Guedes e o servidor: tigrão com o barnabé; tchutchuca com marajá

Falando hoje em um seminário, o ministro da Economia Paulo Guedes disse que “os salários pagos para ocupantes de cargos da alta administração pública são baixos” e que o limite de R$ 39,3 mil como teto é injusto: “”Tem que haver uma enorme diferença de salários sim. Quantos chegam ao STF ou ao TCU?”

Inacreditável que seja o mesmo ministro que apresenta uma reforma administrativa que pode remuneração e garantias dos servidores de menor remuneração e deixa intactas as remunerações dos ocupantes das carreiras de elite do funcionalismo.

Pode ser até que, com a recente valorização do dólar isso tenha diminuído, mas, dois anos atrás, a jornalista Vera Batista, do Correio Braziliense, publicou uma comparação entre as remunerações destas carreiras no Brasil e nos Estados Unidos (e olhe que na Europa são bem mais austeras).

Um diplomata, em início de carreira, ganhava aqui R$ 16.935 (hoje ganha R$ 19.199) contra R$ 8.220 (pelo dólar de hoje, R$ 13.316) de um homólogo nos Estados Unidos. Um fiscal da Receita, R$ 10.092,58, lá, e R$ 19.211,01, aqui, em valores de outubro de 2017.

Não é o caso de lhes tungar os ganhos que tiveram nos últimos anos, mas o de caminhar numa direção universal de redução da diferença entre maiores e menores remunerações. Segundo ele, porém, está é uma “lógica socialista”.

Aliás, Guedes deveria atentar para as desigualdades registradas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), um órgão de seu próprio Ministério, publicadas no Atlas do Estado Brasileiro, com valores referentes a 2017 e reproduzido pela Deutsche Welle:

(…)um olhar detalhado sobre o funcionalismo público, que emprega 11,4 milhões de pessoas, revela um universo tão discrepante como o próprio Brasil — um dos países mais desiguais do mundo.
Uma maneira de medir essa desigualdade é comparar o salário médio dos servidores de cada um dos três poderes. O holerite médio de um servidor do Executivo é de R$ 3,9 mil, equivalente a 65% do salário médio de R$ 6 mil de um funcionário do Legislativo, que por sua vez é metade do salário médio de R$ 12 mil de um servidor do Judiciário.(…)
No Executivo, por exemplo, 48% dos funcionários públicos ganham até R$ 2,5 mil por mês, enquanto no Judiciário 4,2% recebem mais de R$ 30 mil. No nível municipal, 61% dos servidores estão na faixa salarial de até R$ 2,5 mil.

Mas, afinal, ele sabe disso: é “tigrão” com o barnabé e “tchutchuca” com os marajás.

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