Lei da Selva une black blocs e neoliberais

No blog O Cafezinho, do nosso parceiro Miguel do Rosário – o homem na mira da Globo – o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos traça um tragicômico paralelo entre os mascarados de rua e os mascarados de tese, os neoliberais convertidos – ou que estão convertendo – à causa da sustentabilidade marinista.

Ponto em comum: desprezam o patrimônio público e são totalmente avessos ao Estado como regulador de conflitos: os sociais e os econômicos. Com as máscaras pretas ou as gravatas de seda, se parecem na depredação.

Os black blocs sem máscara

Wanderley Guilherme dos Santos

Um leitor bem humorado de Paulo Henrique Amorim, do Conversa Afiada, sugeriu a aproximação entre os blackbocs mascarados que atormentam a cidade e os economistas da pré candidata Marina Silva. Estes seriam, pela ideologia, blackblocs sem máscara. O exagero normal de piadas não deixa de ter fundamento, neste caso, na convergência real entre ideais confessos de uns e ações delinqüentes de outros.

Mascarados e sem máscara, ou desmascarados, são contra tudo que está aí. Sendo o país altamente complexo em sua produção material, vida associativa e política, “tudo que está aí” é muita coisa para ser conhecida e avaliada no atacado. A menos, deve ser reconhecido, que os juízes estejam possuídos por estereótipos bebidos em fundamentalismos religiosos ou ideológicos. Embora rezando por bíblias diferentes, não há dúvida que blackblocs mascarados e sem máscara confraternizam no credo essencial.

Pelo passado de uns, os desmascarados, e presente de outros, os blackblocs mascarados, todos têm por objetivo o desmanche do patrimônio público, seja por destruição material direta, seja por supressão legal ou, ainda, por alienação a terceiros. A variação e bom gosto no modo de vestir dos sem máscara, em contraste com o militarizado uniforme negro dos mascarados, não disfarça a hostilidade à propriedade pública que compartilham. Com ou sem máscara são todos destrutivos blackblocs.

A mídia tradicional e as redes sociais funcionam como atraentes espelhos das manifestações de violência verbal, escrita ou de comportamento. Exibicionistas, anunciam onde vão agir pela força de paus e pedras ou pela compulsão das leis que pretendem elaborar. Discrição e modéstia não fazem parte do cardápio de moral e cívica desses autoritários em disponibilidade.

Entre as convergências avulta a doentia incapacidade de organizar algo construtivo. São parasitas dos movimentos sociais. Não se conhece uma instituição de defesa de coletividades que tenham criado. Mas estão sempre presentes no aproveitamento das atividades e organizações de construtores sociais, sugando-lhes a fama, a energia ou os propósitos. Foi o que fizeram em tempos idos, os sem máscara, com as empresas estatais criadas com os recursos e sacrifício da população. E voltariam a fazê-lo se lhes fosse concedida outra oportunidade. Não facilitaram a emergência de ações coletivas, empreitada sempre difícil e não raro cheia de perigos. Mas os mascarados se aproveitam das naturais e legítimas mobilizações dos setores mais carentes para sugá-los e macular os propósitos de suas paradas e manifestações.

Desprezam as instituições de representação popular (sindicais, políticas, pacificamente reivindicatórias) a elas dirigindo permanente crítica difamatória e humilhante, no que são coadjuvados pela imprensa blackbloc, muito mais do que marrom. Pontificam nas colunas jornalísticas os acometidos de dandismo intelectual, cheios de si pela ausência de contraditório que lhes devolveria a altura própria. Esnobes, só conversam entre si e acham lindas, exemplos de “democratização da democracia” (redundância charlatanesca), as tentativas selvagens de invasão de assembléias legislativas.

Finalmente, o anarquismo cruzado em benefício próprio. Face às tensões entre interesses populares e mercado, são radicalmente contra a regulação do Estado nos conflitos da sociedade (blackblocs mascarados) e no funcionamento a mãos livres do mercado (blackblocs desmascarados).

Há muito mais parentesco entre os blackblocs mascarados e os sem máscara do que é capaz de imaginar o inocente bom humor de observadores. Daria uma narrativa interessante fantasiar o que aconteceria em uma comunidade submetida à ideologia e à ação desses primos em barbárie. Os dois grupos, enjaulados, provariam da própria medicina.

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

24 respostas

  1. É interessante notar que os mascarados destroem às claras o patrimônio público. Os sem máscaras, de forma dissimulada…

  2. A maioria dos Black Bloc são anarquistas.

    O que é que anarquista defende?

    A “destruição do Estado”.

    Então, tão juntos no mesmo barco com os neoliberais. É tudo brimo.

    1. EXATAMENTE.

      Anarquismo e Neoliberalismo são gêmeos siameses.

      Os moleques anarquistas não passam de tropa de choque ingênua usada pelos neoliberais para atingir seus objetivos.

