Fernando Rodrigues e o brasileiro que quer “se encostar”

Fernando Rodrigues, hoje, na Folha, escreve aquelas coisas típicas de uma geração “yuppie”, que reciclou a ideia colonial de que os brasileiros são um povo indolente, ao afirmar que “uma parcela significativa dos cidadãos por aqui sonha em se encostar no Estado-nhonhô.”

A história da indolência brasileira é velha como a Sé de Braga, como dizia minha avó. Vem de um semi-racismo que subjaz também à ideologia da superioridade ariana (ou anglo-teutônica): à lassidão hedonista dos latinos, ainda mais aos que carregam o sangue “poluído” pelos mouros: portugueses e espanhóis.

Depois de colocar o leilão de libra na vala comum das privatizações (leia aqui Porque Libra “é bem diferente de privatização”), Rodrigues embarca na tese, devidamente sustentada por uma pesquisa, que diz que 70% dos trabalhadores de Brasília  “acham que ‘a melhor alternativa para melhorar de vida’ é ‘passar em concurso público’. Apenas 2% querem trabalhar em uma empresa privada. Abrir o próprio negócio? Só 26%, possivelmente pensando em prestar serviços para o governo”.

Que gente vagabunda, não?

Claro que em Brasília, onde 40% dos empregos são da administração pública e não há indústrias capazes de sustentar empregos mais bem remunerados, a situação é pior. Mas não é isso o que faz com que muitos jovens busquem a segurança de um emprego público.

É que o mercado brasileiro é cruel como  trabalhador, a quem toma como alguém facilmente descartável, e chega à triste condição de campeão mundial de rotatividade de mão-de-obra: perto de 25 milhões de trabalhadores são demitidos por ano.

Rodrigues devia ler um pouco mais, antes de falar assim do ânimo dos brasileiros como trabalhadores.

Por exemplo, ler a insuspeita reportagem da Época, em 2011, onde se diz que “as empresas desligam empregados para contratar substitutos com salários menores.” E que o trabalhador brasileiro permanece a metade do tempo no emprego se comparado aos europeus.

E não é só com os trabalhadores da construção civil. Quem é que pode se sentir seguro em empresas privadas onde ter 40 anos e ganhar um pouco mais são bons motivos para ser mandado embora?

Aliás, seria bom que as dezenas de jornalistas, colegas de Rodrigues,  demitidos recentemente da Abril, da própria Folha e de outros veículos porque era necessário “reestruturar”, dissessem isso ao autor da coluna. Talvez alguns deles, cansados de ficar “na mão” de um dia para outro, acabem vendo na estabilidade do serviço público um argumento irresistível para sair da “iniciativa privada”.

Ou, melhor ainda, quem sabe Fernando Rodrigues não usa seu espaço para fazer uma campanha mostrando como é escandaloso que, 25 anos depois de promulgada a Constituição, ainda seja “proibido” falar na regulamentação do parágrafo 4° de seu artigo 239, que aumenta as alíquotas de PIS/Pasep das empresas que praticarem rotatividade de empregados maior que a média de seus setores?

Ah, isso seria mais do tal “custo Brasil”, não é. E destes desocupados que gostam de ganhar seguro-desemprego, bolsa-família e “se encostar no Estado-nhonhô.”

E se há mesmo alguns que pensem assim, quanto de culpa têm as elites brasileiras, que sempre desprezaram o valor do trabalho e apontaram o salário como perigoso vilão da inflação e das despesas públicas?

Como diz jocosamente um amigo, o Brasil foi durante muito tempo um país onde o conceito marxista da “mais-valia” era diferente:

Pra ganhar só isso, mais valia ficar em casa!

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25 respostas

  1. Por que não pressionar o Congresso a criar mecanismos trabalhistas que promovam a segurança ao trabalhador. Ser empregado público ou de estatal é uma garantia que você poderá sustentar a sua família, mesmo que você ganhe mal ou esteja em um trabalho desgostoso que irá lhe causar uma doença futura, mas a determinação bíblica de manter a família está preservada. Tenho amigos que há mais de ano estão desempregados, militam na área de óleo e gás, que depende do humor da Petrobras. Felizmente seus três filhos estão criados, mas o estresse e sufoco para criá-los com o medo de perder o emprego, o levou até a assinar atestado pobreza no colégio dos filhos e a pedir dinheiro emprestado para não parar a educação das crianças.
    Não seria o caso das leis trabalhistas, do Congresso garantirem que qualquer brasileiro e filhos de brasileiros tivessem direito da manutenção da integridade da família. Por que não existir um salário- garantia para um desempregado ? Por que um desempregado não pode deixar de pagar água , luz e gás nos momentos de sufoco ? Não estou sugerindo”nada de graça “. Após estar empregado começaria a devolver todos estes “empréstimos” que o ajudaram na tarefa crística de manter a família unida para o próprio desenvolvimento do Brasil.

