Jair Bolsonaro tomou outra vez a iniciativa de acossar Sergio Moro com dureza, para sinalizar aos seus que não se deve ser tolerante com seu ex-auxiliar.
E usando argumentos verossímeis.
“Como o cara aceita trabalhar comigo, sabendo que sou armamentista e depois trabalha contra?
Verdade. Bolsonaro não enganou ninguém sobre isso e Moro correu atrás do cargo de Ministro da Justiça sabendo disso.
Claro que Bolsonaro, para incutir ódio, fala também coisas abiloladas, como dizer que Moro “é de esquerda”, para ele um xingamento que distribui generosamente.
“Esse não aguenta 10 segundos de debate, cara…”
E não aguenta mesmo, porque está acostumado a falar de uma posição de mando, não de igual para igual, porque era assim que falava como juiz e, depois, como “celebridade”. Não que Bolsonaro aguente, mas pelo menos sabe partir para cima, agressivamente.
O conteúdo, porém, importa menos que a forma. Bolsonaro já considera que deixou passar tempo demais e corre atrás de “marcar na paleta” o ex-juiz como inimigo mortal.
Acha que empurrando Moro para um confronto sem perdão afasta dele seus eleitores e o empurra para cima dos eleitores antibolsonaristas, tirando-os de Lula.
Poderia estar certo, mas não está, porque não são as mesmas pessoas.
Bolsonaro sabe que perderá para Lula no povão, onde até Miriam Leitão reconhece que ele terá perto de 60% dos votos, mas espera uma votação significativa neste segmento por conta do “Auxílio Brasil turbinado. Vonta vencer nas classes médias baixas, com renda até R$ 5 mil, nas quais pretende “segurar” Moro, camada em que deve se dividir entre os três principais candidatos. E, entre os mais ricos e escolarizados conta com uma derrota para Moro e Lula.
Acha que os eleitores de Moro lhe virão por inércia no segundo turno, algo que Moro não pode pretender do eleitorado de Bolsonaro.
Qualquer outro candidato de esquerda ou centro esquerda deveria temer que esta estratégia de polarização entre os candidatos de direita o deixasse à margem da disputa, mas não Lula, com a sua inserção no eleitorado mais pobre e suas conexões com o que ainda sobrevive de humanismo na elite intelectual e nos jovens do país, sobretudo os da periferia que, sem terem visto, pressente nele a sua representação.
Bolsonaro e Moro, enfrentando-se um ao outro, retiram Lula da política convencional e fomentam seu favoritismo off road.