  3. Eu fico imaginando um cara destes se arrumando na frente do espelho grande de seu amplo quarto, e se olhando de perfil, fazendo “muque”, “hulk”, gazela, shuasneger, e por ultimo uns saltitos de balé. Respira fundo e diz FUI!

  4. Lamentável essa “confusão conveniente”. É claro que anarco-punks, black blocK e afins atacam símbolos do capitalismo.
    Enquanto neoliberais defendem o privado, Black Blocs atacam símbolos das privatizações nas capitais (do Mundo inteiro, diga-se).
    Vergonha o Tijolaço (que Brizola nem tome conhecimento de seus rumos, onde é que esteja) decida criar esta confusão que – tanto a direita, quanto os governistas – estão empenhados, juntos, para desmoralizar não apenas a tática (sim, tática) mas os manifestantes.
    Quem ainda está saindo às ruas nota que os tais “playboys”, que muitos adoram usar para desqualificar esses “mascarados”, não passam de filhos da baixada, da periferia, do subúrbio.
    Muitos blogs tomaram os métodos das redações da velha mídia: a partir do escritório, traçam análises do que ocorre nas ruas. E para isso eu cito apenas alguns: Blog da Cidadania, Cafezinho (que ainda encontro alguns textos interessantes quando Miguel do Rosário esquece os manifestantes), Conversa Afiada e, claro, o Tijolaço.
    Essa cruzada governista para desqualificar as ruas não leva à nada e une uma “esquerda” às elites que odeiam povo. Será que os governistas passaram a odiar o povo e ao invés de dialogar prefere desqualificá-lo?

    1. Não tem ninguém “nas ruas”, a não ser meia dúzia de anarquistas imbecis que se acham no direito de “representar o povo”, sendo que o povo não os autorizou a falar em seu nome.

      O povo não tá nas ruas, porque o povo não tem razão alguma para estar nas ruas: tem emprego sobrando, a renda média do trabalhador subiu bastante durante o governo do PT, o povo agora tem casa própria graças ao Minha Casa Minha Vida.

      Diante deste quadro, o povo tem coisa muito mais interessante pra fazer do que “ir pras ruas”: comemorar, se divertir, fazer churrasco, ir pra balada.

      Não se preocupa não, que no dia em que o povo REALMENTE for pras ruas, quando existir motivo para isso, aí você vai saber (e não vai ter nada a ver com o espasmo modista de junho, fomentado artificialmente pela Rede Globo).

      1. Putz, dialogar com governista acéfalo é duro. Ataques, argumentos não.
        Sou filiado ao PT e estou nas ruas (e não sou apenas eu). É fácil demais falar sentado em casa…
        A atitude de certos comentaristas aqui mostra que governistas tentam fazer tanto contraponto, que contrapõem-se à oposição antidemocrática com a mesma atitude: desqualificação, ataques pessoais, moralismo, medo do novo. Mas uma coisa os une, o conservadorismo!

  5. Requião questiona aumento do capital estrangeiro no Banco do Brasil; senador paranaense, em discurso, disse que governo Dilma parece muito mais liberal e entreguista do que o governo do Fernando Henrique Cardoso; “E nós votamos, presidente Dilma, e trabalhamos pela senhora, porque era expectativa de todos que fizesse exatamente o contrário do que fazia o Fernando Henrique”, reclamou; assista ao vídeo.

    http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=0DtTKprjv2A

  6. Requião questiona aumento do capital estrangeiro no Banco do Brasil; senador paranaense, em discurso, disse que governo Dilma parece muito mais liberal e entreguista do que o governo do Fernando Henrique Cardoso; “E nós votamos, presidente Dilma, e trabalhamos pela senhora, porque era expectativa de todos que fizesse exatamente o contrário do que fazia o Fernando Henrique”, reclamou; assista ao vídeo.

    http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=0DtTKprjv2A

    obs: Votei no Lula duas vezes e depois na Dilma. Mas, perante tudo isso estou pensando seriamente em votar nulo. Cansei de tanta mentira no meio político. Nenhum dos candidatos que estão aí prestam (Dilma, Aécio, Marina, Campos). Todos entreguistas e privatistas.

    1. Requião Gagá pirou de vez.

      A babaquice “das ruas” (meia dúzia de gatos pingados) parece que subiu à cabeça dele, e afetou o seu julgamento.

    2. Voce nunca votou em Lula ou Dilma.
      Isto é muito fácil reconher em qualquer escrita.
      Primeiro seja sincero com você depois recrimina
      outros. E vote no Aecio.
      DILMA_ 13_2014.
      SEMPRE.

      1. Tem um que também faz tudo para prejudicar o PT, puxa saco da Globo, ajudou criar a mentira mais deslavada desse país, tentou de todas as formas envolver LULA nessa mentira asquerosa que ajudou a criar e fica vomitando para a imprensa que votou no LULA e na DILMA e não se arrepende, tenho certeza que se LULA e DILMA pudessem mandariam ele fazer uma coisa bem feia com o voto dele.