    1. Na Câmara tem 91 deputados ligados a sindicatos, e mais de 300 ligados ao setor empresarial…

      1. Entendo que essa.situação seria corrigida se houvesse o Financiamento Público de Campanha.

  2. Engraçado. meus filhos, meu marido, a namorada de meu filho, dezenas de amigos meus são funcionários públicos e trabalham não oito, mas dez horas diárias. E sem hora extra. Federais, municipais e estaduais, todos eles e também aqueles que se aposentaram bem depois da época devida são e foram pessoas dedicadas ao trabalho. Esse pseudo jornalista ou o que quer que ele seja, que escreveu esse detrito, certamente gostaria de ser funcionário público também, só que não teve capacidade intectual para passar em um concurso (isso ele demonstra em sua matéria) ou força de vontade para fazê-lo. Hoje teria estabilidade no emprego e não seria obrigado, se for o caso, a escrever tanta baboseira para agradar ao patrão.

    1. Sou funcionária pública em um cargo comissionado através de eleição. Minha carga horária é de 8h. trabalho todos os dias 11h, na área mais desvalorizada do serviço público: a educação. Triste preconceito, que atende a um pensamento recorrente. Hoje tudo também é culpa do bolsa família.

  3. A maior mamata que existe neste Pais, e a legiao de desempregados e o consequente salario irrisorio, muito bem aproveitado pelos que surfan no poder economico.

  4. Fernando o teu xará, está perdidinho da silva.
    Enveredou para este lado que mais parece uma valeta, e
    não encontra meios de retornar pelo menos ao centro.
    Se ele fosse a torre de PISA, que ao se ver, está retornando
    2,5 cm por ano ao centro.(REAL). Até poderiamos dar-lhe uma
    chance afinal se uma construção material tem este dom, nada
    melhor que te-lo se en-direitando (ops.).

  5. Fernando Rodrigues é meu irmão e é vendedor de conteúdo! Tremendo lambe botas de patrão. Só não está num emprego público pq nunca passou nos concursos.

  6. Excelente tema Fernando,

    porque tem pessoas que só usam os argumentos que os convém. Aqueles que falam desses que querem um emprego público não falam da jornada de trabalho real da empresa privada, muito menos as comparam com a jornada de trabalho nos países mais desenvolvidos da Europa.
    Eu acho que faltam dados para trazer para o debate.Qual é a jornada de trabalho nesses países?E o número de dias de férias? Sei que na Alemanha é de dias úteis, e , se não me engano, é progressivo com a idade.
    Tem como ver isso? Fica a sugestão.

  7. Fernando Rodrigues é uma pessoa má e merce a morte.
    Em breve os black blocks vão se dar conta que a única revolução se dá eliminando essas pessoas…
    depredar patrimônio não adianta, o que adianta é uma bala na nuca na calada da noite.

  8. Apesar do verniz cultural do colunista F. Rodrigues, verniz certamente denso, sua essência é reveladora da indigência argumentativa das chamadas classes ilustradas (talvez coubesse melhor a adjetivação “lustradas”).

    Com pouco ou nenhum contato com o real, valem-se seus congêneres das deformações típicas das sociedades estamentais de passado colonial-escravista, de que é bom exemplo a alegada indolência dos subalternos.

    O que ele, o colunista representante do tipo de pensamento-guia das médias classes tem por reprovável ou sintomático de um certo subdesenvolvimento, eu tenho exatamente como seu oposto.

    Ser um servidor público anima pela – relativa – estabilidade de vínculo de assalariamento que a condição proporciona, em tudo oposta à precariedade do vínculo com o empreendimento privado.

    A baixa adesão ao empreendedorismo, por sua vez, revela, talvez ainda mais do que no caso do serviço público, a percepção de sua virtual inviabilidade (insegurança, baixa rentabilidade e necessária adesão à ideia da exploração do trabalho alheio como algo perfeitamente lícito, conforme à natureza humana).

    Em outros termos, diria que estamos progredindo. Aos discursos dos FF. Rodrigues da vida começam a se contrapor os obstáculos da realidade visível.

    Boa sorte a todos.

