Brizola nasceu há 94 anos. E por que não é apenas passado?

Ontem, conversando com João Franzin,  jornalista de São Paulo, da área sindical, ele perguntou-me a que eu atribuía o fato de Leonel Brizola, dez anos depois de sua morte, ainda ser tão lembrado na internet.

Claro que existe a saudade, existe o fato de ele, morto, não estar tão sujeito às idiossincrasias dos vivos, não ter de dividir apoio ou discordância em cada coisa que dissesse e, ainda, o fato de não ser mais “adversário eleitoral” de ninguém.

Disse-lhe algo, porém, que acabou não entrando na correta matéria que reproduzo abaixo, publicada hoje, na passagem do 94º aniversário de nascimento de Brizola, talvez porque isso seja algo de muito subjetiva compreensão minha: é que Brizola ainda representa – e sem nunca tê-lo desejado – a luta contra aquele que sucedeu às oligarquias e ao poder militar como forma de dominação do Brasil: os meios de comunicação.

Com todos os méritos – e teve, ajudado por ter “nascido” já em plena era da TV – que o PT possa ter tido em matéria de comunicação, ele jamais teve essa compreensão ou a coragem de tomar as posições a que elas nos obriga.

Brizola, agora herói da Pátria, a teve, com todos os ônus que ela o trouxe e que muitos viviam repetindo que era “uma besteira”  para suas pretensões eleitorais – porque poder, para ele, sempre foi inseparável de voto – enfrentar a Globo como ele fazia.

Sim, a máquina de poder da mídia pode nos devorar por isso.

Mas, sem isso, sempre nos devorará, mais cedo ou mais tarde, por mais dóceis e complacentes que sejamos.

Porque a classe dominante brasileira não tem ideias a expor, porque se expusesse o único que pensa para o Brasil, o papel de donos do entreposto colonial, seria atirada ao mar como os americanos atiraram as caixas de chá por conta do imposto inglês que lhes cobravam.

O que tem a dizer, alternada ou simultaneamente, é falar de corrupção ou subversão, embora os seus as pratiquem todo o tempo, por décadas e séculos.

Reproduzo a matéria, muito gentil, da Agência Sindical.

Jornalista trabalhou 22 anos com Brizola

João Franzin


Fernando Brito trabalhou com Brizola 22 anos

O jornalista Fernando Brito trabalhou 22 anos com Leonel Brizola. Fernando, que edita o blog Tijolaço, falou à Agência Sindical, encerrando a série de entrevistas sobre o líder trabalhista que faria 94 anos sexta, dia 22.

Brizola ressurgiu com força nas redes sociais e entrou para o panteão dos heróis da Pátria. Fernando Britto analisa esse ressurgimento e também a trajetória do último grande continuador do trabalhismo.

Definição – Para Fernando, a palavra que define Brizola é inconformismo. Mas, ressalva, era um “inconformismo social, que transcendia a questão pessoal”. A base, ele avalia, era a postura ideológica: “Brizola dizia que a ideologia é o que nos orienta durante o voo, quando as nuvens encobrem o horizonte e dificultam o pouso”.

O problema dele era sempre político, diz o jornalista. Mesmo nas contrariedades, não passava recibo. Foi assim frente a Lula, com quem teve uma relação acidentada. “Vi o Brizola ser fraterno e vi bater, porque havia uma certa visão elitista no petismo”, conta, calculando que,  hoje, seria diferente, com o PT no canto do ringue. “Nada como tomar o remédio amargo”, comenta.

Exílio – Para Fernando, a figura pública massacrou a vida pessoal de Brizola. Os poucos momentos de folga eram as idas à estância no Uruguai, onde, diz, a vida também não era fácil, pois havia trabalho pesado a fazer. Ele conta que o exílio obrigou a família Brizola – que vivia confortavelmente – “ir viver numa casa de pedra, sem luz elétrica”.

Os 15 anos de exílio distanciaram Brizola da vida nacional. Isso, segundo Fernando Brito, se reflete também na sua visão de comunicação. “Ele não teve como acompanhar as mudanças tecnológicas. Eu fico imaginando Brizola frente às facilidades da internet. Mas a comunicação pra ele eram ainda o rádio e os jornais”.  

Tijolaço – Foi uma coluna dominical – paga – que Brizola publicou primeiro no Jornal do Brasil e depois em O Globo. “No começo, uma equipe fazia, sugerindo temas. Depois, eu passei a fazer. Na verdade, Brizola ditava os textos. Se você for observar, há, ali, períodos longos, repletos de vírgulas. Eu finalizava os textos, mas os títulos eram sempre do Brizola”, relembra.

