Manchas de óleo: investigação ‘ideológica’ atrasa identificação da origem

A preocupação doentia em “ideologizar” o derrame de óleo nas praias nordestinas está empacando uma investigação que é necessária – e urgentíssima – para que se possa combater os efeitos terríveis das borras de petróleo.

“O óleo é da Venezuela”, gritava o governo, insinuando que provinha dos poços de petróleo daquele país.

Gastaram-se dias até que verificassem que isso seria impossível, por conta das correntes marítimas e dos ventos dominantes terem a direção inversa.

Mesmo depois disso, ficou-se agarrado à tentar determinar o “certidão de nascimento” do óleo, o que é muito pouco relevante, porque essencial mesmo é saber onde vazou ou foi jogado ao mar, por qual navio e de que forma, para tentar mitigar no possível os efeitos do desastre.

Não me parece que óleo texano matasse menos a fauna marinha.

Hoje, revelaram-se dados da Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, a NOAA (veja o mapa acima) , de que não houve a formação de uma mancha de óleo de grandes proporções nas imagens de satélite, o que sugere uma liberação do óleo em pequenas quantidades e locais diferentes, reduzindo a possibilidade de que seja um transbordo de carga entre dois petroleiros.

A forma de borra pastosa com que o óleo chegou ao litoral também dá sinais de que ele ficou longo tempo no mar, sujeito à ação da água salgada e do sol, o que faz com que se perca parte de seus componentes mais voláteis ou solúveis.

Sobretudo, os barris que chegaram ao litoral, com rótulos perfeitamente legíveis há quase 20 dias. Têm o número do lote absolutamente claro e a Shell, que fabricou o lubrificante que transportavam sabe perfeitamente para quem foram vendidos. Mesmo que tenham sido repassados, vazios, para outra embarcação, são relativamente novos – enchidos em 17 de fevereiro – e não seria nada difícil descobrir seu trajeto.

Mas só ontem o Ibama pediu à Shell informações sobre os barris.

Ainda que não seja deles a maior parte do óleo – o que tem de ser quimicamente avaliado – parte é e coloca sob suspeita uma embarcação que atira tonéis ao mar. É assim que se pode achar, se esta é a fonte, o tal “navio fantasma” que teria originado o vazamento.

A Marinha e a Petrobras têm toda a competência técnica para determinar a origem deste óleo. Mas tudo indica que foram atrapalhadas na sua ação pela necessidade “moriana” de achar um culpado prévio.

O que é mais grave em se tratando de um petróleo “velho”, há muito tempo no mar. Por que de onde ele veio pode haver muito mais.

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