Moreira Leite vai na canela: então vamos dar fuga a Assange!

Brilhante o artigo de Paulo Moreira Leite na Istoé contra o absurdo endeusamento de um irresponsável que não apenas colocou a vida de pessoas em jogo – houve escolta militar na fuga do senador Roger Pinto Molina de nossa embaixada na Bolívia.

Ele vai na canela, como se diz no futebol. O que estariam dizendo se um diplomata equatoriano armasse uma fuga rocambolesca assim para Julian Assange, o criador do site  Wikileaks, há um ano e dois meses refugiado na embaixada daquele país em Londres?

Haveria uma frota da armada de Sua majestade rumando para o Equador, diz Moreira Leite e podem ter certeza de que haveria mesmo. Assim como nenhum jornal estaria endeusando aquele que fizesse isso, mas tratando-o de bandido para baixo.

E, lembra Moreira Leite, o “problema”de Assange é ter reveladodocumentos sobre corrupção e abusos de autoridade e não o de tê-los cometido, como o senador boliviano.

Leiam, é imperdível.

Depois de Molina, Julian Assange

Paulo Moreira Leite

Imagine se um funcionário do governo do Equador organizasse a fuga de Julian Assange da embaixada de Londres para Quito. O governo de David Cameron já teria organizado uma frota para ameaçar o pequeno país sul-americano. O gesto seria considerado uma afronta e um insulto de caráter internacional. Já posso ver autoridades falando em boicote aos produtos do Equador.

Sempre em busca de argumentos para atacar Correa e todos os governantes que podem ser considerados herdeiros de Hugo Chávez, não faltariam colunistas conservadores, no Brasil, para exigir nossa ruptura com aquele país. Ou pelo menos um gesto de agressividade sobre um país de PIB menor do que o nosso — como chamar o embaixador para explicações.

Passando da imaginação para a realidade, foi mais ou menos isso que aconteceu na Bolívia, quando o diplomata Eduardo Sabóia decidiu fugir, clandestinamente, com um senador que se encontrava refugiado na embaixada em La Paz há um ano e meio.

O governo brasileiro tem uma tradição de asilar perseguidos políticos e, apesar de possuir mais de vinte condenações no currículo, existem motivos razoáveis para incluir Roger Molina nessa categoria.

Na última negociação realizada, o governo de Evo Morales concordou em liberar a saída do senador, sem lhe dar o salvo conduto, o que tornaria a saída uma operação arriscada.

Olhando para o caso de uma certa distância, é possível admitir que há prós e contras, em especial quando se encara o problema pelo ângulo humanitário. Vivemos num país que já exilou ditadores de alta periculosidade, como o paraguaio Stroessner.

E é justamente desse ângulo que volto à questão de Julian Assange.

Numa prova de espírito democrático e grandeza política, seria bem oportuno sugerir às mesmas forças que aplaudem a fuga do senador boliviano que reforcem a pressão para que o fundador do Wikileaks possa deixar a Inglaterra para residir em liberdade no país que concordou em lhe dar asilo.

 Claro que a oposição faz isso num esforço óbvio para desgastar o governo. É do jogo.

 Mas vamos combinar que há nobreza em Assange, uma causa que tem ligação direta com a liberdade de expressão e o direito a informação, tão preciosos em tempos de autoritarismo velado e espionagem.

 Comparando um caso com o outro, cabe reparar que os direitos de Assange têm inteiro respaldo pelas tradições internacionais. Sua chegada ao Equador está autorizada pelo governo daquele país, ao contrário do que aconteceu com Roger Molina, que entrou clandestinamente pela fronteira.

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8 respostas

  1. Precisamos extraditar o sujeito antes que ele seja convidado a se filiar ao PSDB.
    “Sabemos que não se deixa um corrupto abandonado na beira da estrada: urge trazê-lo para nosso partido”, teria dito um cacique tucano.

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