“Domínio do fato” e “método Moro” permitiriam dizer que foi Temer quem segurou Lula preso

desapr

Vejam que interessantes conclusões permitem os fatos de ontem, se usados, como parâmetros, os mesmos métodos utilizados por Sérgio Moro para condenar Lula.

1 – O juiz Sérgio Moro ordenou, por telefone, que o delegado Roberval Ré Vicalvi e a outros chefes da Superintendência da PF no Paraná, que respondia pela sede da Polícia Federal, ontem, não cumprisse a ordem de soltura. A notícia está em O Globo, o mesmo jornal que, no caso do “triplex” mereceu crédito do juiz paranaense ao dizer que o imóvel era de Lula. “Diante da insistência do magistrado, Ré Vicalvi ligou para seus superiores que o ordenaram a cumprir o pedido de Moro e manter Lula na cela”, diz O Globo. Se O Globo vale como prova contra Lula, natural que sirva contra Moro, pois não?

2- Os superiores do delegado são o superintendente da PF e o diretor-geral da instituição. Que, por sua vez, se subordinam ao Ministro da Segurança Pública e a Michel Temer. Assim como diretores e gerentes da Petrobras se subordinam ao presidente da empresa, ao ministro das Minas e Energia e, consequentemente, ao Presidente da República. Esta cadeia de comando permitiu a Moro dizer que Lula era o responsável pelos atos dos diretores. É, portanto, legítimo que a mesma cadeia de comando nos permita afirmar que Michel Temer é o responsável pelo descumprimento da ordem judicial.

3- Temer, portanto, cometeu o crime de obstrução à Justiça e descumrpimento de ordem judicial, devendo ser processado e impedido do cargo.

É claro que isso não poderia ser feito, embora tenha sido feito, com o maior descaramento, quando se tratou de Lula e de Dilma Rousseff, o primeiro no julgamento e a segunda, no impeachment.

Não se podem estabelecer ligações criminais desta maneira, embora se possam – e o povão as faz – relações políticas entre os fatos.

Hoje, no Poder360, o cientista político Antonio Carlos Almeida mostra que esta conexão, de fato, existe:

Como se observa no gráfico [que reproduzo ao alto do post], em julho de 2017 a desaprovação de Sérgio Moro era 18% e a de Lula era 54%. Passados 11 meses, em junho de 2018 a rejeição ao juiz é de 40% e ao político de 43%. Note-se que foi justamente no período em que a imagem de Lula melhorou e a de Sérgio Moro piorou que o juiz condenou e mandou prender o político.

Na semana passada, em artigo ao Poder360, mostrei que a desaprovação de Moro caminhou junto com a de Temer, as duas cresceram mais ou menos no mesmo período. O que vemos agora é a relação inversa, enquanto a imagem do juiz piora a de Lula melhora. A evolução das desaprovações de Lula, Temer e Moro estão conectadas.

Diz ele, lembrando as repetidas menções à Operação Mãos Limpas, na Itália, que Moro “foi à opinião pública, foi julgado positivamente por ela e, ao se colocar como um juiz anti-PT (aos olhos do eleitorado) se colocou como um juiz favorável ao Governo Temer”.

Assim, é possível compreender que a avaliação da imagem de Moro e Temer caminhem juntas ao mesmo tempo em que vão em direção contrária àquele que hoje representa a mudança política no Brasil.

Não é difícil imaginar que, depois do arreganho de ontem, as duas curvas tenham se encontrado e invertido suas posições.

PS: Atualizado para correção no item 2.

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email