  7. Comum a esses dois tipos de mascarados, tão magistralmente descritos nesse texto, onde de forma clara, sem nenhum rebuscamento, ficam expostas de forma clara e simples as vísceras ideológicas desses grupos, em suas ações políticas, o fato de não atingirem para fins eleitorais, que é o objetivo de todos esses, quem decide: o povo, popularmente chamado de povão. Os mascarados, os black blocs, pesquisas mostram, são repudiados pela imensa maioria, numa quase unanimidade; os demais, desmascarados, vão desde os que atuam no legítimo direito de discordar, encontrados nos partidos da oposição, indo até os que, militando nesses mesmos partidos mas mancomunados com a mídia, esta arauto e defensora dos interesses internacionais do capitalismo, onde no presente predomina o neoliberalismo, travestido no que denominam mercado e seus comprometimentos financeiros e especulativos, que procuram impor ao país suas diretrizes. Compondo tudo e sem nenhuma preocupação mais sofisticada, somente vociferando acusações e portando-se como vestais e donos da moralidade e do patriotismo, as viúvas da ditadura, que serviram ao arbítrio, cevando-se na indústria do anticomunismo, vigentes na guerra fria, cujos pressupostos ainda defendem, saudosos das vantagens que auferiam, todos incrustados nos estamentos militares, policiais e no aparelho de estado como um todo, tendo a secundá-los os partidos e agrupamentos que se autodenominam de esquerda, mas que não passam de grupos de classe média pequeno burguesa, que defendem teses e ações, como pregam para caminhar na direção do Socialismo, através de uma pregação só para si mesmos, sem povo, nem ninguém a escutá-los, mais parecendo aqueles religiosos que brandindo a Bíblia nas praças de grandes cidades, enlouquecidos pregam para ninguém, sem ninguém a lhes dar atenção, brandindo suas bandeiras, sempre também só acusando, com alguma representação nos parlamentos, onde atuam mais como procuradores da oposição, num comportamento de direita. Todos esses desmascarados com ações barulhentas e histriônicas não conseguem os votos para voltar ao poder, em posição que possam impor seus interesses, porque não lhes sobram bandeiras para defender, e atuam no sentido de desconstruir quem esteja no poder, tratados não como adversários, mas inimigos, sem discurso, lhes sobrando como arma somente a mentira e o embuste.

  8. Shit Block ou Brown Block seria o caracterização mais indicada para os neolibelês (provavelmente são pais de integrantes Black Block) da massa cheirosa!

  9. Vandalismo é levar 5 horas para chegar ao trabalho morando
    na mesma cidade. Vandalismo é ter que enfrentar um transporte público caótico e desumano em horário de pico para ir buscar um salário ridículo que não fecha suas contas no final do mês. Vandalismo é você ser expulso de onde vc e sua família moram há dezenas de anos pq vão construir um estádio no lugar e com o
    mercado inflacionado pelo estádio, vc acaba sendo enxotado para kilometros dali que é onde seu dinheiro consegue pagar. Vandalismo é vc morar em um lugar onde vc tenha que ter medo do bandido tanto quanto da polícia, pq ela te oprime tanto quanto o bandido embora vc não seja um. Vandalismo é te enganarem que as
    obras de infraestrutura para a copa vão te ajudar enquanto, na verdade, só vão servir para os turistas que percorrem Hotel-aeroporto-estádio, e não para quem usa todo dia. Vandalismo é ganhar R$ 600,00 por mês e o governo te chamar de classe média e o símbolo de sua ascensão social ser uma TV de 42” ou um carro
    novo financiado. Vandalismo é vc ligar a TV e ver o quanto de dinheiro público é desperdiçado com corrupção, copa do mundo, eventos ridículos, regalias pra políticos enquanto você tem que passar por tudo isso.

    Mas esse tipo de vandalismo não sensibiliza ngm…pq acontece longe, lá no morro – deixe que morram pra lá- agora, quando começam a destruir as coisas na porta da sua casa, aí vc se sensibiliza, pq ta chegando perto..vc fica com medo que tomem suas coisinhas, que atrapalhem o seu trânsito, que sujem sua rua. Aí virou vandalismo e, de repente, esta virou a questão principal. Não importa mais o porquê de eles estarem nas ruas, e sim o que eles estão fazendo. Estão se preocupando com o efeito, e não com a causa.

    Isso tudo é resultado de uma injustiça social e uma
    exploração histórica. Mais polícia na rua não vai mudar isso, vai só calá-los.

    Não são anarquistas, politizados, articulados, pensadores e questionadores da forma de governo. São pobres, humildes, ignorantes, bandidos e revoltados. Oprimidos por 500 anos de exploração que os acuou nas margens das cidades e dos rios, tirando todo o direito a qualquer serviço público de qualidade e a chance de prosperar e depois os culpando por virarem bandidos.

    Eu tenho medo é de um povo que sofre quieto

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *