Bolsonaro vai tentar uma “operação engana-trouxa”?

O que faria um governo que passou três meses reclamando da “velha política”, das pressões para entregar cargos aos “políticos”, que nomeou quase metade dos ministros entre militares e pessoas sem qualquer articulação, de repente ir aos jornais e dizer que vai “abrir as portas” para quase uma dúzia de partidos?

O que quer dizer “abrir as portas”? Não podem ser a do Vicente Celestino, “porta aberta/já não vivo mais ao léu/porta aberta/ao transpor-te entrei no céu…

Se é dar cargos, vai falar com as pessoas erradas – presidentes e líderes de partidos – porque a estes só interessam ministérios ou estatais.  Nenhum deles vai chegar diante das bancadas e dizer que “fechou um acordo” com o governo para nomear um chefete lá em Cabrobó.

Miuçalha quem resolve é o ministro, não o Presidente. E miuçalhas levam os miúdos, não os graúdos.

Bolsonaro vai abrir mão do discurso que, embora falso, ainda é o principal argumento diante dos seus, de que está como um Quixote, lutando contra a “velha política” do fisiologismo que leva à corrupção?

Não era isso o que não faria, pra não ter de jogar damas com Lula e Temer na prisão, segundo suas próprias palavras?

Agora, se são promessas vagas, para ver mais adiante, o que vai levar é um sorriso de esguelha, um aperto de mão sem força e um “preciso conversar com as bases” que, claro, não querem ouvir uma conversa sobre intenções.

Como nos casamentos antigos, o dote precede a núpcia.

Neste caso, pior, perdeu-se o trimestre do namoro, das piscadas, de requestar a dama.

Não dá para enfileirar as moças e, uma a uma, perguntar em quanto fica a noitada da Previdência, porque as distintas não têm a menor dúvida de que, cessada a causa desta paixão súbita,  sobrarão três anos e pico de fazer as vontades do senhor e limpar suas sujeiras.

Como diz um amigo que gosta de arremedar um falso francês: m’angane qui je gôut.

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3 respostas

  1. O dote precede a nupcia: resume bem todos os projetos aprovados pelo governo golpista anterior.
    Para sorte de quem não o apoiou, o atual presidente não tem competência para aprovar projetos nesse esquema.

  2. Concedemos a nossos adversários politicos a consideração que nossos aliados não recebem. Adversários, lembremos, que nos consideram inimigos a ser se possívelmente eliminados; depetização é o termo mais suave que eles usam contra
    nós. Mesmo assim engolimos premissas, admitimos por hipóteses mentiras descaradas tais como uma campanha contra a corrupção liderada por demotucanos e jornalistas da grande imprensa (em minúsculas mesmo), ou um mal disfarçado desejo de reformas da velha política por um partido de aluguel que atua no baixíssimo clero do Congresso elevado agora a condições de obispado que quer na verdade distruir a possibilidade de política democrática. E assim eles vão se instalando, desmoralizando mesmo o correto combate à verdadeira corrupção e o desejo da boa política. Seguem com nossas bandeiras na mão com se fossem deles próprias. E nós paralisados, quase imóveis, entre o muxoxo e a ruminaçao.

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