  9. Tenho 54 anos e moro em Porto Alegre. Há quatro fui demitido do meu último trabalho regular, depois de mais de 25 anos atuando como diretor de arte em agências de propaganda aqui do RS, período em que obtive a maioria das premiações que é possível conquistar na minha área. Desde então, venho fazendo freelance, ganhando mais ou menos um terço do meu último salário fixo, sempre como PJ, já que há muito tempo o pessoal de criação, mesmo contratado, não tem carteira assinada pelo valor integral. Hoje constato que não existem profissionais da minha função com mais de 45 anos, salvo se forem donos ou sócios de agências, trabalhando aqui em Porto Alegre. Antes de chegar aos 40 a maioria é demitida para contratar gente mais jovem por salário muito menor. Agora em 2013, tomei uma decisão: parei de trabalhar. Estou vivendo de algumas reservas, aproveitando para estudar e tentar mudar completamente de atividade. Não descarto a possibilidade de um concurso público. Cheguei à conclusão que no Brasil a gente tem duas possibilidades de inserção na economia: ou você entra na área pública ou vai para a privada.

  10. Parabéns , Fernando “Brito ” !!!!!!!!!
    O que falar dessa gente , eles só sabem atacar o povão , tbém é um tamanho puxa saco dos patrões, por isso ñ foi mandado embora ……… bem ñ vamos comentar mais …sua matéria ..foi a nossa resposta !!!

  11. Se Fernando Rodrigues fosse funcionário público, com certeza não teria de se submeter à condição de papagaio do patrão, porta voz da direita cujo projeto atual, é semear no povo o ódio ao Estado.

  12. E assim vão se estruturando na sociedade e – notadamente – na classe média, a mesquinhez, a patifaria, a covardia, o egoísmo. É para isso que Fernando Rodrigues e tantos outros servem. Amesquinhar a vida.

    Quem manda não ter ley de medios nem um jornal e um telejornal com amplitude nacional? Nossa gestora (presidenta é a Cristina) não entende disso. Sofre de complexo de vassalagem. Por isso, como disse noutro post. Nossos governos têm prazo de validade: O tempo que parte dos pobres tornarem-se classe média e – com isso, sem entender o processo nem o porquê – acharem o que hoje acham os que ganham 3, 5, 10 mil reais: Que estão mais próximos dos ricos que dos pobres. E, com uma classe média ccoxinha ada vez maior, votarem nos candidatos da direita. Será difícil entender isso, gestora? Ou quer que eu desenhe?

  13. Ai que essa doeu, viu? Parabéns, Fernando! Pôs o calunista pereba da folha no seu devido lugar: a insignificância.

  14. Eu acrescentaria ao teu comentário, Fernando Brito, que para nós, mulheres, emprego público é sinônimo de não discriminação salarial, ou seja, o salário não é função do sexo do ocupante e sim do cargo. Num país onde mulheres ganham menos que os homens na iniciativa privada e mais, dificilmente estão em cargos de chefia,
    é muito compreensível que prefiramos trabalhar no serviço público.

    1. Não tenho ideia. A não ser pelos alemães, os mais jovens, que trabalham em regime parcial para reduzir as estatísticas de desemprego. São 4 horas por dia, se não me engano. Como não há salário mínimo legal naquele país, a – numerosa – turma a que fiz menção ganha 450 euros. O que não deixa de ser um marco. Trocadilhos à parte.

      O que era sólido, você vai ver depois, pronto!, já desmanchou no ar.

      O fabuloso mundo do capital. É isso aí. E não é nenhuma Coca-Cola não.

  15. Ele esqueceu de falar que quem mais se encosta no Estado-nhô-nhô são as corporações midiáticas com o maldito e já em fase de extinção- o BV, pago pela SECOM com dinheiro público. E também pelas compras de assinaturas feitas pelos governos estaduais para as ‘escolas’. É a merendinha das corporações. Esses sim, são o bolsa-corporação. Outro dia, vendo o histórico da propaganda de uma telefônica com banda de rock e cantora baiana, que gastou rios de dinheiros com efeitos especiais e contratação de ‘famosos’, pensei: que coisa mais inútil fazer propaganda para um serviço que por si só já é autorreferente. Todo mundo tem celular, o celular já virou um apêndice do corpo humano. Para quê propaganda? Alguém acha que banda de rock ainda vende celular? O celular já é o meio mais barato e eficaz de propaganda que existe. Para qualquer produto. Por quê ninguém ainda falou disso?

  16. qué o q ? já tentei ser professor economia na unicamp e ou usp nada! prof de engenharia nada! todos querem que eu apresente diploma e currículo, fui pro chile pra preencher currículo e nada, pros eua num tem como! cerra q num vo ter chance de um empreguinho público aí naum…

  17. O povo precisa ser esclarecido didaticamente todos os dias sobre esses fatos, somente assim na hora de votar ele não será enganado mais uma vez.

  18. Vi o video da Roda Viva, ja nos primeiros segundos a locutora, diz “Marina se aliou a Eduardo Campo apos ordem judicial que impediu o registro da REDE, não sabia que foi deste geito, alguem ai de uma luz ou estou maluco.

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