Moro na Câmara e os perigos da vaidade

Com as baterias da vaidade carregadas pelos atos de domingo, em que “viu, ouviu e agradeceu” a sua elevação ao lugar de líder messiânico e como seu reingresso na condição de candidato a Presidente – já que a de ministro do Supremo se foi – no caso de algum tropeço pessoal de Jair Bolsonaro, Sérgio Moro vai hoje a uma audiência na Câmara para falar das revelações do The Intercept.

Uma armadilha e tanto para quem quer se colocar na posição de vítima de uma ação criminosa de hackers e de uma conspiração (internacional?).

Como se sairá ao tratar os (muitos) grupos que pediam o fechamento do STF e do Congresso dentro do Congresso que deveria ser fechado? Vejam, ele é o ministro da Justiça, justo o maior responsável no Executivo por operar a harmonia entre os poderes da República.

Vai se ver apertado a fazer uma condenação enfática dos golpistas que foram às ruas lhe dar apoio ou terá uma saída na linha do chefe Bolsonaro, que disse que acima das instituições está seu “patrão”, o povo?

Igual será apertado com as avaliações reveladas pelos diálogoso dos procuradores, criticando sua ida para o Ministério e dizendo que isso conspurcaria a própria Operação Lava Jato. Se à sua tropa Moro não convencia, porque há de querer que a opinião pública não tome sua nomeação como pagamento ou gratidão pelos serviços prestados à eleição de Bolsonaro.

O estoque de temas é farto , fartíssimo.

Como ministro da Justiça, será chamado a dar explicações sobre a carga de cocaína no avião presidencial, sobre a permanência de Marcelo Álvaro Antônio no Ministério do Turismo, mesmo depois de ter sua assessoria presa pela Polícia Federal e sobre sua ausência, apesar de ser o ministro da Segurança Pública, da lambança da proliferação de decretos armamentistas, entre outros.

Novamente Moro está na situação, bem conhecida em juízo, em que falar significa alto risco de produzir provas contra si.

Porque não sabe – ou se sabe, não pode admitir – que provas de sua interferência ilegal no processo contra Lula irão surgir.

Glenn Greenwald, líder da equipe que reporta o vazamento tem se mostrado bastante seguros em afirmar que Moro sabe, mais que ninguém, que elas existem.

 