*Aqui, apenas um complemento, explicável pela necessidade de resumir no texto. A comparação da ideologia com o radar, no pensamento do Brizola, terminava no céu nublado. Na hora de tocar o solo, dizia ele, um apaixonado por aviação, “o vôo é sempre visual”.

 

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9 respostas

  1. Enquanto sua Nêmesis (o Império Global) for um poder no Brasil, SEMPRE o exemplo e a coragem do Governador Brizola no Rio de Janeiro, na “Toca do Leão”, partir para o enfrentamento com as Organizações Globo será LEMBRADO.
    Embora não tenha ganho a Guerra contra o poderoso inimigo, suas idéias e exemplo que hoje servem de base a nova geração.
    Para a GUERRA atual que vivemos, onde felizmente as novas tecnologias corroem o Poder Global.
    Concordo plenamente contigo, o Brizola com INTERNET (e a TUA ajuda) seria INFERNAL !!!
    Se você me permite, o Leonel de Moura Brizola no âmbito político e no rol dos Heróis da Pátria só tem um tímido similar, menor, e muito mais breve .
    Mas que teve parecida importância histórica e POLÍTICA; para mim foi Tiradentes, o “líder” que não era líder da inconfidência mineira. Ele não conseguiu a independência do Brasil, mas toda estória posterior a ele foi referenciada. Não a elite mineira covarde que fugiu e se salvou da forca.
    Se o futuro reservar aos brasileiros a queda do Império dos Marinhos, esta história começara a ser contada, num futuro ainda mais distante, inevitavelmente, em Leonel Brizola…

  2. Pois eu,que tive o privilégio de conhecer o Dr.Leonel,na década de 60,em Poa,e fui amigo de um,que lhe era mais chegado,e que lhe emprestou os sapatos para que se casasse,quando morava na Demétrio Ribeiro,no centro de P.Alegre.Depois, o conheci na Rua da Praia,o lugar por mim considera,o mais DEMOCRÁTICO DO MUNDO,de todos os tempos.Infelizmente,morreu.Quanto à matéria,Sr.Britto,tenho opinião,já expressa em seu blog,e por certo nunca lida,acho que a atividade JORNALÍSTICA,com seus privilégios,tipo,inventar fontes e depois protege-la com o SEGREDO DA FONTE,certamente contribui para a PICARETÁGEM que se observa em todos os lugares.O DIREITO DE ” EDITAR “,sem o exercício do CONTRADITÓRIO que constitui num ato ,a tendência de todo o PEQUENO BURGUÊS,maioria entre os jornalistas,de servirem sempre como vassalos dos patrões,os BURGUESES,uma tendência clara dessa classe social,em seremos intermediários ideológicos da BURGUESIA,que faz com que o povo,odeie a POLÍTICA,fazendo que a confundam com PARTIDARISMOS,o que também não é pecado,mas visto somente por esse prisma,despolitiza qualquer tipo de manifestação.Hoje,com a introdução da comunicação ” DIGITAL “,onde o exercício do contraditório ainda pequeno,mas é mais intenso do àquela época do Dr.Leonel,mas se tivesse nas mãos e na mente,essa ferramenta,certamente muito teria nos ensinado.Em matéria do EXERCÍCIO DO CONTRADITÓRIO, o Dr.Alberto Pasqualini dizia não ter conhecido ninguém melhor que o Dr.Leonel.

  3. Vocês querem saber que lugar era este em que ele nasceu, há 94 anos?
    O próprio Brizola definiu:
    “Brasil Profundo, onde ninguém registrava os filhos; onde não havia um médico: havia um curandeiro; não havia professores. Não havia nada! Onde as crianças somente nasciam pelas mãos das parteiras práticas: alguma camponesa; muitas delas camponesas negras. O crédito: elas é que nos faziam nascer. Eu nasci pelas mãos de uma que se chamava Joana. Ela vinha a cavalo, duas semanas antes, mais ou menos, do parto. Ela aparecia lá e lá ficava. Era uma região assim. Quer dizer: este Brasil Profundo de onde vim, mesmo com todos estes anos, continua lá assim”.

