Dilma vai recuar também no trem-bala?

O blog Conversa Afiada publicou um post hoje, intitulado Juízes de Tribunal boicotam trem-bala, que merece ser analisado com muita atenção. O post reproduz trechos das falas de dois juízes do Tribunal de Contas da União, que admitem, despudoramente, a intenção de atrasar uma obra pública por uma opinião puramente política. Querem atrasar não por identificarem algum problema técnico, um superfaturamento, mas por entenderem que não é “prioridade”. Mais uma vez, vemos setores do judiciário usurpando a soberania devida aos eleitos pelo sufrágio universal.

Diz José Jorge:

Então eu acho que aqui, nós do TCU, nós temos a obrigação de, num processo feito esse, ser muito mais detalhado e pedir tudo aquilo que for possível. Inclusive ajudando a atrasar isso. Porque pode chegar o momento que alguém desista. Então quanto mais a gente puder ajudar a atrasar, para que se pense melhor, porque não é uma prioridade, enquanto isso se pode, evidentemente, priorizar a construção, a ampliação de metrôs, de sistemas de transporte coletivo.

Diz José Múcio:

De repente eu me sinto assim no meio de uma passeata, fazendo os meus protestos, também aqui. (…) Com relação ao trem bala, antevendo a visão aqui do Ministro José Jorge, parece que hoje o governo deu também um tiro no trem bala, porque os jornais anunciaram que ele deixou absolutamente de ser prioridade diante do caos que está havendo nas cidades não está mais nem preocupado em ligar Rio a São Paulo, mas resolver o problema urbano em todas as cidades.

A polêmica sobre o trem-bala é saudável. O país não pode gastar dezenas de bilhões de reais numa obra desse porte sem discutir com a sociedade.

Mas este é o problema. Não estamos discutindo. O governo, mais uma vez, está perdendo o debate por WO, por se manter ausente. Ninguém defende o trem-bala nas redes sociais. Não defendiam antes dos protestos, e não defendem agora. Se existe uma decisão política de construir um trem-bala, se o governo está disposto a investir dezenas de bilhões de reais no projeto, tem de entender que não irá conseguir fazê-lo sem uma estratégia inteligente, ousada e urgente de comunicação.

As críticas dos ministros do TCU ao trem-bala são as mesmas de José Serra e da oposição em geral. Mas eu me arriscaria dizer que é uma crítica também de muita gente não ligada a partidos. Por que cargas d’água o governo não produziu um filmete virtual com o trem-bala cortando o vale do paraíba, ligando as duas maiores cidades do Brasil? Por que até agora não mostrou que a construção do trem-bala terá transferência de tecnologia?

Não estaremos construindo apenas um trem-bala, estaremos implantando toda uma nova indústria ferroviária de ponta no país, com instalação de fábricas de peças, máquinas, trilhos. Serão inauguradas empresas de software e gestão especializadas em ferrovias de alta velocidade, e haverá capacitação de mão-de-obra voltada para o setor. O trem-bala Rio – São Paulo será o modelo para que outras capitais sejam ligadas também. Todo o litoral nordestino, por exemplo, poderá ser ligado com trens-balas.

Os ministros do TCU falam que existem “outras prioridades”, como metrô e investimentos em mobilidade urbana nas grandes cidades. Não faz sentido, porém, esperar. As coisas são simultâneas. Tem que investir em trem-bala e metrô. O sujeito pega um trem-bala no Rio, salta numa estação em São Paulo e pega o metrô até o bairro desejado. É assim que funciona.

Usar os protestos de rua para enterrar o trem-bala é bem sintomático. Se os protestos foram deflagrados, num primeiro momento, por demandas por serviços de transporte com maior qualidade, mais modernos, então as pessoas deveriam apoiar o trem-bala, que há décadas têm sido implantados nas economias mais avançadas do mundo. Agora mesmo, por exemplo, a China está ligando todas as suas grandes cidades com trens de alta velocidade.

O trem-bala permitirá, inclusive, a desconcentração urbana. Um cidadão pode morar em Campinhas em trabalhar em São Paulo, onde chegará em 20 minutos. Com isso, reduz a pressão sobre o metrô, que por melhor que seja, jamais será um transporte confortável se o número de usuários for desproporcional.

O governo não vai ganhar essa luta apenas com propaganda institucional, muito menos com declarações tímidas das áreas técnicas. O trem-bala é um passo em direção à soberania, e por isso tantas forças se insurgem contra ele. Suponho que antes da criação da Petrobrás, havia discursos semelhantes. Porque investir numa estatal de petróleo se havia tantas ~prioridades~?

O desenvolvimento nacional implica em estratégias simultâneas de investimento em infra-estrutura. Temos que investir em trem-balas, metrôs, portos, aerportos, hidrelétricas, tudo junto. Não podemos parar uma coisa para fazer outra. Não podemos descuidar do rim para ~priorizar~ o fígado.

O trem-bala não é movido a petróleo, portanto implicará numa economia de milhões de litros de gasolina ou diesel. Tudo isso deve ser levado em consideração, ainda mais agora, em que a importação de gasolina está onerando pesadamente a nossa balança comercial. Para se ter uma ideia, somente nos sete primeiros meses do ano, importamos 26,7 bilhões de dólares em petróleo. Se tivéssemos trens de alta velocidade ligando nossas capitais, essa conta seria menor.

Temos que usar os protestos de rua em prol de mudanças para melhor, e não como desculpas para continuarmos atrasados! Eu estive numa das passeatas em Brasília, em junho, e vi jovens vestindo camisetas do movimento Zeitgeist, que tem projetos extraordinários em termos de mobilidade urbana, sempre com uso de trens-bala e metrôs, interligados. Os jovens querem transportes modernos. Será um contrassenso jogar as ruas contra aquilo que elas mais defenderam.

Entretanto, para as pessoas defenderem o trem-bala, o governo vai precisar sair do casulo de cristal em que se enclausurou e falar diretamente ao povo. Fazer omeletes no programa da Ana Maria Braga não será de grande utilidade neste momento.

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5 respostas

  1. Cá prá nós. Esse é um orgão de nosso Estado burguês. O PT não fez nada para mudar isso.
    O discurso produzido pelo governo é: somos republicanos. Mas republicanos de qual Estado?
    Se fizer um balanço desses dez anos, esse Estado foi sempre reforçado por Lula_Dilma.

  2. Cá prá nós. Esse é um orgão de nosso Estado burguês. O PT não fez nada para mudar isso.
    O discurso produzido pelo governo é: somos republicanos. Mas republicanos de qual Estado?
    Se fizer um balanço desses dez anos, esse Estado foi sempre reforçado por Lula_Dilma.

  3. assim como nas hidrelétricas, o que me incomoda no trem bala é seu impacto ambiental. progresso sim, mas com preservação do meio ambiente e respeito à vida selvagem.

  4. assim como nas hidrelétricas, o que me incomoda no trem bala é seu impacto ambiental. progresso sim, mas com preservação do meio ambiente e respeito à vida selvagem.

  5. assim como nas hidrelétricas, o que me incomoda no trem bala é seu impacto ambiental. progresso sim, mas com preservação do meio ambiente e respeito à vida selvagem.

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