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

24 respostas

  1. Lava Jato e Inquisição – PARTE IV

    Inimigo e modelo

    Heresia mental
    Por toda a parte, igrejas, capelas, altares, cruzes, imagens de pedra e de pau (…). Todas as casas, crucifixos, rosários, painéis de [santas e santos] (…). Em todo o lado, os símbolos marcavam a obediência e a submissão, como escrevia Bento de Espinosa.
    Não eram só as casas e a vida familiar que os símbolos religiosos marcavam em todos os momentos (…).
    E se uma ovelha se atrasava na confissão e no tributo, logo vinha o meirinho e o juiz eclesiástico abrindo a porta dos aljube dos bispos [antiga cadeia eclesiástica, prisão ou cárcere provisório]. E quando o caso, pela resistência, sobranceria [desdém] ou descrença, parecia mais grave, aí estava a polícia-tribunal da Inquisição. (…)
    Nas festas onde campeava o paganismo dos touros, das chacotas, das comédias, das cavalhadas, o momento solene era o da procissão.
    (…)
    O controle e a repressão não se exerciam somente sobre os atos e as ideias expressas. Perseguiam as ideais mais secretas e recônditas. [A Igreja não julgava apenas atos por meio de provas, mas também a “heresia mental” considerada também heresia e pecado contra Deus.]
    pp.561-563
    Indivíduo e modelo
    (…) o modelo [de indivíduo] apontado pela Inquisição à sociedade portuguesa se definia pela negação do judeu, do moro, dos luteros, dos blasfemos, dos bruxos, dos bígamos, dos solicitantes [tipo de delito: a solicitação de mulheres para “atos torpes” por parte de clérigos durante a confissão sacramental], dos nefandos sodomitas. Ou, pela positiva, o modelo ideal era o do figurino que deveria obedecer o oficial do ofício santo: cristão-velho sem mistura de judeu, mouro, escravo ou qualquer outro recentemente convertido à nossa fé e clérigo.
    Na visão dos ideólogos, os clérigos eram os eleitos, os que tinham o monopólio da interpretação da palavra do Senhor, os que abriam as portas do Céu e da Terra, os que salvavam as almas mesmo quando não quisessem salvar-se. Usavam o preceito de Santo Agostino que considerava legítimo o uso da força para empurrar os condenados para a porta da salvação.
    A primeira condição para a salvação ou a primeira qualidade do modelo, qualidade absolutamente imprescindível, era o pertencer à Lei Católica Apostólica Romana. Dentro dela todos os pecados, mesmo os mais horríveis, tinham perdão. Mas esta qualidade de tinha de ser verdadeira, porque haviam aqueles que eram católicos por fora e judeus por dentro. Por isso havia que inquerir, devassar até o mais íntimo arcano da consciência. [muitos considerados cristãos-velhos dos quatro costados, acabariam na fogueira]
    (…)
    Entre as qualidades morais que deveriam ornar o modelo destacavam-se as virtudes teologais, entre elas a obediência inteira.
    Na sua atividade prática os inquisidores inoculavam no corpo social valores que hoje profundamente condenamos: a intolerância; a prática cotidiana da espionite privada e da denúncia (…); a humilhação (o condenado deveria ajoelhar aos pés do inquisidor para mostrar que sabia a doutrina); a hipocrisia suprema (condenavam à morte mas pediam que os não matasse, era a Lei de Moisés é que era “extinta e mortífera”, o mal não era arder o corpo, pois a alma há muito que ardia no Inferno)
    A prática da humildade, ou melhor, da humilhação, estendia-se aos conventos e naturalmente ao corpo social. (…)
    Estes fabricantes de humilhados e ofendidos apresentavam-se humildemente como o braço vingador de Deus: judica causam tuam [defendei a vossa causa], lia-se na bandeira de Inquisição. E como a causa era a causa de Deus e eles tão-só o seu dócil braço, não podiam enganar-se.
    (…)
    O modelo, como todos os modelos, eram cotidianamente rasgados pelos que judaizavam em segredo, pelos que no seu coração ousavam não ter qualquer lei, pelos blasfemos, pelos bruxos, pelas chacotas e algumas comédias.
    pp.563-565

    Inimigo Social e Ideológico
    O terreno privilegiado dos inquisidores (…) fixava-se nas cidades e vilas. E, socialmente, o inimigo perfilava-se entre a gente dos ofícios [41.7%] e das mercadorias [22%, 15.2% intelectuais, militares e quadros administrativos, 9.2% agricultores e pecuaristas, 2.3% fidalgos e clérigo]. Ideologicamente, os inimigos capitais eram os [supostos] seguidores do judaísmo [89% dos casos de heresia].
    Na verdade quase não há clientes do Santo Ofício recrutados nas aldeias.
    … constituíam na sociedade portuguesa a única força capaz de chegar a oposição a e resistência até o cume do poder político.
    O ódio ao inimigo ideológico, mantido em autentica reserva social, toma formas que poderíamos designar benevolamente de surrealistas. (o ódio ganha formas de abjeção física como aquela que transformava simples hemorroidas em “menstruação” aos judeus do sexo masculino como um castigo, uma maldição).
    pp.565-567