    1. Eu não nasci neste Brasil profundo que tu descreves, Apio. Mas nasci perto, a pouco mais de 40 quilômetros de distância, a pouco mais de 50 anos. Tenho orgulho de ser quase conterrâneo de um personagem do calibre de Leonel Brizola.

      Mas, por que Brizola não é apenas passado? Porque estamos em um momento crucial para o futuro da nação, momento em que estamos extremamente necessitados de alguém como ele, com a coragem e a ousadia imbatíveis que ele sempre demonstrou.

      Infelizmente, nestes quesitos, eu tenho que dizer, entre os que se dizem de esquerda, não sobrou um que pode sequer chegar aos pés do Tio Briza.

  4. Ainda bem que certos canalhas , inimigo da Gloriosa, não conseguiu acabar como o imposto sindical e foi possível criar a verdadeira esquerda e transforma todas as outras em lixo histórico, só lembrados por uma meia dúzia sem qualquer poder real

  5. Homenagem a Leonel Brizola quando de sua morte.

    HOMENAGEM A LEONEL BRIZOLA

    Foi com grande tristeza que soube da morte de Leonel Brizola. A emoção foi grande ao lembrar do Brizola da minha juventude, lembrar do Prefeito de Porto Alegre em 55, das conversas de sexta-feira na radio Farropilha (que a gente ouvia com dificuldade pois a transmissão era péssima), de sua brilhante eleição para governador do estado em 58 (55% dos votos), de seu belo governo, do melhor governador da historia do Rio Grande do Sul, da sua visão, da Estrada da Produção pensada e feita por ele (que os gaúchos seriam bem inspirados em dar-lhe o nome de Governador Leonel Brizola), da refinaria Alberto Pasqualini, dos Aços finos Piratini, das Escolinhas presentes em todo o canto do Rio Grande, das brizoletas e da nacionalização da CEERGS e da criação da CEEE. Lembrar também do Brizola da Legalidade em 61 do chefe da reação à quartelada que tentou impedir a posse do vice-presidente João Goulart., do Brizola do golpe de 64, da Resistência que Jango não quis, do exílio de 15 anos, da volta em 79. Do governador do Rio de Janeiro eleito duas vezes. Da luta até o fim. E’ deste Brizola que eu me lembro e presto homenagem. Mas também presto homenagem ao político polemista vocacional, epicentro de furacões, senhor das tempestades, combatente incansável coerente, destemido, prisioneiro de convicções e princípios, centralizador, personalista, teimoso verborrágico, falastrão, e ainda ao patriota, nacionalista e anti-imperialista, defensor incansável dos interesses do povo brasileiro. Homenageio ainda o grande orador, o tribuno carismático, o político disposto a qualquer aliança, o articulador de acordos detestáveis. Ou ainda o estrategista talentoso, capaz de suportar parcerias pouco agradáveis para chegar mais rapidamente ao destino desejado pelas massas populares. Assim era Brizola.
    Mas eu me lembro também, por ter ouvido contar, do menino que estudou no Instituto Educacional de Passo Fundo que foi aluno de minha mãe, da família recolhida pelo vô Antoninho, quando do assassinato de seu pai en 1923, do Paraguaçu e da Quita seus irmãos . Da sua volta do exílio quando numa reunião em Porto Alegre eu lhe disse : Governador eu sou Rezende de Passo Fundo, filho de quem perguntou ele. Do Pedro respondi. A sim como vai ele e a Dona Maria ? Do Brizola, governador do Rio de Janeiro que durante da enfermidade de minha mãe em Passo Fundo telefonava Pessoalmente ou fazia telefonar para ter notícias da sua professora de português.
    Que vida, que lutas. Morreu o último caudilho do Rio Grande. Ele era da estirpe de um Assis Brasil, Silveira Martins, Pinheiro Machado, Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros, Getúlio Vargas, Flores da Cunha, Luiz Carlos Prestes, Oswaldo Aranha, Jango Goulart e tantos outros gaúchos que honraram o Rio Grande e serviram o Brasil.
    O guerreiro descansa em paz. Morreu na cancha. Lutou até o fim. Como Getúlio (suicidado) e Jango (assassinado pela ditadura), ele repousará em São Borja.
    Strasbourg, 22 de junho de 2004
    Paulo de Rezende

  6. a Gloriosa ajudou democraticamente , por exemplo, não acabando como o imposto sindical, na criação de uma esquerda milhões de vezes menos corrupta e que daria o maior presidente mundial de toda história, exatamente para que certos lixos da esquerda não fosse nada além de lixo da históira

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