Governo não quer mudar política de preços, quer ‘remake’ da Lava Jato

A política de preços da Petrobras está errada e é injusta e prejudicial ao país?

É, e isso precisa ser dito com todas as letras. A Petrobras, segundo os números do Dieese, teve custo médio de R$ 115 dólares por barril, e seu preço de venda foi 3,5 vezes maior: R$ 416,40 o barril.

Lucro médio de R$ 301 por barril comercializado no país, mais do que suficiente para continuar imenso com a importação, a preços de mercado internacional, dos 25% de importação, a este preço mundial, do necessário para suprir o déficit.

Ainda mais que, por este preço internacional é que a Petrobras exporta petróleo bruto que não temos capacidade de refinar: 470 milhões de barris no ano de 2021. Ou seja, uma imensa receita com “paridade internacional”.

Tenho repetido aqui que o “abrasileirar” os preços da Petrobras a que o é considerar o petróleo extraído e refinado aqui (com custos em real, praticamente fixos), os derivados importados (com custo em dólar e custos flutuantes) e a receita da exportação de óleo bruto, também em dólar e a valor de mercado internacional. E daí, com uma margem de lucro razoável, que remunere os investidores e sustente os investimentos, outros custeios e os financiamentos que a empresa tem de honrar, partir para uma definição de preço, que certamente seria mais razoável e com mais estabilidade.

Claro que isso é uma descrição simplificada, pois há variantes que devem ser consideradas, mas é o eixo em torno do qual devem girar os preços praticados pela empresa. E, portanto, o que deveria estar orientando as discussões sobre a grave crise atual. “Soluções” baseadas em redução de impostos, se podem e devem ser feitas progressivamente, em busca de equilíbrio federativo, não resolvem nada sobre estrutura de preços e muito menos medidas de austeridade na gestão da empresa (e de qualquer empresa) são – qualquer gestor sabe – uma rotina permanente e, de tempos em tempos, passar por um aperto, porque a tendência a relaxar com gastos desnecessários é histórica e generalizada em qualquer organização empresarial.

Mas não é isso o que busca o governismo, desesperado por sacudir em praça pública os “traidores” que, com luxos e excessos (que provavelmente existem, mesmo), seriam os culpados por uma conta que beneficia escandalosamente os acionistas da empresa, sejam os estrangeiros, seja o próprio Tesouro Nacional, que se entopem com os rendimentos de uma Petrobras que gera lucros imensos, faz caixa vendendo seus pedaços e, além do mais, cortou a níveis ridículos para um país que está montado no pré-sal e que tem déficit de refino, os seus investimentos em extração e beneficiamento de petróleo.

Leiam este trecho do “austeríssimo” Arthur Lira, o homem que distribui mais de R$ 30 bilhões para que os deputados se beneficiem de emendas do “Orçamento Secreto”, outra pérola de transparência, em artigo deste domingo, na Folha, sobre o que quer para a CPI da Petrobras:

O primeiro passo que temos de dar é conhecê-la [à Petrobras]. Quanto gastam seus diretores em suas viagens? Quanto custam suas hospedagens? No exterior ficam onde? Em que carro andam? Quem paga seus almoços e jantares? Alugam carros? Aviões? Helicópteros? Há excessos? De onde vieram? Como constituíram seus patrimônios? Seus parentes: investem onde e são ligados a quem? Depois, temos de entender os critérios de formulação de políticas da empresa. Temos de entender com quem os diretores e os conselheiros conversam. E esses interlocutores: são ligados a que interesses?

Os salários dos diretores da Petrobras são muito altos, mas são públicos, ao contrário do que ocorre em empresas deste porte, privadas, que pagam mais. Os custos de hospedagens, aluguéis de carros, almoços e jantares (quando pagos pela empresa) estão todos registrados na empresa e qualquer dos conselheiros nomeados pelo governo podem ter acesso. Aliás, os investimentos da empresa em compliance, interna e externa, são imensos – eu diria quase paralisantes da administração – e tem até um telefone (0800 601 6925) para receber denúncias, inclusive anônimas de corrupção e outras irregularidades.

Aliás, não só para os funcionários e dirigentes, mas também para os fornecedores da empresa, que precisam passar por investigação sobre suas práticas para poder vender à estatal.

O que Lira pretende fazer, um espetáculo, para que as pessoas fiquem chocadas com os salários de diretores de empresa? Empresas de porte semelhante pagam por ano uma Megasena acumulada para seus presidentes, muito mais do que o que é pago na Petrobras. Coloco, no final do post, a lista publicada em 2018 pelo UOL com as remunerações dos CEOs das grandes empresas brasileiras. Jogue aí uns 40% a mais, por baixo, para ter ideia do que é hoje.

Sim, é absurdo, mas o mercado capitalista é absurdo. Os valores são iguais aos que todos os diretores e presidentes indicados e mantidos por Bolsonaro embolsavam e nem por isso Lira indignou-se.

Mas não é aí que está a questão. É por isso que querem criar o falso escândalo, para o que o verdadeiro: a privatização da Petrobras, possa seguir em marcha.

 

 

 

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