    Inimigo necessário

    O Santo Ofício precisava de inimigo interno. Alimentava-se dele como Saturno que devorava os filhos dia a dia renascidos. A morte do judaísmo seria a sua morte. (…) a Inquisição isolava os cristãos-novos como comunidade e como território de caça, perpetuava-lhes a lembrança da sua origem e fabricava judeus por testemunhos falsos, pela tortura, pelo atar das mãos, por práticas que não desmereciam das de qualquer polícia moderna, dita de investigação.
    Este inimigo interno transformava-se anualmente em carne de sacrifício que se consumava em três praças grandes portuguesas como pão e circo das multidões.
    Em 1629 propuseram os prelados portugueses a expulsão de todos os cristãos-novos (e o confisco de todos os bens e perpétuo cativeiro) mas para os inquisidores o desterro “não é pena mas favor”, além do mais está faltando “gente” e que no fim prestam “serviços mui notáveis”
    A inquisição precisava do inimigo interno, precisava de judeus.
    A extinção da presa, por expulsão ou por liquidação da “reserva” social, significaria a morte do Santo Ofício.
    O clero ocupava hierarquicamente o cume da pirâmide social, dominava o aparelho de Estado, tinha nas mãos uma poderosa polícia-tribunal secreta que dele emanava e onde forjava quadros superiores da hierarquia do Estado.
    Antepassado das modernas polícias, ditas de investigação, o Santo Ofício investigava e julgava secretamente, torturava, devassava dos vivos e dos mortos, não submetia a apelo as suas sentenças, incluídas as de morte, velava com mil ouvidos e mil olhos sobre as cidades e vilas, matando o novo, emperrando com valores caducos, impostos pela força, o movimento social profundo que submergia aqui e ali a ordem teocrática dominante.
    pp.567-569.
    Trechos do livro “Inquisição em Évora – 1533 – 1668? de Antonio Borges Coelho

  2. Se fosse depender de tropeços do chefe, já tinha que ser presidente há uns dezoito meses, apesar da matemática improvável. E quanto a “ouvir o povo” em detrimento da lei, já deixou isso claro quando alegou que era a opinião pública via manchete de jornal que o lastreava.

  3. Moro vai se apresentar com toda a empáfia de quem se considera blindado e de integrante de uma farsa jurídica que enquadra até o STF. Se antes ainda havia a preocupação de passar imparcialidade, depois das revelações da Intercept Moro vai tirando a máscara e assumindo seu papel nesse golpe jurídico. Ele vai continuar tripudiando apesar de todas as evidências.

    .

  4. Moro é UM DELINQUENTE RASO ,é a figurinha que os DONOS DO GOLPE colocaram na vitrine para ser usada.
    Será descaratado ,o processo já começou,alguns ainda trabalham para mante-lo vivo,as sua próprias existências dependen da do fantoche de Maringá ,mas,tudo acaba.
    Assim ,morto o Moro,eles deverão assumir de vez o protagonismo até agora escondido pelas cortinas,ELES OS FARDADOS TERÃO QUE COLOCAR SUAS CARAS PARA FORA .
    O GOVERNO MILITAR DE FATO SE FARÁ PRESENTE.
    OU ALGUÉM AINDA DUVIDA QUE O GOVERNO É DELES????

  5. Em um país minimamente civilizado Moro já estaria na rua, e Lula solto! Aqui é ministro da justiça. Um escárnio!!

    1. É de gente tola e vaidosa assim, como bozo e o augusto general, que o neoliberalismo em vias de extinção no mundo, precisa. Se debate para chupar o máximo de riqueza possível para os seus enquanto dá e vai levando aqui e acolá, empurrando com a barriga, cheio de empáfia. Quando acabar (e é possível no Brasil que só acabe quando todas as riquezas e possibilidades de sua transformação estiverem esgotadas), eles terão gordura para viver sofregamente e cheios de luxos por muitas gerações.

  6. Imagine uma discussão de “conjes” em que um reclama do erro do outro. Eis que acusado diz: “se supostamente fiz isso, peço escusas”.
    Acho que são as desculpas menos sinceras possíveis. Desculpar-se hipoteticamente kkkkk…

  7. ELABORADA ONTEM, A NOTÍCIA PERDEU TEMAS BOMBÁSTICOS…
    PRENDERAM 1 TONELADA DE COCAÍNA BRASILEIRA NO SENEGAL… OU SEJA, GENERAL HELENO DEU AZAR DE NOVO!
    OU SEJA, BRASIL PÓS-PT VIROU NARCO-REPÚBLICA!
    CORRE SERGINHO… O PÓ ESTÁ SE ESPALHANDO AO VENTO!
    MANDA A RAPAZIADA DAS FAAs, DA PULÍSSIA FEDERAUL E DO PCC CUIDAR MELHOR DA EXPORTAÇÃO DA “DA BOA”, POR QUE TÁ FICANDO FEIO!
    AFUUUNDA BRAZZZZIIIL!

