‘Derrota histórica’ da esquerda só existiu na cabeça de Bolsonaro

Mais cedo, chamei a atenção para o tweet de Bolsonaro dizendo que “a esquerda sofreu uma histórica derrota nessas eleições, numa clara sinalização de que a onda conservadora chegou em 2018 para ficar”.

Já de manhã, os comentaristas políticos, especialmente os globais, da família Leitão, passaram a dizer que, junto com Bolsonaro, o PT foi o grande derrotado do pleito.

É, sim, fato que o partido não foi bem sucedido no Rio, Belo Horizonte e Fortaleza, para falar das maiores capitais. E que já teve, evidente, desempenhos muito melhores.

São Paulo é um caso à parte e é coisa de siderado dizer que a votação baixa de Jilmar Tatto (9%) possa ser considerada uma derrota política de Lula, que todos sabiam desejar apoiar Guilherme Boulos já no primeiro turno e que ficou com o candidato petista por disciplina partidária (e houve um grave erro da direção do PT em deixar sair uma candidatura apenas de sua “máquina”).

Também por interesse eleitoral, é obvio, mas sobretudo pela identidade política que a chapa psolista lhe tem, Lula se tornará um grande conselheiro do 2° turno e Fernando Haddad idem. Os dois têm experiência política de sobra para “chegarem devagar”, respeitar a autonomia do PSOL e de seus candidatos.

Afora estes casos, o gráfico publicado pelo G1 mostra que dizer que se infligiu um “derrota histórica” ao PT é absolutamente falso, como é, também, achar que o sentimento antipetista é o mesmo de dois anos atrás quando, de fato, houve a tal “derrota histórica”.

Ajudada, aliás, pela mesma mídia que, agora, convenientemente esquece que fez eleger Jair Bolsonaro.

O número de disputas que o partido terá é o maior entre todos e ele não inclui coligações onde outra agremiação tem a cabeça de chapa.

Somadas todas as legendas que, vá lá, podem ser chamadas de “esquerda” (PT, PSB, PDT, PSOL, PCdoB e Rede), ela disputa nada menos que 31 das 57 cidades onde haverá segundo turno.

Se isso é uma “derrota histórica”, o mesmo se poderia dizer do Centrão (Progressistas, PSD, PL, PTB, Republicanos, PSC, Solidariedade, Avante, Patriota e Pros) que apoia Bolsonaro, e que concorre no segundo turno em 29 cidades.

E igualmente não é verdade que eles tenha saído mal da eleição, muito ao contrário.

O fato concreto é que os partidos do campo popular recuperaram parte não desprezível do território eleitoral que perderam após a onda golpista de 2016, onde disputaram apenas 5 das 55 cidades com 2° turno.

E se preparam para o segundo turno da maior cidade do país, São Paulo, em posição extremamente confortável: pode ganhar no voto, mas não será isso que definirá a vitória política. Uma “maré Boulos” seria o bastante para sinalizar que a esquerda está viva, por mais que sempre decretem a sua morte.

Seria o bastante, mas pode ser mais que isso.

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