos para cima da Petrobras!”
Ele diz que “os [acionistas] minoritários [são] empresas de fundo de pensão dos Estados Unidos que ganham em média R$ 6 bilhões por mês. Dinheiro de vocês que botam combustível nos carros.” e, aposentada o “a culpa é dos governadores” passam a ser eles os novos inimigos, os “malvados” a quem, curiosamente, ele quer vender a empresa na sua planejada privatização, isso depois de ter vendido a eles grande parte da Eletrobras.
Se, de fato, Bolsonaro acha que são os investidores estrangeiros os responsável pela Petrobras, teria, antes, de reverter o que ele – e Temer, antes – fizeram: nos governos petistas, o Estado (União, BNDES e Fundo Soberano) detinha 64% do controle acionário da empresa e 48% do capital total e, agora, tem apenas 50,3% do controle acionário e meros 46% do capital total.
Bolsonaro sabe – e não se importa – que acaba de contratar uma profecia autorrealizável e afundará os preços das ações da Petrobras na segunda-feira e, possivelmente, com perdas maiores que os R$ 30 bilhões com que acena. Qualquer carteira de curto prazo vai cuidar de se livrar logo do prejuízo antes que aumente, além de derrubar os preços de todas as que carreguem os fundos em sua composição, pela redução de riscos que, para eles e seus investimentos são o diabo encarnado.
Haverá, quase que com certeza, outra estilingada do dólar, outro hedge financeiro, neste caso um “seguro contra malucos”.
Bolsonaro está apostando, ao contrário do que acha a maioria, em algo muito diferente de uma contenção artificial de preços. Ele joga em uma espécie de “incêndio do Reichstag” econômico, para convencer os tolos de que é o alvo de uma conspiração que só a força poderá ser debelada.
Embora isso possa parecer ridículo, que não o subestimem.