  8. Essa “sabatina ” do torquemada araucariano na Câmara Federal será mais um episódio desse teatro de 5ª categoria, feito pelo alto comando do golpe, usando o “interceptador” para distrair a patuléia e manter a esquerda cirandeira passiva, enquanto o desmonte do País, a começar pela Previdência Social, e a entrega das estatais e setores estratégicos aos gringos continua a pleno vapor.

  9. Talvez hoje conheceremos novas palavras do Conje, que entrarão para a crônica política.

    Como será que ele fala inconstitucional? Algo como “incostonal”?

    1. Vamos ver se desta vez ele vai naturalizar os “diágolos” criminosos que teve com procuradores do MPF e delegados da PF, que ele chefiava, como representante-mor da ORCRIM Fraude a Jato..

      Mas não se surpreenda se a sessão parlamentar funcionar como escada para ele e a ORCRIM Fraude a Jato, a exemplo do que foi a do Senado , há pouco mais de uma semana.

    2. O Moro não está indo ao Congresso para responder a perguntas de deputados. Engana-se redondamente quem pensa que ele vai para isso. Ele está indo para aparecer na Rede Globo de Televisão, para falar diretamente com o seu fã-clube. Podem prestar atenção: Ele não estará preocupado em responder nada do que lhe perguntarem, mas apenas em fazer um arranjo em cima de cada pergunta, de maneira que arranque aplausos dos telespectadores moristas. Depois a Globo edita tudo e a trampa continua. Por isso será importante fazer perguntas simples, às quais, se ele se estender, poderá se complicar. Por exemplo: ” O senhor acha importante obedecer à Constituição Brasileira?” “Sim ou não?”.

      1. Algumas táticas de esquiva do Moro:
        Devolver a pergunta com o tema distorcido;
        Colocar palavras na boca de quem pergunta, acusando ser a pessoa contra o combate à corrupção;
        Fingir sentir-se ofendido, recusando-se a responder;
        Trabalhar apenas no mundo das ideias (supostamente), para não se comprometer (típico de advogado).

      2. o que é a imparcialidade do juíz? como deve se manifestar? para que ela serve? como restringe as atitudes do magistrado?

    3. Faltou a pergunta … E o QUEIROZ já foi perdoado tal como o ONIX ? Por isso não descobrem o mandante do assassinato da Marielle ?

  10. Seria bom que o The Intercept publicasse novas revelações antes dessa sabatina do Sejumoro na Câmara dos Deputados. Tiraria o mancebo da sua zona de conforto.

  11. se os deputados se prepararam tanto quanto os senadores, será um passeio do vigarista ideológico a serviço do impe´rio. o golpe é com tudo mesmo, até com alguns que se dizem de esquerda.

  12. Ele, narcicista como é, vê a sua imagem refletida no espelho, mas não vê Queiroz, BR virando rota do narcotráfico pesado, e a si próprio enquanto juiz que cometeu muitos crimes.

  13. O MARRECO VAI CHEIO DE “MORAL”! TOMARA TROPECE NA VAIDADE QUE LHE É PECULIAR. E ACHO QUE VAI.

  14. Se o conje tivesse “as mãos limpas” a primeira atitude seria se afastar sem questionar, entregar o celular e permitir com isso uma apuração séria…. Só o fato de permanecer no cargo, se defender vagamente e não entregar o celular já nos mostra que carrega uma culpa gigante, afinal sem o cargo a verdade viria a tona e ele seria julgado sem os privilégios.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *