O experiente José Paulo Kupfer, com décadas de olhar da janela sobre a economia, diz, no UOL, que o “corte na Selic sinaliza descrença do BC em reação mais forte da economia“.
Ou seja, que o “agora a coisa vai” que foi o mantra do “mercado”, não foi ou está indo na base do “devagar , quase parando”.
Além da crise do coronavírus, que reduzirá, no curto prazo, a demanda chinesa, afetando, negativamente, produção e vendas mundo afora, dificuldades causadas pelo longo período de recessão – e, depois, de “quase recessão” – na economia brasileira, estariam se mostrando como obstáculos à recuperação mais acelerada que chegou a ser prevista no fim de 2019…
Verdade, mas não toda a verdade.
A verdade é que o parco equilíbrio que a economia vem apresentando nos seus grandes números tem encoberto aquilo que foi, em outras épocas, o “quebra-mar” das ondas externas.
O mercado interno não se expande, a não ser por espasmos como os da liberação eventual- com Temer e com Bolsonaro – de recursos estocados no FGTS ou no PIS. A indústria cai, as exportações (com os reflexos internos) cai e o fluxo financeiro igualmente embica para baixo.
No primeiro dia útil de fevereiro (3), os investidores estrangeiros venderam R$ 2,3 bilhões em ações na Bovespa.
Amanhã sai o IPCA de janeiro que, mesmo com a queda de preços da carne, deve ficar ligeiramente acima de 0,5%, dois décimos acima do índice de janeiro de 2019.
O que nos deixa, ao menos nos índices passados (no jargão dos economistas, ex-post) com uma taxa de juros negativa.
O equilíbrio econômico brasileiro, ao contrário de ser um ponto e apoio para uma retomada econômica consistente, cada vez mais se assemelha a um beirada de precipício.
Verdade que a mídia não nos deixa olhar para ele e, portanto, reduz-nos o medo.
Ontem, ao voltar do mercado, uma jovem, moça de boa aparência, pedia dinheiro para comer. Hoje, no Metrô, um homem de pouco mais de 50 anos, também.
Já são 13,5 milhões de miseráveis no Brasil, 6,5% da população, vivendo com menos de R$ 145 mensais. 4,5 milhões a mais do que em 2014.
Eles estão fora das análises econômicas, mas existem.