Inflação de alimentos é a do pobre, não a da economia

Até os anos 70, quando a sociedade brasileira era menos diferenciada em camadas de classe média, entre os ricos e os trabalhadores, duas expressões se confundiam: inflação e “carestia”.

A perda de valor da moeda era sentida, essencialmente, no consumo popular e isso era, na prática, a inflação.

A ampliação do leque de consumo da população e a amplitude da pesquisa do IBGE que nos dá a inflação oficial – medindo o consumo de famílias com renda de até 40 mil reais mensais – foi levando, progressivamente, a um divórcio entre os dois conceitos.

Os preços dos alimentos, que respondem por 20% do IPCA, o índice oficial, subiram 7,61%. Os da cesta básica, sem produtos de perfil mais elitista, subiu perto de 20% .

Mas isso não vai se refletir no médio prazo no processo inflacionário, apenas nas dificuldades dos mais pobres.

Estamos vivendo as pressões da desvalorização do real ante o dólar e o aumento da demanda chinesa por alimentos e insumos nutricionais (carnes, soja, farelo de soja para ração animal, arroz,etc) que não estão sendo totalmente compensadas pela queda de renda do consumidor popular, por conta do auxílio emergencial.

Nosso problema essencial – embora a “carestia” seja cruel com os segmentos mais pobres – é a queda iminente da demanda e o esfriamento da atividade econômica.

Por isso é apenas demagógico o apelo de Jair Bolsonaro a que os supermercados vendam arroz com “lucro zero”.

É tão estúpido quando o colar de tomates a R$ 10 reais o quilo que Ana Maria Braga fazia na TV.

O ponto nodal de nossa situação econômica não é o preço em alta, mas a renda em baixa que, apesar do auxílio-emergencial, vai cair e vai cair muito.

A crise brasileira mal começou.

 

 

 

 

 

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