De Cristina, a despejada, para os que nos dão ordens

Quando li, hoje, a matéria do Estadão onde se diz que um documento do FMI repete a velha cantilena de que o Brasil precisa subir os juros para conter a ameaça inflacionária – uma receita que repetem há séculos, sempre fazendo os ricos ganharem mais e os pobres afundarem nas carências, resolvi republicar aqui um trecho do artigo que o jornal francês Libération veicula em sua edição de hoje.

Cristina Fallaras é uma jornalista e escritora espanhola, publicou livros, ganhou prêmios. Tinha um bom emprego, mas foi demitida dele aos oito meses de gravidez. Deste dia em diante, a sua vida tornou-se o que descreve em seu artigo, que leva, no Libération o título de “Eu escrevo de baixo, da parte afundada da Espanha”.

A Espanha, como se sabe, seguiu a cartilha do FMI, do Eurobank, dos organismos financeiros “sabidos”, sempre prontos a deitar regras de cortes, demissões e arrocho salarial, mesmo que elas estjam tornando um pesadelo a vida de mais de um quarto dos trabalhadores espanhóis, lançados ao desemprego, que beira os 27%.

A despejada que fala

Chamo-me Cristina Fallaras e tornei-me a despejada mais mediática de Espanha. Preferia falar sobre outra coisa, mas entendo que a época e o país impõem este tipo de temas. Na terça-feira, 13 de novembro, pelas 19h40, pouco antes do início da segunda greve geral do ano em Espanha, um indivíduo do 20ª juízo de Barcelona tocou à porta do meu apartamento, na praça da Universidade. Ouviam-se já os helicópteros da polícia e os petardos dos primeiros piquetes de greve, que sempre dão um ar ligeiramente festivo a uma greve geral, quando se está em casa. No preciso momento em que o meu filho Lucas abriu a porta e disse: “Mamãe, é um senhor”, deixei, ainda não sei por quanto tempo, de ser escritora, jornalista e editora, para me tornar uma despejada que pode testemunhar por escrito e argumentar diante de uma câmara de televisão. Um testemunho direto, na primeira pessoa, é muito cómodo e tem imenso impacto. A Santíssima Trindade do jornalismo: objeto, sujeito e análise, três em um.

Agora, leitor, imagine um terreno do tamanho de um país, uma área do tipo do pampa. Suspenda tudo e ponha-se a imaginar.

Está? Bem, então olhe para a enorme fenda, implacável e brutal, como aberta pela unha de um deus a rasgar a terra, que corta a superfície em dois. Do buraco emana um sopro gelado, como o de flor de parca [o relento da morte]. Veja igualmente como uma dessas duas partes (decretemos, por razões sentimentais, que é a da esquerda) cai no abismo, até se imobilizar, suspensa no escuro, arrastando todos os habitantes na queda, estupefatos, confusos. E roídos de culpa.

A outra parte desta terra que estamos a imaginar, e a que chamaremos Espanha, manteve-se no alto, temendo o risco de vir a ter a mesma sorte, com a certeza de que isso vai mesmo suceder, mas de uma forma menos grave: novos cortes nas áreas da saúde, da assistência social, dos direitos recentemente adquiridos pelas mulheres, supressão de alguns pagamentos, cortes salariais… O seu descontentamento é compreensível. Mas, em menos tempo do que levou ao país declarar que a democracia era tão indestrutível como feliz, os habitantes do bloco colapsado foram privados de absolutamente tudo. E entregariam tudo, de bom grado, saúde e futuro, para recolherem as sobras do bem-estar dos de cima.

Escrevo daqui de baixo, da metade que se afundou. Já vivo há tanto tempo no escuro que os meus olhos se acostumaram à escuridão e distingo claramente os recém-chegados. Entre 2009 e 2010, dois milhões de trabalhadores foram parar ao desemprego. Dos seis milhões de desempregados, três milhões já não recebem nada, e os outros três milhões de cidadãos irão pouco a pouco perder um subsídio que, em Espanha, pode durar um máximo de dois anos. E desde 2011, centenas de milhares de despedidos vieram juntar-se a nós. Como há muito que em Espanha não se cria emprego, vamos vendo-os cair e abrimos espaço para se acomodarem. Sabemos todos que é inevitável.

Daqui, mal se distinguem os que ficaram lá em cima; é preciso um esforço de memória. Sabemos como vivem, o que comem, o que compram, como se vestem e se movem, porque ainda há pouco lá estávamos. Mas a miséria impõe os seus esquecimentos e acho que isso nos salva um pouco. Os de lá de cima, em compensação, não nos veem. Não podem. Restam os jornalistas, informadores que tentam, em vão, falar sobre a pobreza, os despejos, as razões para este ou aquele suicídio. Mas se nunca nos foi cortada a eletricidade, a água, ou ambas, a ideia de miséria é sempre romanceada. É por isso que posso hoje ser útil.

Sou uma despejada que fala.

O texto na íntegra, em espanhol, pode ser lido na Revista Anfibia.

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8 respostas

  1. A verdade é triste mesmo, e pior do que se pode imaginar, mas como um bom país de primeiro mundo e de economía falida é verao, tempo de turismo e de trabalho sem contrato sem registro, ou com muita sorte, um contatolixo, conforme a demanda, mas td isso passa e as greves continuam no triste outono e inverno!!!

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